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"Vai acontecer mais e mais", diz mãe de Alana
Edna Ezequiel disse que cobrou o governo quando sua filha foi morta e que teve como resposta a morte do irmão
A dona-de-casa afirma que a violência na favela em que vive aumentou este
ano: "Com certeza. É só sangue, sangue, sangue"
MALU TOLEDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Em menos de 40 dias, a dona-de-casa Edna Ezequiel, 32, teve
suas lágrimas expostas duas vezes nas primeiras páginas dos
jornais. A primeira, depois de
perder a filha Alana Ezequiel,
12, vítima de bala perdida no
morro dos Macacos, em Vila
Isabel, zona norte do Rio, no
mês passado. A segunda, fotografada anteontem, ao lado do
corpo do irmão, Hélio José da
Silva Ezequiel, 25, assassinado
com dois tiros durante a invasão de uma quadrilha na favela.
Ontem, a reportagem tentou,
sem sucesso, entrar em contato
com a secretaria de Segurança.
O irmão de Edna voltava do
hospital, onde a mulher se recuperava do nascimento de um
filho- o casal tem sete.
Ontem, à porta do IML, enquanto aguardava a liberação
do corpo do irmão, Edna deu a
seguinte entrevista à Folha.
FOLHA - Qual foi a sua reação ao
saber do assassinato do seu irmão?
EDNA EZEQUIEL - Eu não tenho
mais palavras pra falar porque
é muita dor. Eu estou ficando
com problemas. Tem hora que
eu não escuto. Eu agora não sei
o que vou fazer na minha vida
com esse novo choque. Eu estava fazendo tantos planos para
divertir meus filhos. Eles estão
muito agressivos depois da
morte da Alana.
FOLHA - A senhora pretende se
mudar?
EDNA - Não tem como. Se eu tivesse dinheiro, sairia de lá. Eu
não tenho mais paz. É uma tragédia atrás da outra. Estou na
mesma casa. Não consigo mexer nas coisas da minha filha.
Meus filhos não querem que eu
durma no quarto. Minha vida
está toda bagunçada, ainda
mais depois desse caso.
FOLHA - A senhora vai continuar
participando de manifestações contra a violência?
EDNA - Se tiver alguém pra ficar com meus filhos, eu vou,
porque as autoridades vão ver o
que estou sofrendo. Eu só participei de uma manifestação.
Falei com o secretário de Segurança [José Mariano Beltrame]
na missa da Alana, quando ele
me disse que ia dar uma resposta. A resposta veio ontem [anteontem]: perdi meu irmão
também. Cadê a segurança?
Não existe e não vai ter. Vai
acontecer mais, mais e mais.
Meu irmão era trabalhador e
morreu assim.
FOLHA - A senhora tem medo que
aconteça de novo?
EDNA - Medo? Eu tenho pavor.
Esse choque que eu levei, eu
não esperava. Achei que ele estivesse no trabalho como todo
dia, mas devido ao estado da
mulher dele, foi ao hospital. E
ela não tem ninguém. Só tinha
ele e a gente.
FOLHA - O que a senhora espera
das autoridades?
EDNA - Espero que elas olhem
mais por quem mora no morro.
A gente vive abandonado. Eles
acham que é cachorro quem vive lá, mas na hora de descer o
morro pra votar, o voto vale. E
se a gente não descer, ainda é
multado. Aí eles não querem
saber se é preto se é branco,
eles querem o voto.
FOLHA - A senhora acha que a situação no morro dos Macacos piorou neste ano?
EDNA - Com certeza. É só sangue, sangue, sangue. Agora é
um inferno. Desde que a Alana
morreu a gente não tem paz.
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