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CASO SHELL
Moradores vivem em área contaminada no "Recanto Chernobil", em Paulínia
Bairro enfrenta dúvida e preconceito
ANA PAULA MARGARIDO
DA FOLHA CAMPINAS
Sem poder consumir os alimentos produzidos em suas propriedades, proibidos de beber a água
do lugar e, em alguns casos, de pisar no solo, os 200 moradores do
Recanto dos Pássaros, em Paulínia (126 km de SP), vivem com
mais dúvidas do que informações
sobre a contaminação por pesticidas que atingiu o bairro.
A frase do pedreiro José Maria
do Nascimento, 42, que vive no
local há dez anos, reflete o pensamento dos moradores: "Eu não
sei. Mas acho que essa contaminação dá câncer, não é?", pergunta, sobre tema ainda polêmico.
A contaminação, provocada pela antiga fábrica da Shell Brasil,
mudou a rotina da população. Alguns são alvos de preconceitos,
como a estudante R.N., 17. Ela é
tratada, pejorativamente, como
"a contaminada" na escola.
Outros viram o sonho de sua vida ruir, como é o caso de Luiz
Henrique Mancini. Ele tinha uma
clínica que recuperava alcoólatras
e drogados no bairro, mas faliu
depois que as famílias dos recuperandos ficaram sabendo da contaminação e retiraram os pacientes.
Para remediar os problemas enfrentados pelos moradores, a
Shell vem agindo discretamente.
Compra as frutas e hortaliças produzidas no local e passou a fornecer água potável à população.
Os moradores também recebem um valor médio por quantidade de fruta e hortaliças que seriam consumidos por eles em um
mês. ""Estamos estudando a melhor forma de remediar", disse
Maria Lucia Pinheiro, vice-presidente da Shell.
Desde fevereiro, os moradores
do bairro, rebatizado por eles de
"Recanto Chernobil", sabem que
o solo e o aquífero locais estão
contaminados por drins (produtos usados para fabricação de pesticidas), utilizados na Shell.
Apesar de vir à tona agora, a
contaminação remonta às décadas de 70 e 80.
Em 95, a Shell reconheceu a
contaminação. Em meio aos apelos da Cetesb para os moradores
deixarem de tomar a água e comer os alimentos produzidos no
bairro e às recomendações da
Shell para as crianças evitarem pisar no solo, há moradores que
mantêm a mesma vida.
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