São Paulo, segunda-feira, 15 de janeiro de 2001

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AMBIENTE
Ministério da Saúde vai realizar exames em 2.000 pessoas da região; mineradora é suspeita de poluir igarapé
Arsênio pode ter contaminado vila no AP

MAURO ALBANO
DA AGÊNCIA DA FOLHA, EM SANTANA (AP)

O Ministério da Saúde vai realizar exames clínicos em 2.000 habitantes do município de Santana (AP) para detectar uma possível contaminação por arsênio -substância tóxica que pode provocar câncer.
O trabalho, previsto para ter início no final deste mês, será realizado pelo Instituto Evandro Chagas (PA) em parceria com as secretarias estaduais da Saúde e do Meio Ambiente do Amapá.
Exames preliminares realizados entre os moradores da Vila do Elesbão, em Santana (município localizado a 22 km de Macapá), apontaram presença de arsênio acima do índice considerado tolerável pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em pelo menos 98 habitantes, em um universo de cem pessoas analisadas.
A Pastoral da Criança da Diocese de Macapá identificou, em parte dos moradores da vila, sintomas de contaminação como manchas na pele, problemas respiratórios e dores de cabeça.

Diagnóstico
"Aquela população vive em condições de saúde muito precárias. Mas um diagnóstico definitivo depende dos novos exames", disse a virologista Elisabeth Santos, do Instituto Evandro Chagas, órgão vinculado à Funasa (Fundação Nacional de Saúde).
Os exames irão abranger, além dos aproximadamente 800 habitantes da vila, mais 1.200 moradores das adjacências da região.
Existe a suspeita de que a contaminação possa ter atingido outras regiões de Santana, além da Vila do Elesbão.
Isso porque o igarapé Elesbão -onde foi detectado nível de arsênio acima do recomendável- deságua no rio Amazonas, que banha outras regiões do município. Cerca de 70 mil pessoas moram em Santana.
"Vamos examinar, de forma mais abrangente, como a contaminação afetou a água, a vegetação e o pescado", declarou Ronaldo Dantas, secretário-adjunto da Saúde do Amapá.
Os moradores da vila vivem em palafitas e utilizam o igarapé para tomar banho e para pescar. A maior parte da comunidade é formada por pescadores.
"Por enquanto, sabemos que houve contaminação do ambiente e da população. Mas só conheceremos a gravidade e a dimensão do problema quando o resultado desses exames estiver em nossas mãos", disse Dantas.
Depois de coletado, o material do exame será encaminhado aos laboratórios do Instituto Evandro Chagas, em Belém (PA).
Especialistas irão viajar até Santana para atender as pessoas que apresentam alteração neurológica ou dermatológica.

Manganês
A Sema (Secretaria do Meio Ambiente do Amapá) responsabiliza a mineradora Icomi (Indústria e Comércio de Minério) pela contaminação ambiental e humana na região.
A empresa manteve uma usina de pelotização de manganês (processo para aglutinar o minério) operando no porto de Santana entre 1972 e 1980 .
Os resíduos do manganês, supostamente contaminados, ficaram depositados em uma bacia próxima à Vila do Elesbão.
"Ao atingir altas temperaturas durante o processo de pelotização, o manganês libera o arsênio", afirmou o secretário estadual do Meio Ambiente, Antônio Sérgio Filocreão.
"Como não havia sistema de impermeabilização adequado, o material envenenou o solo e as águas do igarapé Elesbão", disse Filocreão. "A contaminação vem ocorrendo há décadas."
A Sema multou duas vezes a Icomi, no ano passado. A primeira multa foi de R$ 40 milhões pela contaminação do ambiente. A segunda, de R$ 12 milhões, foi aplicada pelo fato de a empresa ter levado parte do material à Serra do Navio (AP), sem autorização.
As duas ações estão sendo contestadas judicialmente pela mineradora.


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