São Paulo, segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

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Com a casa já condenada, casal também perde móveis

Moradores devem saber quando e se poderão voltar somente na quarta-feira

Em reunião ocorrida pela manhã, 4 moradores foram informados que suas casas estavam comprometidas e precisariam ser demolidas

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O domingo dos moradores de casas ameaçadas pela cratera começou com uma reunião por volta das 10h, no hotel onde estão hospedados.
Eles foram informados por representantes do Consórcio Via Amarela que técnicos da empresa devem avaliar se é seguro voltar para as casas, e em que prazo. Mas isso só acontecerá depois de quarta-feira.
"Pelo que entendi, estamos em terceiro lugar nas prioridades deles. Primeiro estão os corpos desaparecidos, depois o controle da segurança do local. Aí, sim, eles vão nos dizer o que vai acontecer com nossas casas", diz a restauradora Adriana Azevedo, 41.
A comerciante Itália Pereira, 57, passou mal durante a reunião e foi conduzida para a Santa Casa. "Senti uma coisa ruim no peito. Eles tiveram de me medicar", diz ela, ainda bastante nervosa.
A reunião serviu também para informar a quatro moradores que suas casas estavam definitivamente comprometidas e precisariam ser demolidas.
"Só quero que me paguem o valor justo", avisa o serralheiro Francisco Antônio Bordaz, que, com o desabamento parcial da casa, não teve tempo de salvar alguns pertences.
De acordo com vizinhos e clientes, Bordaz sempre fez o que pôde para evitar sondagens de desapropriação.
"Nossa, ele é muito apegado. Não queria sair dali de jeito nenhum", diz a dona-de-casa Adelaide Videira, 67.
Adelaide conta que ela e seus vizinhos costumavam receber propostas de uma construtora interessada em levantar na região prédios de apartamentos. "Há uns quatro meses, não sei o porquê, eles pararam", conta.
A própria Adelaide mostra-se muito apegada e resiste a deixar sua casa, na rua Capri. "Não tem rachadura nenhuma aqui, pode ver. Quando água voltar, eu venho do hotel", informa ela, enquanto fecha o portão nitidamente empenado.
Ontem à tarde ela esteve na casa "para regar as plantas com o que restou de água na caixa".

Móveis perdidos
Outras três casas, além da de Bordaz, e um estacionamento foram condenados a demolição com o desabamento da linha 4. São, ao todo, 55 imóveis interditados pela Defesa Civil, que realizará hoje uma varredura na região. Duas das demolições já foram feitas, sendo uma a do estacionamento.
Segundo o órgão, é grande a possibilidade de que a maior desses imóveis seja liberada após as vistorias, que devem durar 48 horas. Há, porém, o risco de que novas demolições sejam programadas.
Aqueles que já tiveram a casa condenada, porém, devem perder a maior parte de seus móveis, como cama, geladeira etc. É o caso dos aposentados Irino Clacteu Moreira, 78, e Maria do Carmo Moreira, 72.
Os dois estiveram ontem na casa do número 187 da rua Capri, para retirar os pertences que conseguiram. Muita coisa, porém, será destruída. "Nossa TV grande, que acabamos de comprar, está perdida", lamenta Maria do Carmo.
Eles deixaram a casa carregando sacolas com roupas, quadros e outros objetos pessoais. "É muito triste ter que deixar um lugar em que moramos por 28 anos. É uma mudança muito rápida. Tivemos que deixar vários quadros lá", afirmou ela. Emocionada, ela não conseguiu conter as lágrimas e olhou demoradamente a casa pela última vez. Amanhã, a residência não deve mais estar no local.
Já Nilton Tatxure, 46, dono do estacionamento demolido, lamenta a perda do emprego e, por enquanto, da casa, ainda interditada. "Perdi meu ganha-pão. Espero que o governo pague uma indenização justa. É uma situação desesperadora."


Colaboraram KLEBER TOMAZ e o "Agora"


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