São Paulo, quinta-feira, 15 de fevereiro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Anjo e diabo ilustram campanha

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

A campanha de prevenção à Aids no Carnaval, realizada pelo Ministério da Saúde, vai usar este ano símbolos que lembram anjo e diabo para representar os "dois lados da consciência".
Com o slogan "Não importa de que lado você está. Use camisinha", a campanha está provocando reação da Igreja Católica e de ONGs (Organizações Não-Governamentais).
A previsão é que 22 milhões de preservativos sejam distribuídos. São Paulo receberá pouco mais de 4 milhões. Também serão usados na campanha um filme para televisão, leques, outdoor, camisetas e cartazes. A campanha vai custar R$ 5,2 milhões.
No filme para a tevê, um rapaz está em uma festa de Carnaval quando aparece uma garota que demonstra interesse por ele. O rapaz não sabe se vai conversar com ela porque não está levando consigo um preservativo.
O diabo tenta convencê-lo a ir em frente. O anjo, que ganha a disputa, o convence a ir embora.
"Sempre fazemos uma campanha especial no Carnaval porque é uma época propícia, mas isso é apenas parte da nossa campanha de prevenção", disse o ministro da Saúde, José Serra.
As campanhas anteriores foram dirigidas aos caminhoneiros e a mulheres grávidas para evitar o que se chama de transmissão vertical, de mãe para filho.
A distribuição de camisinhas, criticada por organizações católicas, é considerada uma das principais ações do governo.
Este ano, o Ministério da Saúde comprou 20 milhões de preservativos masculinos e 2 milhões de femininos. "No tempo que estou no governo ninguém veio aqui para reclamar desse trabalho", disse Serra. O ministro afirmou que as críticas feitas "não tem nenhuma representatividade".

Desagrado
A campanha de prevenção à Aids no Carnaval desagradou até mesmo a setores menos conservadores da Igreja Católica.
O bispo auxiliar da Arquidiocese Metropolitana de Curitiba, dom Ladislau Biernaski, vice-presidente da CPT (Comissão Pastoral da Terra), disse que a campanha está "totalmente errada" e induz "à permissividade e à promiscuidade".
"O Ministério da Saúde acha que o Carnaval é permissividade, que não existe Carnaval sem relações sexuais. Isso pode levar à destruição de muitas famílias e, sobretudo, dos jovens, que estão iniciando a vida achando que Carnaval é isso."
Para dom Ladislau, "distribuir camisinha é gastar o dinheiro do povo de uma maneira que não é correta".
"Não é que a gente seja contra o uso da camisinha. Mas cientificamente está provado que esse não é um método 100% seguro (de evitar a contaminação pelo HIV). Então, tem que ser claro", disse o bispo auxiliar de Curitiba.
Segundo ele, a Igreja Católica considera o Carnaval "um período de alegria, mas alegria sadia, e não de abuso".
A chefe da Unidade de Prevenção à Aids do Ministério da Saúde, Rosemeire Munhoz, disse que as campanhas "sempre vão insistir no uso da camisinha".
"O preservativo é o único método efetivo para evitar a infecção pelo HIV na relação sexual", afirmou Rosemeire.
A assessoria da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) informou que a entidade só vai se pronunciar sobre a campanha do governo federal depois que ela entrar no ar.
Essa é a mais cara campanha de prevenção à Aids já lançada pelo ministério no período de Carnaval -custou R$ 6 milhões, R$ 2 milhões a mais do que no ano passado.
A campanha ficará no ar até o dia 27, com uma média de 20 inserções por dia em cada emissora.
Segundo o órgão, a peça publicitária será veiculada nos intervalos dos programas de maior audiência entre as classes C, D e E.
Esses segmentos são o alvo da campanha, pois a infecção pelo HIV no Brasil vem crescendo entre as populações de baixa renda e de baixa escolaridade.
De acordo com o Ministério da Saúde, entre os casos notificados no início da epidemia no Brasil, nos anos 80, cerca de 33% eram formados por analfabetos ou por pessoas que não haviam passado do ensino fundamental -hoje, eles representam 48% dos infectados pela doença.


Texto Anterior: Aids: Governo pode quebrar patente de remédio
Próximo Texto: Desastre: Herbert já responde a estímulos sonoros e deve ter lucidez em 30 dias
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.