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Anjo e diabo ilustram campanha
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
A campanha de prevenção à
Aids no Carnaval, realizada pelo
Ministério da Saúde, vai usar este
ano símbolos que lembram anjo e
diabo para representar os "dois
lados da consciência".
Com o slogan "Não importa de
que lado você está. Use camisinha", a campanha está provocando reação da Igreja Católica e de
ONGs (Organizações Não-Governamentais).
A previsão é que 22 milhões de
preservativos sejam distribuídos.
São Paulo receberá pouco mais de
4 milhões. Também serão usados
na campanha um filme para televisão, leques, outdoor, camisetas
e cartazes. A campanha vai custar
R$ 5,2 milhões.
No filme para a tevê, um rapaz
está em uma festa de Carnaval
quando aparece uma garota que
demonstra interesse por ele. O rapaz não sabe se vai conversar com
ela porque não está levando consigo um preservativo.
O diabo tenta convencê-lo a ir
em frente. O anjo, que ganha a
disputa, o convence a ir embora.
"Sempre fazemos uma campanha especial no Carnaval porque
é uma época propícia, mas isso é
apenas parte da nossa campanha
de prevenção", disse o ministro
da Saúde, José Serra.
As campanhas anteriores foram
dirigidas aos caminhoneiros e a
mulheres grávidas para evitar o
que se chama de transmissão vertical, de mãe para filho.
A distribuição de camisinhas,
criticada por organizações católicas, é considerada uma das principais ações do governo.
Este ano, o Ministério da Saúde
comprou 20 milhões de preservativos masculinos e 2 milhões de
femininos. "No tempo que estou
no governo ninguém veio aqui
para reclamar desse trabalho",
disse Serra. O ministro afirmou
que as críticas feitas "não tem nenhuma representatividade".
Desagrado
A campanha de prevenção à
Aids no Carnaval desagradou até
mesmo a setores menos conservadores da Igreja Católica.
O bispo auxiliar da Arquidiocese Metropolitana de Curitiba,
dom Ladislau Biernaski, vice-presidente da CPT (Comissão Pastoral da Terra), disse que a campanha está "totalmente errada" e induz "à permissividade e à promiscuidade".
"O Ministério da Saúde acha
que o Carnaval é permissividade,
que não existe Carnaval sem relações sexuais. Isso pode levar à
destruição de muitas famílias e,
sobretudo, dos jovens, que estão
iniciando a vida achando que
Carnaval é isso."
Para dom Ladislau, "distribuir
camisinha é gastar o dinheiro do
povo de uma maneira que não é
correta".
"Não é que a gente seja contra o
uso da camisinha. Mas cientificamente está provado que esse não
é um método 100% seguro (de
evitar a contaminação pelo HIV).
Então, tem que ser claro", disse o
bispo auxiliar de Curitiba.
Segundo ele, a Igreja Católica
considera o Carnaval "um período de alegria, mas alegria sadia, e
não de abuso".
A chefe da Unidade de Prevenção à Aids do Ministério da Saúde, Rosemeire Munhoz, disse que
as campanhas "sempre vão insistir no uso da camisinha".
"O preservativo é o único método efetivo para evitar a infecção
pelo HIV na relação sexual", afirmou Rosemeire.
A assessoria da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil) informou que a entidade
só vai se pronunciar sobre a campanha do governo federal depois
que ela entrar no ar.
Essa é a mais cara campanha de
prevenção à Aids já lançada pelo
ministério no período de Carnaval -custou R$ 6 milhões, R$ 2
milhões a mais do que no ano
passado.
A campanha ficará no ar até o
dia 27, com uma média de 20 inserções por dia em cada emissora.
Segundo o órgão, a peça publicitária será veiculada nos intervalos dos programas de maior audiência entre as classes C, D e E.
Esses segmentos são o alvo da
campanha, pois a infecção pelo
HIV no Brasil vem crescendo entre as populações de baixa renda e
de baixa escolaridade.
De acordo com o Ministério da
Saúde, entre os casos notificados
no início da epidemia no Brasil,
nos anos 80, cerca de 33% eram
formados por analfabetos ou por
pessoas que não haviam passado
do ensino fundamental -hoje,
eles representam 48% dos infectados pela doença.
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