São Paulo, segunda-feira, 15 de março de 2010

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Jovem diz ter sido obrigado a ir à casa de Glauco

Estudante que transportou principal suspeito do crime se apresenta à polícia e afirma que foi ameaçado com uma arma

Segundo seu advogado, ele conhecia há 2 meses Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, acusado de atirar, e fora chamado para uma "balada"


Fred Chalub/Folha Imagem
Felipe Iasi, que dirigia carro na noite do crime, ao sair da delegacia

ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Com um leve sorriso, o estudante Felipe de Oliveira Iasi, 23, se apresentou ontem à Polícia Civil de Osasco. Ele é o motorista do carro que transportou Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, o Cadu, 24, suspeito de assassinar a tiros o cartunista, compositor e líder religioso Glauco Vilas Boas, 53, e seu filho Raoni, 25, na sexta-feira.
Iasi chegou à Delegacia Seccional de Osasco às 16h35 de ontem acompanhado de seu pai e de dois advogados para prestar depoimento sobre a sua participação no crime.
Ao chegar à delegacia, o estudante não falou com jornalistas, mas o advogado Cássio Paoletti disse que seu cliente foi mais uma vítima de Cadu e que ele falava com a polícia mais como testemunha do que como suspeito do crime.
"Ele [Iasi] foi sequestrado. Teve de levar o cidadão [Cadu] sob ameaça de uma arma", disse o advogado, que nega que seu cliente tenha conduzido o suspeito na fuga. "Ele nem sequer ouviu os disparos", disse.
De acordo com Paoletti, Iasi conhece Cadu há cerca de dois meses e foi convidado para ir a "uma balada" na sexta-feira. Eles se encontraram na casa onde Cadu mora com o avô, no bairro de Alto de Pinheiros (zona oeste da capital).
O advogado afirmou que, logo que Cadu entrou no veículo, um Gol, apontou uma arma para Iasi e determinou que fossem direto para a chácara onde Glauco morava, em Osasco, onde funciona também a igreja Céu de Maria, fundada pelo cartunista e baseada nos princípios do Santo Daime.

"Sou Jesus"
Cadu estava afastado há cerca de oito meses da igreja, segundo Paoletti. "Preciso ir a um lugar aí para esclarecer que eu sou Jesus Cristo reencarnado", teria dito Cadu a Iasi, na versão do advogado de Iasi.
Paoletti afirmou que seu cliente presenciou o momento em que Juliana, enteada de Glauco, foi rendida, ainda do lado de fora da chácara, e também viu quando todas as pessoas da família do cartunista foram feitas reféns dentro da casa, sentadas num sofá.
Iasi disse à polícia, segundo o advogado, que Glauco, mesmo sob a mira da arma, tentou acalmar Cadu. De acordo com ele, a discussão havia amenizado, mas recomeçou quando Raoni chegou da faculdade acompanhado por uma mulher.
Nesse momento, Iasi teria aproveitado para fugir com seu carro, chegando a batê-lo num tambor de lixo na rua. Por isso, não teria presenciado o assassinato nem escutado os tiros. De acordo com Paoletti, Iasi não sabe como Cadu deixou o local.
Até então, a versão da polícia, baseada em relatos de testemunhas, era a de que Cadu havia fugido no Gol de Iasi. O delegado Archimedes Cassão Veras Júnior, responsável pela investigação, não falou com a Folha após o depoimento. Mais cedo, havia dito que Cadu e Iasi eram amigos e usuários de drogas.
Paoletti não nega nem confirma que seu cliente seja usuário. "No meu tempo, bebia-se. Hoje, fuma-se maconha. Não me parece que ele [Iasi] pratique nada que exceda a conduta normal de um jovem de hoje."
Até as 20h de ontem, Iasi continuava prestando depoimento. A possibilidade maior era que ele fosse liberado.


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