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SAÚDE
Laudo da PF aponta violação de envelope de uma das empresas concorrentes; Ministério Público suspeita de ação de cartel
Suposta fraude barra licitação de US$ 36 mi
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
OTÁVIO CABRAL
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
Indícios de fraude fizeram com
que a Justiça Federal suspendesse
uma licitação do Ministério da
Saúde no valor de US$ 36 milhões
para a aquisição de hemoderivados -medicamentos utilizados
no tratamento da hemofilia.
O envelope contendo a proposta de preço de uma das sete empresas concorrentes foi violado,
segundo laudo da Polícia Federal.
Não é possível determinar se a
violação ocorreu no ministério.
Além dos indícios de fraude, há
suspeita de formação de cartel, segundo afirmou o procurador-geral do Ministério Público no Tribunal de Contas da União, Lucas
Furtado. O TCU vai auditar todas
as compras de hemoderivados
feitas pelo governo desde 1996.
A suspeita de cartel é motivada
porque, na atual licitação, iniciada
em 2002, todos os concorrentes
reduziram pelo menos em 41,7%
o preço dos mesmos produtos
vendidos anteriormente.
Ivan Batista Coelho, secretário
de Assuntos Administrativos do
Ministério da Saúde e responsável
pelas licitações, confirmou que os
medicamentos -neste ano vendidos a preços inferiores- são
idênticos aos adquiridos anteriormente. A média de preço do remédio chamado Fator 8 caiu de
US$ 0,41 para US$ 0,23.
Para ter idéia do que isso representa, o governo irá economizar
US$ 31,8 milhões, dinheiro suficiente para construir duas fábricas de hemoderivados e tornar o
Brasil auto-suficiente na produção desse tipo de medicamento.
A Justiça determinou a suspensão da compra após denúncia feita pela empresa Baxter Export
Corporation, uma das sete concorrentes. Seus representantes
alegaram ter recebido um telefonema anônimo no dia 5 de março
passado (um dia antes da abertura dos envelopes contendo a proposta das empresas) informando
sobre a violação feita nos envelopes de pelo menos quatro concorrentes, entre eles a Baxter. As violações teriam acontecido dentro
do Ministério da Saúde.
A pessoa -sempre de forma
anônima- teria informado que a
diferença de preço entre a proposta vencedora e a segunda colocada não superaria US$ 0,010 por
unidade de Fator 8. Chegou a detalhar que a empresa vencedora
levaria o contrato por diferença
de US$ 0,006. No mesmo telefonema, a pessoa teria descrito vários preços de produtos licitados.
No dia 6 de março, a abertura
dos envelopes revelou que a vencedora da concorrência havia sido
a empresa Octapharma AG, realmente por uma diferença de apenas US$ 0,006 em relação à segunda colocada na disputa.
A Procuradoria Geral da República já havia começado a investigar a formação de cartel por parte
das empresas de hemoderivados.
Suspeita-se, no próprio Ministério da Saúde, que a investigação
pode ter sido um dos motivos que
levaram as empresas a diminuir o
valor dos medicamentos, mas não
existem provas disso.
Ontem, no início da noite, a Justiça, a pedido do Ministério da
Saúde, autorizou a execução de
25% do contrato com a empresa
vencedora para garantir o abastecimento dos hemoderivados por
três meses. Como esses medicamentos são de uso contínuo, o desabastecimento poderia provocar
até a morte de usuários.
De acordo com o governo, a outra alternativa seria fazer um aditamento no contrato atual (que
tem preços 41,7% mais elevados)
ou fazer uma compra emergencial de menor quantidade e, possivelmente, com valor mais alto do
que o obtido na licitação.
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