São Paulo, domingo, 15 de abril de 2001

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EDUCAÇÃO

Questionário mostra que estudantes que dizem ter cor amarela foram 11% dos aprovados no último vestibular

Fuvest comprova a fama dos asiáticos

ANTÔNIO GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

"Enquanto você está aqui, tem um japonês estudando". Essa frase, escrita em tom de chacota em banheiros de escolas, dá uma pista para explicar o ótimo rendimento dos estudantes de origem asiática em vestibulares.
No último vestibular da Fuvest -que organiza o vestibular da USP, Unifesp e da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo-, a taxa de aprovação de quem definiu sua cor como amarela nos questionários socioeconômicos foi de 11%.
Esse índice é quase o dobro do dos brancos, que tiveram uma taxa de 6,6% dos candidatos inscritos. O desempenho dos estudantes de origem asiática também é bem superior ao dos negros e pardos, que aprovaram, respectivamente, 2,6% e 4% dos inscritos.
Esses números são facilmente comprovados por quem passeia pelos corredores de faculdades concorridas como a de Medicina e a de Odontologia da USP.
Na Odontologia, por exemplo, a população de origem asiática chamada para a primeira matrícula representou 19,5% do total. Analisando os dados da região metropolitana de São Paulo, percebe-se que a presença desses grupos nos cursos é bem superior que à sua porcentagem na população.
De acordo com a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio), a população que define sua cor como amarela representa apenas 1,8% do total.
Se a distribuição dos aprovados em odontologia na Fuvest correspondesse aos habitantes da população de São Paulo, negros e pardos deveriam ocupar cerca de 33% das vagas, enquanto os brancos ficariam com 65%.
Os brancos, no entanto, são 80% dos aprovados, enquanto os negros e pardos, apenas 5,3%.
Em outras palavras, há em São Paulo, um número 18 vezes maior de negros e pardos do que de quem tem origem asiática. Já entre os aprovados em odontologia na USP, a situação se inverte: os que definem sua cor como amarela estão em número 6,5 vezes maior do que negros e pardos.

Imigrantes
Para especialistas consultados pela Folha, a explicação para o bom rendimento dos asiáticos no vestibular está na cultura dos imigrantes vindos de países como Japão, China e Coréia e nas características da imigração.
"Na fase inicial da imigração japonesa em São Paulo, o grupo sofria discriminação. O investimento na educação foi a forma que se encontrou para a inserção na sociedade. Foi dessa maneira que eles conseguiram se integrar", afirma o psicólogo Francisco Hashimoto, da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Assis.
O pesquisador é descendente de japoneses e fez uma tese de mestrado na Unesp e uma de doutorado na USP sobre a adaptação desse grupo no Brasil.
Apesar do preconceito, a população de origem asiática conseguiu ter acesso à educação básica no Brasil, fato que não ocorreu com a população negra e parda no processo de formação do país.
Hashimoto afirma que a valorização da educação nas famílias e a consequente dedicação aos estudos é o que faz a diferença na hora da disputa por uma vaga.
"O que diferencia os asiáticos dos demais grupos é a dedicação aos estudos. Não concordo com a tese de que haja diferença entre as etnias, de que uma seja mais capaz do que outra", diz.
Para o historiador Arnaldo Fazoli Filho, autor de livros sobre a educação no Japão, os japoneses entendem a educação como mecanismo de ascensão social. "Isso sempre esteve presente na história daquele país, não é recente."


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