São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 2008

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Presídio de Abadía e Beira-Mar é atacado

Grupo fortemente armado, com o apoio de um helicóptero, trocou tiros com agentes da Penitenciária Federal de Campo Grande

Polícia diz que já sabe quem eram os possíveis alvos da ação, que não deixou feridos; para diretor, a operação foi só um teste

RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

Considerada a mais segura do país, a Penitenciária Federal de Campo Grande, onde estão presos como os traficantes Fernandinho Beira-Mar e o colombiano Juan Carlos Abadía, foi atacada, no final da noite de domingo, por um grupo fortemente armado. No momento dos tiros, um helicóptero não identificado sobrevoou as imediações da unidade.
Os agentes penitenciários reagiram e houve troca de tiros. Granadas e bombas de efeito moral foram usadas contra os agressores, que fugiram após cerca de 15 minutos de tiroteio.
Para o Depen (Departamento Penitenciário Nacional), houve uma tentativa frustrada de resgate -a prisão abriga atualmente 155 presos.
A Polícia Federal investiga o caso. Segundo o diretor do Sistema Penitenciário Federal, Wilson Salles Damázio, o serviço de inteligência que atua nos presídios já identificou os possíveis alvos da ação. Ele não mencionou nomes, mas disse acreditar que o ataque tenha sido apenas um "teste de força".
"Por tudo o que vi, me pareceu mais um teste, como se eles dissessem: "Se colar, colou". Mas é claro que a reação dos agentes foi decisiva e impediu que o grupo se aproximasse."
Segundo Damázio, os primeiros disparos foram ouvidos pelos sentinelas das quatro torres de vigilância por volta das 22h05. Pelo menos oito agressores se concentravam em dois pontos, na parte da frente e nos fundos da unidade. Pelo som, os agentes avaliam que uma das armas pode ser um fuzil de uso exclusivo das Forças Armadas.
Os agentes, armados com fuzis, espingardas e pistolas, reagiram. Como o presídio fica em uma área isolada, a falta de iluminação externa dificultava a reação. Cerca de 230 agentes trabalham no presídio, em sistema de revezamento.
Agentes relataram ter ouvido, no momento da fuga, barulho de motocicletas. Uma testemunha disse ter visto um carro estacionado nas imediações da unidade. Os reforços enviados pelas polícias Federal e Militar fizeram varreduras nas imediações, sem sucesso. A Polícia Rodoviária Federal bloqueou as saídas para outros Estados.
Ontem, ao vistoriar a unidade, os agentes descobriram que os agressores haviam rompido uma cerca na parte dos fundos.
O advogado de Beira-Mar e Abadía, Luiz Gustavo Battaglin, negou a possibilidade de participação de seus clientes no atentado ao presídio. Segundo ele, a ação é "incompatível" com o "momento" vivido pelos traficantes. "Ambos estão muito tranqüilos e vêm recebendo notícias positivas da Justiça."
Entre as boas notícias para Beira-Mar, diz o advogado, estaria a possibilidade de transferência para o Rio. Já Abadía, diz o advogado, teria "aceitado bem" tanto a recente condenação -30 anos- quanto a notícia de que o STF (Supremo Tribunal Federal) autorizou sua extradição para os EUA.
Em 19 de janeiro, também durante o turno da noite, outro helicóptero chamou a atenção dos agentes. O episódio ocorreu um dia após a chegada ao presídio dos libaneses Farouk Omairi e Kaled Omairi, ambos condenados a 11 anos e 8 meses por tráfico de drogas.
Apontado em 2006, em relatório do Departamento de Estado dos EUA, como um dos financiadores do partido Hezbollah na região da tríplice fronteira com o Paraguai e a Argentina, Farouk também figura como suspeito de participação no atentado terrorista ocorrido em Buenos Aires, em 1994, na sede da Associação Mutual Israelita Argentina.


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