São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2009

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Pai de calouro morto na USP morreu de desgosto, diz viúva

DA REPORTAGEM LOCAL

A esperança de ver condenados os acusados pela morte de seu filho, o estudante Edison Tsung Chi Hsueh, que morreu afogado em uma piscina da USP durante um trote em 1999, não completará dez anos no próximo dia 22 para a mãe dele, a imigrante chinesa Yen Yin Hwa, de 64 anos.
"Perdemos a esperança. Não existe Justiça no Brasil", afirma. Ela atendeu a reportagem da janela de sua casa em uma pacata rua de Santo Amaro (zona sul de SP), a mesma da época da tragédia e onde reside hoje com seus dois outros filhos.
Yen conta que o sentimento de "impunidade" abreviou não só a sua esperança, mas também a vida de seu marido, o engenheiro civil Hsueh Feng Ming, que morreu no ano passado, aos 65 anos. "Ele começou a piorar do coração em 2004. Teve que colocar marcapasso. Foi por causa do desgosto em razão da falta de uma solução para o caso", afirma.
O filho do casal morreu aos 22 anos quando se preparava para entrar no primeiro ano do curso de medicina. Após participar de uma aula inaugural, foi pintado e seguiu com outros calouros e os veteranos para a atlética da USP. Seu corpo foi encontrado no fundo da piscina na manhã seguinte.
Em 2006, o caso foi arquivado pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça), que entendeu que não havia elementos de prova que se mostrassem suficientes para sustentar a acusação de homicídio qualificado imputada pelo Ministério Público. Os réus eram Frederico Carlos Jaña Neto, o Ceará, que disse em vídeo feito em uma festa ter matado Edison, afirmando depois que o fez em tom de brincadeira, Ari de Azevedo Marques Neto, Guilherme Novita Garcia e Luís Eduardo Passarelli Tirico. O arquivamento atendeu a um pedido de habeas corpus feito pela defesa.
Yen conta que guarda mágoas da direção da universidade, a qual considera não ter ajudado a família e também da investigação do caso feita pela polícia. Diz que uma das três fitas de vídeo filmadas durante o trote não foi apresentada.
Ela deixa sua casa diariamente cedo pela manhã e regressa apenas à noite. Trabalha em um bazar, o que, segundo ela, ajuda a não ficar "doente" remoendo o passado.
Frederico Carlos Jaña Neto atende hoje na Clínica de Fraturas de Ortopedia da Mooca, na zona leste. Assim como ele, os outros acusados à época se formaram em medicina pela USP. A Folha os procurou por meio de seus advogados no caso, na clínica da Mooca e no Hospital das Clínicas, sem conseguir contato. (MP)


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