São Paulo, sábado, 15 de março de 2008

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Má distribuição de querosene derrubou jato, aponta laudo

Documento mostra que avião que caiu em SP decolou com a asa direita mais pesada que a esquerda, o que causou acidente

Combustível migrou de uma asa para outra por conta do acionamento, acidental ou proposital, da bomba de abastecimento

KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

A distribuição desigual da quantidade de combustível nos tanques das asas dianteiras do Learjet-35A foi determinante para que a tripulação do jato perdesse o controle de vôo e caísse de bico sobre casas, no dia 4 de novembro de 2007, matando oito pessoas -dois pilotos e seis moradores- na zona norte de São Paulo.
O laudo do Seripa (Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos em São Paulo) irá apontar que um dos fatores contribuintes para a queda da aeronave foi justamente o fato de a asa direita ter decolado com mais querosene do que a asa esquerda.
Dez segundos após decolar da pista do Campo de Marte, o avião se inclinou à direita, num ângulo de 90 graus, e caiu. Pelo plano de vôo, o Learjet deveria ter feito uma curva à esquerda.
Uma asa ficou mais pesada que a outra. "Assim, os pilotos não tiveram mais controle do avião", disse o tenente-coronel Ricardo Hein, chefe do Seripa.
A investigação já sabe que o desbalanceamento ocorreu durante o abastecimento no solo. Não por erro de quem colocou querosene nos tanques, mas pelo acionamento no Learjet da bomba da asa esquerda, responsável pela transferência de combustível para a asa direita.
O modelo 35A possui dois tanques em cada asa, e cada uma delas recebeu 500 litros de querosene -28 litros a mais que o recomendado no manual do jato. Apesar de a capacidade total do avião ser de 2.777 litros, por segurança, deve-se abastecer uma asa por vez com até 472 litros para que nenhuma pese tanto e sofra fissuras.
A primeira asa a ser abastecida foi a esquerda. Durante três minutos, 120 litros de querosene foram transferidos dela para a direita. A asa esquerda decolou com 380 litros e a direita, abastecida com 500 litros, ganhou cerca de 120 litros e chegou a pelo menos 620 litros.
Os peritos apuram se a bomba continuou a transferir combustível de uma asa para outra.
Alguns dos sons que aparecem na caixa-preta seriam o do funcionamento da bomba da asa com o barulho de motores. Por conta disso, ela foi para o NTSB (National Transportation Safety Board, agência que investiga acidentes da aviação civil nos EUA), em Washington, para outra análise.
O Seripa já sabe, porém, que alguns procedimentos foram descumpridos. O piloto Paulo Montezuma Firmino, 39, e o co-piloto Alberto Soares Júnior, 24, não usaram o check-list da aeronave. "Há indícios de erro de fator humano, mas não só de pilotos", disse o major Augusto Trindade, chefe da seção de investigação do Seripa.
Na transcrição da conversa da cabine com a torre de controle, após a identificação de um problema, Firmino assumiu o controle e pediu o balanceamento do combustível. Neste momento, o co-piloto nota uma pane e Firmino diz que o jato está "desbalanceado". Eles ainda tentaram transferir combustível, mas não houve tempo hábil e ocorre a queda.
O Seripa ainda apura se o acionamento de dois comandos que permitiram o funcionamento da bomba da asa esquerda foi proposital ou acidental. A investigação trabalha com a hipótese de ter ocorrido alguma pane na própria bomba.


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