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Má distribuição de querosene derrubou jato, aponta laudo
Documento mostra que avião que caiu em SP decolou com a asa direita mais pesada que a esquerda, o que causou acidente
Combustível migrou de uma asa para outra por conta do acionamento,
acidental ou proposital, da bomba de abastecimento
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL
A distribuição desigual da
quantidade de combustível nos
tanques das asas dianteiras do
Learjet-35A foi determinante
para que a tripulação do jato
perdesse o controle de vôo e
caísse de bico sobre casas, no
dia 4 de novembro de 2007,
matando oito pessoas -dois pilotos e seis moradores- na zona norte de São Paulo.
O laudo do Seripa (Serviço
Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos em São Paulo) irá apontar
que um dos fatores contribuintes para a queda da aeronave foi
justamente o fato de a asa direita ter decolado com mais querosene do que a asa esquerda.
Dez segundos após decolar
da pista do Campo de Marte, o
avião se inclinou à direita, num
ângulo de 90 graus, e caiu. Pelo
plano de vôo, o Learjet deveria
ter feito uma curva à esquerda.
Uma asa ficou mais pesada
que a outra. "Assim, os pilotos
não tiveram mais controle do
avião", disse o tenente-coronel
Ricardo Hein, chefe do Seripa.
A investigação já sabe que o
desbalanceamento ocorreu durante o abastecimento no solo.
Não por erro de quem colocou
querosene nos tanques, mas
pelo acionamento no Learjet
da bomba da asa esquerda, responsável pela transferência de
combustível para a asa direita.
O modelo 35A possui dois
tanques em cada asa, e cada
uma delas recebeu 500 litros de
querosene -28 litros a mais
que o recomendado no manual
do jato. Apesar de a capacidade
total do avião ser de 2.777 litros, por segurança, deve-se
abastecer uma asa por vez com
até 472 litros para que nenhuma pese tanto e sofra fissuras.
A primeira asa a ser abastecida foi a esquerda. Durante três
minutos, 120 litros de querosene foram transferidos dela para
a direita. A asa esquerda decolou com 380 litros e a direita,
abastecida com 500 litros, ganhou cerca de 120 litros e chegou a pelo menos 620 litros.
Os peritos apuram se a bomba continuou a transferir combustível de uma asa para outra.
Alguns dos sons que aparecem na caixa-preta seriam o do
funcionamento da bomba da
asa com o barulho de motores.
Por conta disso, ela foi para o
NTSB (National Transportation Safety Board, agência que
investiga acidentes da aviação
civil nos EUA), em Washington, para outra análise.
O Seripa já sabe, porém, que
alguns procedimentos foram
descumpridos. O piloto Paulo
Montezuma Firmino, 39, e o
co-piloto Alberto Soares Júnior, 24, não usaram o check-list da aeronave. "Há indícios
de erro de fator humano, mas
não só de pilotos", disse o major
Augusto Trindade, chefe da seção de investigação do Seripa.
Na transcrição da conversa
da cabine com a torre de controle, após a identificação de
um problema, Firmino assumiu o controle e pediu o balanceamento do combustível. Neste momento, o co-piloto nota
uma pane e Firmino diz que o
jato está "desbalanceado". Eles
ainda tentaram transferir combustível, mas não houve tempo
hábil e ocorre a queda.
O Seripa ainda apura se o
acionamento de dois comandos
que permitiram o funcionamento da bomba da asa esquerda foi proposital ou acidental. A
investigação trabalha com a hipótese de ter ocorrido alguma
pane na própria bomba.
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