São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2004

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NO SAMBÓDROMO

Desfile deste ano, que começa na sexta-feira, é monotemático e deve abordar os 450 anos de São Paulo

Escolas querem mostrar as faces da cidade

SIMONE IWASSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em duas noites, 16 escolas tentarão se superar no desafio de manter uma unidade temática sem perder a mistura de estilos e criatividade que as diferencia. Em verde e branco, cor de rosa, azul, dourado ou vermelho, começará na sexta-feira, na pista do Sambódromo do Anhembi, o desfile do Carnaval dos 450 anos de fundação da cidade de São Paulo.
Em comum, na criação em torno do aniversário da cidade, os carnavalescos tiveram o olhar para o passado, de onde recolheram idéias e inspirações. Para engendrar o enredo, inseriram a vila colonial, misturaram alegorias dos tempos áureos do café e citaram orgulhosamente a formação do parque industrial no século 20.
Em opções marcadamente culturais, as escolas realçaram a importância dos estrangeiros na formação do que seria a identidade paulistana e, para contar sua história e surpreender o público, todas prometem um elemento inédito, seja em tamanho, tecnologia ou efeitos especiais.
"As escolas modernizaram suas estruturas, estão investindo mais em efeitos cenográficos, em iluminação. Com certeza, teremos um Carnaval com mais infra-estrutura e qualidade", afirma o diretor de Carnaval da Liga das Escolas de Samba de São Paulo, Lourival de Almeida Campos.
Mesmo com toda a produção, serão expostos pelos carros alegóricos e foliões os símbolos mais popularmente associados ao Brasil e a São Paulo: o índio e a natureza, o português colonizador, a São Paulo que nunca pára, a culinária diversificada e um certo ufanismo que costuma estar presente em grandes festas.

Gaviões e as revoluções
Bi-campeã, a Gaviões da Fiel arrecadou R$ 1,5 milhão para cantar e sambar as revoluções paulistanas. Com um carnavalesco acostumado com as apresentações cariocas, Roberto Szaniecki, a escola promete novidades nos carros, que, segundo ele, não fariam feio no tradicional Carnaval do Rio.
Passando pelas revoluções, mas revivendo a história dos imigrantes, a Mocidade Alegre mostrará, em preto e branco, a São Paulo antiga. A evolução do desfile será a própria transformação de uma vila provinciana em metrópole.
Também atenta à história, a Rosas de Ouro usará monumentos para falar sobre São Paulo. Estarão na avenida o Borba Gato, polêmica estátua de Santo Amaro, o monumento do Ipiranga, a arquitetura de Ramos de Azevedo e os marcantes edifícios que se espalham pelos bairros nobres e de negócios da cidade.
Mais focadas em um terreno delimitado, Acadêmicos do Tatuapé, Camisa Verde e Branca, Vai-Vai e Imperador do Ipiranga escolheram seus respectivos bairros como assunto. A primeira, com ajuda de empresários da região, conseguiu R$ 1 milhão para seu desfile, que terá, logo no primeiro carro, um tatu gigante andando em uma floresta- cenário primitivo do território.

Vai-Vai promete polêmica
A Vai-Vai é outra que aposta na história do Bixiga para preencher seus cerca de 60 minutos de show. A imigração italiana e a formação das acolhedoras cantinas serão o destaque do desfile, que, anuncia o carnavalesco Lane Santana, se encerrará com uma polêmica.
A Unidos do Peruche também poderá chocar espíritos mais puritanos, ao levar para o sambódromo mendigos e prostitutas, abrindo um show que salientará as diferenças sociais. Ainda falando sobre exclusão, a Unidos de Vila Maria lembrará a dificuldade de sobrevivência dos que constróem a cidade, mas dela não podem usufruir.
Sozinha em sua escolha, a Barroca Zona Sul vai apresentar ao público um desfile sobre fé, tolerância e sincretismo religioso- sempre apegada à história, contando a chegada das diversas religiões à capital paulista.
Se não faltará história, também não haverá escassez de comida, ao menos nas delimitações do Anhembi. Um trio formado pela Águia de Ouro, X-9 e Acadêmicos do Tucuruvi levará a diversidade gastronômica e a abundância de alimentos para o sambódromo.

Bienal no samba
Já o trio Nenê de Vila Matilde, Leandro de Itaquera e Império da Casa Verde exaltará a cultura e as artes. Última escola a entrar na avenida, a Nenê preparou os carros alegóricos e as fantasias para brilharem com a ajuda do sol no início da manhã. A escola homenageará as Bienais de São Paulo, trazendo as fantasias das alas inspiradas em obras de cada exposição de artes plásticas.
De acordo com o carnavalesco Raul Diniz, serviram como inspiração para as fantasias artistas como Anita Malfatti, Cândido Portinari e Lasar Segall, por exemplo. "Vou falar de uma arte que o povo não tem muito acesso. Vamos ser a última escola, e vamos terminar falando de São Paulo de uma forma bem ampla", diz.



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