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Obstrução em rio deve causar novas cheias
Lama permanece no fundo do rio; se drenagem não for feita, profundidade pode diminuir, o que facilitaria enchentes
Empresa deve ser obrigada a retirar a argila; mineradora deveria ter feito a limpeza em prazo de 90 dias, no ano passado, o que não ocorreu
ITALO NOGUEIRA
ENVIADO ESPECIAL A MIRAÍ (MG)
Após o despejo de 2 bilhões
de litros de argila, o rio Fubá
demanda cuidados. Miraí preocupa-se com as possíveis conseqüências caso o rio não seja
desassoreado logo, enquanto se
recupera do lamaçal que cobriu
40% da área urbana.
A hipótese mais previsível é o
aumento da ocorrência de
cheias em casos de chuvas.
Grande parte da lama proveniente da barragem da Mineradora Rio Pomba Cataguases
permaneceu no fundo do rio.
Assim, o leito -a profundidade- do rio diminui, facilitando
o transbordo e o avanço sobre
as margens.
A segunda possibilidade,
mais extrema e descartada pelas autoridades que acompanham a evolução do estrago,
trata-se da diminuição da vazão
-quantidade de água- ao longo do curso do rio. Dependendo
do nível do assoreamento
-ainda não calculado pelos
técnicos da Fundação Estadual
de Meio ambiente (Feam)-, a
água poderia ocupar as margens definitivamente, aumentando assim o espelho d'água
-superfície do rio- e, conseqüentemente, a evaporação. No
correr dos cerca de 40 quilômetros de extensão do rio, a vazão
poderia se perder aos poucos. O
que se sabe é que a argila despejada decanta facilmente, permanecendo no curso do rio.
Entre as responsabilidades a
serem impostas à empresa após
o acidente, os técnicos pretendem obrigá-la a desassorear o
rio. Em março do ano passado,
a drenagem do rio em 90 dias
era parte das obrigações a serem cumpridas pela mineradora após o despejo de 400 milhões de litros -um quinto do
volume jorrado este ano- no
Fubá. Segundo a Prefeitura de
Miraí, a intervenção foi feita há
um mês -cerca de seis meses
de atraso. De acordo com o diretor-executivo da Feam, Ilmar
Bastos, isso não foi feito.
"Existe a capacidade do próprio rio se regenerar. Mas não
podemos esperar a natureza fazer este trabalho", afirmou o
presidente do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam),
Paulo Teodoro.
"Não sabemos como é a capacidade de transporte natural
[desta argila] neste rio", apontou a presidente da Superintendência Estadual de Rios e
Lagoas (Serla), Marilene Ramos. O escoamento da argila é
dificultado pela cheia do rio
Muriaé, onde o Fubá desemboca. Com uma forte vazão, o
transbordo do rio que abastece
o Estado do Rio forma uma barragem natural, oferecendo
maior resistência à passagem
da água e da argila.
Diferentemente do ano anterior, quando o acidente ocorreu
próximo ao final do período de
chuvas, a preocupação agora é
que a postergação da drenagem
cause enchentes, já que ainda
restam dois meses para o término do verão.
"Grande parte do que vazou
está no próprio rio Fubá, entre
Miraí e Muriaé. (...) Mas o desassoreamento é uma medida
pós-emergencial", declarou
Bastos. Tanto ele como as outras autoridades envolvidas na
recuperação de Miraí afirmam
que, por enquanto, a prioridade
tem sido o atendimento à população atingida.
Esgoto
Além da argila depositada no
fundo do rio, outro fator que
tem contribuído durante anos
para o assoreamento é o despejo de esgoto. "A população, infelizmente, acaba jogando tudo
no leito do rio", contou Bastos.
O termo de ajuste de conduta
imposto pelo Ministério Público no ano passado apontava
também o repasse de verbas
por parte da empresa para ajudar o município a construir
uma estação de tratamento de
esgoto. Segundo Bastos o repasse foi feito, mas a instalação
não ocorreu.
"O município deveria buscar
recursos para complementar a
construção, o que não deve ter
ocorrido"". A prefeitura afirma
ter pedido ao MP substituir a
estação de esgoto pela instalação de uma rede pluvial para
escoamento da água.
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