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Câmara reduz benefício para crime hediondo
Pelo projeto aprovado ontem, transferência do regime fechado para um mais brando só acontecerá após cumprimento de 40% da pena
Os deputados também aprovaram punição para o uso de celulares pelos presos; propostas ainda precisam
ser votadas pelo Senado
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em meio a palmas e a discursos entusiasmados, a Câmara
dos Deputados aprovou na noite de ontem, em votação simbólica -sem registro nominal de
votos-, dois projetos de lei que
endurecem a legislação penal.
O primeiro dificulta a obtenção da chamada "progressão da
pena" (transferência do regime
fechado de detenção para um
mais brando, como o semi-aberto) para os condenados por
crime hediondo -como seqüestro, estupro, tráfico de
drogas e homicídio qualificado- e terrorismo.
O segundo estabelece punição para o uso de celulares pelos presos. Ambos ainda têm
que passar pelo Senado.
Os dois projetos foram apresentados em 2006, mas a votação só foi retomada por conta
da comoção causada com a
morte do menino João Hélio
Vieites, no Rio de Janeiro.
O garoto de seis anos foi arrastado até a morte, preso ao
cinto de segurança, pelos ladrões que renderam sua mãe
para roubar o carro.
Apesar da comemoração em
plenário, houve críticas ao texto do primeiro dos projetos. Ele
estabelece que os condenados
por crime hediondo só podem
pleitear a progressão caso cumpram pelo menos 40% da pena.
Se forem reincidentes, a exigência sobe para 60%.
Hoje o benefício pode ser
concedido com o cumprimento
de um sexto da pena (17%), caso
haja bom comportamento.
O projeto foi apresentado depois que o STF (Supremo Tribunal Federal), em fevereiro de
2006, reconheceu como inconstitucional a proibição da
progressão de pena para crimes
hediondos, prevista na Lei de
Crimes Hediondos. Para o STF,
a proibição fere o princípio
constitucional da individualização da pena.
A crítica à votação se deu
porque sumiu do projeto aprovado a exigência de um "exame
criminológico" como condição
para a concessão do benefício.
O secretário de Justiça de
São Paulo, Luiz Antonio Guimarães Marrey, estava no Congresso e, mais cedo, comemorava a exigência do exame afirmando que a situação hoje permite a libertação dos "piores
criminosos presos".
"Sabemos que há criminosos
perigosíssimos que nada fazem
de errado dentro da prisão.
Mandam outros fazerem. (...)
Estamos abrindo a porta para a
saída dos piores criminosos
presos neste país. Portanto, a
volta do exame criminológico é
uma necessidade", havia afirmado Marrey.
O líder do PSDB, Antonio
Carlos Pannunzio (SP), diz que
o partido tentará aprovar a exigência nas próximas semanas.
Há ainda um projeto que
também dificulta o benefício da
progressão da pena a todos os
presos -não apenas aos que cometeram crimes hediondos-,
mas a proposta não foi colocada
em votação.
O segundo projeto aprovado
classifica como "falta disciplinar grave" a utilização de telefone celular ou outro meio de
comunicação por um preso.
Essa medida inviabilizaria a
obtenção de benefícios como a
progressão da pena ou o indulto de fim de ano. Funcionários
dos presídios também podem
responder por omissão. Hoje
não existe punição.
Hoje pela manhã a Câmara
vota projeto que dobra a pena
de acusados por formação de
quadrilha (de um a três anos
para dois a seis anos) caso haja
"criança ou adolescente" envolvidos. A atual legislação já
prevê o dobro da pena caso a
quadrilha tenha usado armas.
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