São Paulo, quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

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Guilherme, 13, passa em 1º lugar na federal do Paraná

Aprovado em química, garoto aprendeu a ler aos 2 anos e concluiu o ensino médio em 2008

Mãe, que é diarista, chegou a ir a programas de TV para buscar apoio; empresa custeou estudos do menino em um colégio particular

Fabio Riesenberg
Guilherme Cardoso, 13, que foi aprovado em primeiro lugar no curso de química da UFPR

DIMITRI DO VALLE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

Um adolescente de 13 anos, que aprendeu a ler aos dois anos de idade e concluiu a sexta série do ensino fundamental em uma semana, foi o primeiro colocado no vestibular 2009 de química da UFPR (Universidade Federal do Paraná).
Guilherme Cardoso de Souza, de Curitiba, começa a frequentar as aulas em fevereiro. Segundo a universidade, não há restrição de idade para ingressar no curso. O vestibulando só precisa comprovar que terminou o ensino médio -ele concluiu a fase em 2008. Ele será o aluno mais jovem da história da UFPR a entrar na universidade.
Filho de uma diarista e de um motorista, o garoto conseguiu uma bolsa de estudos em uma escola particular.
Guilherme sonha em ser professor de química. Estudar a disciplina, aliás, é um dos principais hobbies do garoto, que diz não gostar muito de "sair de casa" nem de esportes. Ele gosta de assistir TV -"Big Brother" é um de seus programas favoritos- e de navegar na internet. Diz não gostar de literatura. "Dos dez livros de literatura que me foram passados para fazer o vestibular, li dois."
No vestibular, a concorrência era de 5,1 candidatos por vaga. Após fazer as provas, ele nem sequer tinha certeza de que seria aprovado. "Achei que tinha ido bem, mas sempre tem aquele pedacinho de dúvida."
Aos quatro anos, diz ter aprendido sozinho a desenvolver os mesmos cálculos repassados a um aluno de 14 anos, da oitava série. Concluiu em uma semana a sexta série do ensino fundamental após passar por uma série de testes.
A vida escolar do menino, porém, começou com dificuldades. A mãe, a diarista Édina Lopes Cardoso, 44, lembra que se surpreendeu ao procurar ajuda para o desenvolvimento do filho. "Numa escola pública, me disseram que não tinham como ajudar e que era para pôr o meu filho num colégio particular. Mas como, se sou pobre?"
Aos dois anos, o menino começou a apresentar os primeiros sinais de que estava à frente das crianças da mesma idade.
Foi quando a mãe o flagrou lendo em voz alta nomes e preços de produtos estampados em um encarte de supermercado. "Não acreditava no que via. Comecei a procurar ajuda. Fui até em programa de TV para ver se alguém se interessava, mas não apareceu ninguém."
Após muitos contatos, a família soube de uma empresa (BS Colway, fabricante de pneus) que custeava estudos dos melhores alunos da rede pública. Há três anos, o filho foi matriculado no colégio Bom Jesus -uma das instituições mais frequentadas por famílias de classe média alta de Curitiba. Mais tarde, foi indicado a uma instituição particular que trabalha com superdotados.
Guilherme diz ter o "dom de ensinar". "Sempre ajudei meus amigos e primas nas lições de casa", afirma. Ele conta que tinha a casa sempre cheia de interessados em receber aulas de reforço. A mãe sugeriu então que as aulas fossem pagas. "Não veio mais ninguém", diz ele.
A mãe atribui a "um dom de Deus" a facilidade com que o filho acumula conhecimento. "Não tem outra explicação."


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