São Paulo, terça-feira, 14 de dezembro de 2010

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Hospital atende paciente até no chão

Cheio, abafado e sujo, pronto-socorro do Hospital do Servidor Municipal coloca doentes em macas no corredor

Situação do PS fere ao menos duas resoluções da Anvisa; riscos de infecções aumentam, afirma infectologista


TALITA BEDINELLI
EVANDRO SPINELLI

DE SÃO PAULO

No meio da tarde de ontem, nove macas se enfileiravam no estreito corredor do Hospital do Servidor Público Municipal, no centro de SP. Em seis delas, na área do pronto-socorro, pacientes esperavam leito. Três estavam na área de internação.
Cinco palmos separavam os pés de um doente da cabeça do outro. O paciente deitado na maca ao lado estava distante apenas um braço.
No corredor fechado, sem ventilação, predominava o cheiro de remédio misturado com o de fezes e o de urina.
Em uma maca, um homem erguia o braço e gemia, pedindo ajuda a médicos e enfermeiros que passavam.
Outro, cobria o rosto com as mãos e exibia no antebraço uma ferida exposta. Logo à frente, um idoso tinha a sonda nasogástrica trocada.
Por todo o corredor, havia lixeiras, uma delas suja de sangue. Outra, aberta.
A Folha esteve no hospital ontem e na última quinta-feira, quando presenciou situação bem parecida -havia, inclusive, um paciente deitado em uma maca no chão.
Na área onde ficam os pacientes não havia controle de acesso. Ontem, às 15h30, 20 pessoas estavam em pé no meio dos doentes deitados.
Enfermeiros serviam aos pacientes um pedaço de pão embrulhado em guardanapo e um pote com leite e achocolatado. O lanche dos que dormiam deixava-se no colchão.
"É uma situação horrível. Quando vi fiquei chocado," disse César Ribeiro, 45, cujo pai estava em uma maca.
O pai dele quebrou o fêmur e foi levado para o hospital pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).
Esperou cinco horas por um remédio para a dor.

REFERÊNCIA
O Hospital do Servidor Público Municipal funciona na Aclimação desde 1950.
O pronto-socorro atende, além dos servidores da prefeitura de SP, o público em geral. Muitos deles, moradores de rua da região central.
Tem como missão, diz texto no site da prefeitura, "tornar-se referência em humanização e qualidade na prestação de serviços de saúde".
Ao colocar doente no corredor, sem higiene e com pouca ventilação, o hospital fere ao menos três resoluções da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Segundo o infectologista Juvencio Furtado, situação como a presenciada pela Folha pode aumentar o risco de transmissão de doenças.


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