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Cresce número de estudantes que trabalham
Entre 1998 e 2008, o percentual de alunos que dividem seu tempo entre emprego e estudo avançou de 63% para 71%
Para consultor, o principal motivo foi a maior inclusão de jovens de renda menor na rede; experiência tem vantagens e desvantagens
Patrícia Araújo/Folha Imagem
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Levino Júnior, que divide seu tempo entre trabalho e faculdade
ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A maratona do estudante de
administração Levino Neves de
Lima Júnior, 23, começa às 6h,
na cidade de São Paulo, quando
acorda e se prepara para o primeiro transporte público do
dia. Às 8h, chega a uma das lojas
onde vende ração para cachorro. Quando o expediente termina, às 18h, segue para a faculdade. Após a aula, toma metrô e
ônibus (para economizar, às
vezes, dispensa o ônibus e vai a
pé) na volta para casa, onde
chega por volta da meia-noite.
Devido ao aumento das matrículas no ensino superior, que
mais do que dobraram nos últimos dez anos, é cada vez mais
comum encontrar estudantes
como Levino nas salas de aula
das universidades brasileiras.
Dados do IBGE, tabulados a
pedido da Folha, revelam que a
proporção de universitários
que trabalham passou de 63%,
em 1998, para 71% em 2008.
Dentro das universidades, o
movimento se reflete na profusão de matrículas em cursos
noturnos, que passaram de
56% a 62% do total entre 2000
e 2008, segundo censo do Inep
(instituto de pesquisa ligado ao
Ministério da Educação).
O fenômeno se deve principalmente à inclusão de alunos
com menor renda nas faculdades nos últimos anos, explica
Ryon Braga, da consultoria Hoper, especializada em ensino
superior. "São pessoas que precisam do emprego para poder
pagar a faculdade", afirma.
Levino é um exemplo: ele será a primeira pessoa de sua família a ter diploma de nível superior. Por outro lado, como
muitos dos novos universitários, ele tem menos tempo para
estudar. Com o dia tomado por
aulas e trabalho, faz as leituras
da faculdade no ônibus, no trajeto entre uma loja e outra.
Amin Ziad Chacra, 27, consultor de vendas, só consegue
pensar nas tarefas do curso depois de trabalhar o dia inteiro,
estudar à noite, responder os e-mails da empresa no começo
da madrugada e dar atenção à
mulher e ao filho pequeno.
Emprego ajuda
Mas se o emprego tira tempo
dos estudos, às vezes, acaba
ajudando. "O trabalho facilita a
participação nas aulas, porque
a gente passa por uma coisa na
rua e vê depois a mesma coisa
na faculdade. Fica mais fácil assimilar", afirma Amin.
Maria de Fátima Guerra de
Souza, professora da Faculdade
de Educação da UnB (Universidade de Brasília), prefere dar
aulas no curso noturno justamente porque a maior parte
dos estudantes trabalha como
professores da educação básica.
"Os alunos chegam mais cansados, mas a diferença é que as
questões que eles trazem para
aula são as que vivem diariamente. A gente não fica conversando sobre hipóteses", afirma.
Para o estudante, outro ganho pode ser a vivência com os
macetes para se relacionar no
mundo do trabalho.
Além do maior interesse dos
alunos, nos últimos anos tem
havido um esforço crescente
das empresas para atrair universitários. Dados do Ciee
(Centro de Integração Empresa-Escola) relativos a 19 Estados mostram que, de 1998 a
2008, o número de estágios no
ensino superior intermediados
pela entidade quadruplicou.
"Para as empresas, o estágio é
fundamental para identificar
talentos e inserir profissionais
que irão trazer coisas novas",
afirma Silvana Rocha, gerente
técnica de estágios do Ciee. Para o aluno, acredita, serve também para comprovar a opção
pelo curso que fizeram.
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