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AMBIENTE
Ministério da Saúde vai realizar exames em 2.000 pessoas da região; mineradora é suspeita de poluir igarapé
Arsênio pode ter contaminado vila no AP
MAURO ALBANO
DA AGÊNCIA DA FOLHA, EM SANTANA (AP)
O Ministério da Saúde vai realizar exames clínicos em 2.000 habitantes do município de Santana
(AP) para detectar uma possível
contaminação por arsênio
-substância tóxica que pode
provocar câncer.
O trabalho, previsto para ter início no final deste mês, será realizado pelo Instituto Evandro Chagas (PA) em parceria com as secretarias estaduais da Saúde e do
Meio Ambiente do Amapá.
Exames preliminares realizados
entre os moradores da Vila do
Elesbão, em Santana (município
localizado a 22 km de Macapá),
apontaram presença de arsênio
acima do índice considerado tolerável pela OMS (Organização
Mundial da Saúde) em pelo menos 98 habitantes, em um universo de cem pessoas analisadas.
A Pastoral da Criança da Diocese de Macapá identificou, em parte dos moradores da vila, sintomas de contaminação como manchas na pele, problemas respiratórios e dores de cabeça.
Diagnóstico
"Aquela população vive em
condições de saúde muito precárias. Mas um diagnóstico definitivo depende dos novos exames",
disse a virologista Elisabeth Santos, do Instituto Evandro Chagas,
órgão vinculado à Funasa (Fundação Nacional de Saúde).
Os exames irão abranger, além
dos aproximadamente 800 habitantes da vila, mais 1.200 moradores das adjacências da região.
Existe a suspeita de que a contaminação possa ter atingido outras
regiões de Santana, além da Vila
do Elesbão.
Isso porque o igarapé Elesbão
-onde foi detectado nível de arsênio acima do recomendável-
deságua no rio Amazonas, que
banha outras regiões do município. Cerca de 70 mil pessoas moram em Santana.
"Vamos examinar, de forma
mais abrangente, como a contaminação afetou a água, a vegetação e o pescado", declarou Ronaldo Dantas, secretário-adjunto da
Saúde do Amapá.
Os moradores da vila vivem em
palafitas e utilizam o igarapé para
tomar banho e para pescar. A
maior parte da comunidade é formada por pescadores.
"Por enquanto, sabemos que
houve contaminação do ambiente e da população. Mas só conheceremos a gravidade e a dimensão
do problema quando o resultado
desses exames estiver em nossas
mãos", disse Dantas.
Depois de coletado, o material
do exame será encaminhado aos
laboratórios do Instituto Evandro
Chagas, em Belém (PA).
Especialistas irão viajar até Santana para atender as pessoas que
apresentam alteração neurológica
ou dermatológica.
Manganês
A Sema (Secretaria do Meio
Ambiente do Amapá) responsabiliza a mineradora Icomi (Indústria e Comércio de Minério) pela
contaminação ambiental e humana na região.
A empresa manteve uma usina
de pelotização de manganês (processo para aglutinar o minério)
operando no porto de Santana
entre 1972 e 1980 .
Os resíduos do manganês, supostamente contaminados, ficaram depositados em uma bacia
próxima à Vila do Elesbão.
"Ao atingir altas temperaturas
durante o processo de pelotização, o manganês libera o arsênio",
afirmou o secretário estadual do
Meio Ambiente, Antônio Sérgio
Filocreão.
"Como não havia sistema de
impermeabilização adequado, o
material envenenou o solo e as
águas do igarapé Elesbão", disse
Filocreão. "A contaminação vem
ocorrendo há décadas."
A Sema multou duas vezes a
Icomi, no ano passado. A primeira multa foi de R$ 40 milhões pela
contaminação do ambiente. A segunda, de R$ 12 milhões, foi aplicada pelo fato de a empresa ter levado parte do material à Serra do
Navio (AP), sem autorização.
As duas ações estão sendo contestadas judicialmente pela mineradora.
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