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Juiz não vê racismo e manda soltar jovens
Três estudantes de medicina de Ribeirão Preto são acusados de agredir trabalhador e, logo em seguida, dizer "ô, nêgo"
Ao saber da decisão, homem que acusa os rapazes se disse "revoltado'; ele afirmou, porém, que não pretende processá-los
VERIDIANA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO
Os três estudantes de medicina presos em flagrante anteontem à tarde em Ribeirão
Preto acusados de racismo foram soltos 12 horas depois de
detidos. O juiz Ricardo Braga
Monte Serrat aceitou o pedido
de liberdade provisória apresentado pelos advogados Hélio
Rocha e Carlos Mancini.
Emilio Pechulo Ederson, 20,
Felipe Giron Trevizani, 21, e
Abrahão Afiune Júnior, 19, que
estão no segundo ano do curso
no Centro Universitário Barão
de Mauá, em Ribeirão Preto
(314 km de São Paulo), foram
flagrados por um frentista de
posto e dois vigilantes batendo
com o tapete do carro nas costas de Geraldo Garcia, 55, que ia
de bicicleta ao trabalho, por
volta das 6h de anteontem.
Os universitários foram liberados da delegacia onde estavam após pagarem fianças individuais de R$ 5.580. Eles passaram 12 horas detidos na carceragem de um distrito policial.
Segundo o juiz, a decisão foi
baseada em um acórdão do Superior Tribunal de Justiça que,
ao analisar caso semelhante,
entendeu que os acusados cometeram crime de injúria qualificada, pela conotação racista,
o que, ao contrário do crime de
racismo, é afiançável.
Ao saber da decisão, Garcia
se disse "revoltado". "É muito
triste isso. Quer dizer que a lei
só existe no papel? Só porque
eles têm dinheiro não ficam
presos?" Ele disse que não pretende processar os jovens.
Por causa da força da pancada em suas costas, Garcia conta
que se desequilibrou da bicicleta e caiu no chão. Segundo relato dele e de três testemunhas,
os estudantes vibraram após a
agressão e gritaram "ô, nêgo".
Os advogados dos três estudantes acusados negam a ofensa.
Dúvida
Os três rapazes viajaram com
os pais para suas casas em
Campinas, em Goiânia (GO) e
no Pará. A Folha não localizou
seus familiares ontem.
Para José Vicente, presidente da ONG Afrobras e reitor da
Universidade Zumbi dos Palmares, embora já exista lei que
considera o crime de racismo
hediondo e inafiançável, a punibilidade ainda é baixa.
"A prova utilizada para esse
tipo de crime, na maioria das
vezes, é essencialmente testemunhal. Isso dificulta, porque
a análise da autoridade, policial
ou da Justiça, passa a ser subjetiva. Quer dizer, fica sempre
aquela dúvida: será que a pessoa quis ofender mesmo?", disse o presidente da ONG.
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