São Paulo, quarta-feira, 15 de abril de 2009

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WALDIR TRONCOSO PERES (1923-2009)

O dom da oratória do príncipe dos advogados

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

"Verba volant, scripta manent", ouviu Waldir Troncoso Peres numa das últimas entrevistas que concedeu.
Do latim para o português, o que a entrevistadora Luiza Nagib Eluf, procuradora de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo, quis lhe dizer foi: "A palavra voa, a escrita permanece".
Considerado por muitos como o príncipe dos advogados no país, com mais de meio século dedicado à profissão, Waldir dizia acreditar que "o direito se faz da oralidade".
Fácil entender sua posição: advogado formado pela USP em 1947, tinha o "dom da oratória". Para a infelicidade de muitos, como a da procuradora, dizia não gostar de escrever, e não deixou textos.
A entrevista, dada a Luiza para um estudo sobre crimes passionais, foi publicada no livro "A Paixão no Banco dos Réus" (2002). "Quando ele soube do trabalho, me procurou para a entrevista. Parece que ele sentiu a necessidade de deixar um registro."
Para o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, que levou o amigo aos alcoólicos anônimos, fazendo-o parar de beber, Waldir foi o "orador mais brilhante" que ele ouviu. "Eu brincava com ele: "O seu problema é que a gente não sabe se você pensa antes de falar ou se fala antes de pensar". E ele ria."
Por achar que os jurados julgavam com o coração, apelava para o lado emocional em suas defesas "performáticas". Trabalhou em casos de repercussão: defendeu o cantor Lindomar Castilho, que acabou condenado a mais de 12 anos por matar a tiros a mulher num bar em SP, em 1981.
Defendeu ainda o procurador Augusto Carlos Eduardo da Rocha Monteiro Gallo -pai da atriz Maitê Proença, que matou a mulher a facadas e foi absolvido, nos anos 70- e o delegado Sérgio Paranhos Fleury, do Dops, cujo nome ficou associado ao Esquadrão da Morte e à tortura.
"Ele me disse: "Não dá, eu sou das antigas, traição eu não consigo engolir". Ele defendia esses maridos com convicção", lembra Luiza.
Domingo, Waldir morreu aos 85, de insuficiência renal. Teve três filhos e duas netas.

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