São Paulo, domingo, 15 de abril de 2001

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CASO SHELL

Moradores vivem em área contaminada no "Recanto Chernobil", em Paulínia

Bairro enfrenta dúvida e preconceito

ANA PAULA MARGARIDO
DA FOLHA CAMPINAS

Sem poder consumir os alimentos produzidos em suas propriedades, proibidos de beber a água do lugar e, em alguns casos, de pisar no solo, os 200 moradores do Recanto dos Pássaros, em Paulínia (126 km de SP), vivem com mais dúvidas do que informações sobre a contaminação por pesticidas que atingiu o bairro.
A frase do pedreiro José Maria do Nascimento, 42, que vive no local há dez anos, reflete o pensamento dos moradores: "Eu não sei. Mas acho que essa contaminação dá câncer, não é?", pergunta, sobre tema ainda polêmico.
A contaminação, provocada pela antiga fábrica da Shell Brasil, mudou a rotina da população. Alguns são alvos de preconceitos, como a estudante R.N., 17. Ela é tratada, pejorativamente, como "a contaminada" na escola.
Outros viram o sonho de sua vida ruir, como é o caso de Luiz Henrique Mancini. Ele tinha uma clínica que recuperava alcoólatras e drogados no bairro, mas faliu depois que as famílias dos recuperandos ficaram sabendo da contaminação e retiraram os pacientes.
Para remediar os problemas enfrentados pelos moradores, a Shell vem agindo discretamente. Compra as frutas e hortaliças produzidas no local e passou a fornecer água potável à população.
Os moradores também recebem um valor médio por quantidade de fruta e hortaliças que seriam consumidos por eles em um mês. ""Estamos estudando a melhor forma de remediar", disse Maria Lucia Pinheiro, vice-presidente da Shell.
Desde fevereiro, os moradores do bairro, rebatizado por eles de "Recanto Chernobil", sabem que o solo e o aquífero locais estão contaminados por drins (produtos usados para fabricação de pesticidas), utilizados na Shell.
Apesar de vir à tona agora, a contaminação remonta às décadas de 70 e 80.
Em 95, a Shell reconheceu a contaminação. Em meio aos apelos da Cetesb para os moradores deixarem de tomar a água e comer os alimentos produzidos no bairro e às recomendações da Shell para as crianças evitarem pisar no solo, há moradores que mantêm a mesma vida.


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