São Paulo, domingo, 15 de abril de 2007

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"Vai acontecer mais e mais", diz mãe de Alana

Edna Ezequiel disse que cobrou o governo quando sua filha foi morta e que teve como resposta a morte do irmão

A dona-de-casa afirma que a violência na favela em que vive aumentou este ano: "Com certeza. É só sangue, sangue, sangue"

MALU TOLEDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Em menos de 40 dias, a dona-de-casa Edna Ezequiel, 32, teve suas lágrimas expostas duas vezes nas primeiras páginas dos jornais. A primeira, depois de perder a filha Alana Ezequiel, 12, vítima de bala perdida no morro dos Macacos, em Vila Isabel, zona norte do Rio, no mês passado. A segunda, fotografada anteontem, ao lado do corpo do irmão, Hélio José da Silva Ezequiel, 25, assassinado com dois tiros durante a invasão de uma quadrilha na favela. Ontem, a reportagem tentou, sem sucesso, entrar em contato com a secretaria de Segurança. O irmão de Edna voltava do hospital, onde a mulher se recuperava do nascimento de um filho- o casal tem sete. Ontem, à porta do IML, enquanto aguardava a liberação do corpo do irmão, Edna deu a seguinte entrevista à Folha.  

FOLHA - Qual foi a sua reação ao saber do assassinato do seu irmão?
EDNA EZEQUIEL
- Eu não tenho mais palavras pra falar porque é muita dor. Eu estou ficando com problemas. Tem hora que eu não escuto. Eu agora não sei o que vou fazer na minha vida com esse novo choque. Eu estava fazendo tantos planos para divertir meus filhos. Eles estão muito agressivos depois da morte da Alana.

FOLHA - A senhora pretende se mudar?
EDNA
- Não tem como. Se eu tivesse dinheiro, sairia de lá. Eu não tenho mais paz. É uma tragédia atrás da outra. Estou na mesma casa. Não consigo mexer nas coisas da minha filha. Meus filhos não querem que eu durma no quarto. Minha vida está toda bagunçada, ainda mais depois desse caso.

FOLHA - A senhora vai continuar participando de manifestações contra a violência?
EDNA
- Se tiver alguém pra ficar com meus filhos, eu vou, porque as autoridades vão ver o que estou sofrendo. Eu só participei de uma manifestação. Falei com o secretário de Segurança [José Mariano Beltrame] na missa da Alana, quando ele me disse que ia dar uma resposta. A resposta veio ontem [anteontem]: perdi meu irmão também. Cadê a segurança? Não existe e não vai ter. Vai acontecer mais, mais e mais. Meu irmão era trabalhador e morreu assim.

FOLHA - A senhora tem medo que aconteça de novo?
EDNA
- Medo? Eu tenho pavor. Esse choque que eu levei, eu não esperava. Achei que ele estivesse no trabalho como todo dia, mas devido ao estado da mulher dele, foi ao hospital. E ela não tem ninguém. Só tinha ele e a gente.

FOLHA - O que a senhora espera das autoridades?
EDNA
- Espero que elas olhem mais por quem mora no morro. A gente vive abandonado. Eles acham que é cachorro quem vive lá, mas na hora de descer o morro pra votar, o voto vale. E se a gente não descer, ainda é multado. Aí eles não querem saber se é preto se é branco, eles querem o voto.

FOLHA - A senhora acha que a situação no morro dos Macacos piorou neste ano?
EDNA
- Com certeza. É só sangue, sangue, sangue. Agora é um inferno. Desde que a Alana morreu a gente não tem paz.


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