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EDUCAÇÃO
Questionário mostra que estudantes que dizem ter cor amarela foram 11% dos aprovados no último vestibular
Fuvest comprova a fama dos asiáticos
ANTÔNIO GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Enquanto você está aqui, tem
um japonês estudando". Essa frase, escrita em tom de chacota em
banheiros de escolas, dá uma pista para explicar o ótimo rendimento dos estudantes de origem
asiática em vestibulares.
No último vestibular da Fuvest
-que organiza o vestibular da
USP, Unifesp e da Faculdade de
Ciências Médicas da Santa Casa
de São Paulo-, a taxa de aprovação de quem definiu sua cor como
amarela nos questionários socioeconômicos foi de 11%.
Esse índice é quase o dobro do
dos brancos, que tiveram uma taxa de 6,6% dos candidatos inscritos. O desempenho dos estudantes de origem asiática também é
bem superior ao dos negros e pardos, que aprovaram, respectivamente, 2,6% e 4% dos inscritos.
Esses números são facilmente
comprovados por quem passeia
pelos corredores de faculdades
concorridas como a de Medicina
e a de Odontologia da USP.
Na Odontologia, por exemplo, a
população de origem asiática chamada para a primeira matrícula
representou 19,5% do total. Analisando os dados da região metropolitana de São Paulo, percebe-se
que a presença desses grupos nos
cursos é bem superior que à sua
porcentagem na população.
De acordo com a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostragem de
Domicílio), a população que define sua cor como amarela representa apenas 1,8% do total.
Se a distribuição dos aprovados
em odontologia na Fuvest correspondesse aos habitantes da população de São Paulo, negros e pardos deveriam ocupar cerca de
33% das vagas, enquanto os brancos ficariam com 65%.
Os brancos, no entanto, são
80% dos aprovados, enquanto os
negros e pardos, apenas 5,3%.
Em outras palavras, há em São
Paulo, um número 18 vezes maior
de negros e pardos do que de
quem tem origem asiática. Já entre os aprovados em odontologia
na USP, a situação se inverte: os
que definem sua cor como amarela estão em número 6,5 vezes
maior do que negros e pardos.
Imigrantes
Para especialistas consultados
pela Folha, a explicação para o
bom rendimento dos asiáticos no
vestibular está na cultura dos imigrantes vindos de países como Japão, China e Coréia e nas características da imigração.
"Na fase inicial da imigração japonesa em São Paulo, o grupo sofria discriminação. O investimento na educação foi a forma que se
encontrou para a inserção na sociedade. Foi dessa maneira que
eles conseguiram se integrar",
afirma o psicólogo Francisco Hashimoto, da Faculdade de Ciências
e Letras da Unesp de Assis.
O pesquisador é descendente de
japoneses e fez uma tese de mestrado na Unesp e uma de doutorado na USP sobre a adaptação
desse grupo no Brasil.
Apesar do preconceito, a população de origem asiática conseguiu ter acesso à educação básica
no Brasil, fato que não ocorreu
com a população negra e parda
no processo de formação do país.
Hashimoto afirma que a valorização da educação nas famílias e a
consequente dedicação aos estudos é o que faz a diferença na hora
da disputa por uma vaga.
"O que diferencia os asiáticos
dos demais grupos é a dedicação
aos estudos. Não concordo com a
tese de que haja diferença entre as
etnias, de que uma seja mais capaz do que outra", diz.
Para o historiador Arnaldo Fazoli Filho, autor de livros sobre a
educação no Japão, os japoneses
entendem a educação como mecanismo de ascensão social. "Isso
sempre esteve presente na história daquele país, não é recente."
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