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TRÂNSITO
Sem divulgação, prefeitura reduz tolerância dos equipamentos de 20 km/h para 10 km/h acima da velocidade máxima
CET muda radar e quadruplica multas
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
As multas de radares fotográficos em São Paulo chegaram a
quadruplicar após uma mudança
na margem de tolerância dos
equipamentos, determinada pela
CET (Companhia de Engenharia
de Tráfego) no terceiro mês da
gestão Marta Suplicy (PT).
Nas vias onde a sinalização
apontava velocidade máxima de
70 km/h, por exemplo, só eram
registradas as infrações cometidas por veículos acima de 90 km/
h. Na metade de março, essa tolerância, que variava de 15 km/h a
20 km/h, dependendo do limite
máximo anotado nas placas, foi
reduzida para 10 km/h.
A alteração, que não foi divulgada oficialmente, provocou uma
elevação de 310% na quantidade
de infrações detectadas pelos radares móveis -de 14.850, em
abril de 2000, para 60.769, no
mesmo mês deste ano. Nesse período, a quantidade de multas de
radares fixos subiu 230% -de
28.085 para 92.738.
Entre os equipamentos de controle da velocidade, só as lombadas eletrônicas não tiveram alterações na tolerância -seus registros caíram cerca de 6% (de 8.746
para 8.247) de um ano para cá.
A nova margem de 10 km/h
adotada pela CET está dentro dos
limites de erro dos radares fotográficos, de 7 km/h, conforme aferição do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial).
A maioria dos especialistas em
trânsito considera excessiva a tolerância anterior (de 15 km/h a 20
km/h), em vigor desde 1997, mas
condena a atitude de fazer uma
mudança "às escondidas".
"A nova margem não é um problema. Mas uma medida dessas
sem avisar a população pode se
caracterizar como uma arapuca
para aumentar a arrecadação",
diz David Duarte Lima, presidente do Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito, de Brasília.
"A transparência na educação
de trânsito é um dos pilares da lei.
Do contrário, é a tão falada indústria das multas", diz José do Espírito Santo, advogado de Brasília
especialista em direito público.
Ele recomenda que os motoristas
multados recorram à Justiça. "A
prefeitura não pode fazer isso sem
avisar a população. As multas devem ser canceladas."
O presidente da CET, Francisco
Macena, nega que a intenção da
medida seja aumentar a arrecadação. Ele diz que a mudança da
margem de tolerância foi decidida após uma avaliação de técnicos
da companhia, visando reduzir os
acidentes de trânsito.
"Não sei se haveria uma obrigação da prefeitura de divulgar a nova margem. De qualquer forma,
se a intenção não é faturar, mas
reduzir a violência no trânsito, informar os motoristas é sempre
positivo", diz Roberto Scaringella,
presidente do Instituto Nacional
de Segurança no Trânsito, com
sede em São Paulo.
Para Ailton Brasiliense, diretor
da ANTP (Associação Nacional
de Transportes Públicos) e colaborador da prefeitura nas questões de trânsito, a redução da
margem deveria ter acontecido
antes. "Os motoristas já deveriam
estar cumprindo aquilo que está
na sinalização."
Os registros dos equipamentos
fotográficos representam quase
30% das multas de trânsito da
CET. Os motoristas que ultrapassam 20% da velocidade permitida
têm que pagar quase R$ 600 e acumulam sete pontos na carteira.
Pelo artigo 320 do Código de
Trânsito Brasileiro, os municípios
devem gastar 95% da arrecadação
com multas "exclusivamente" em
"sinalização, engenharia de tráfego, de campo, policiamento, fiscalização e educação de trânsito".
Neste ano, a CET deve obter mais
de R$ 400 milhões, mas as despesas diretamente ligadas ao setor
não passarão de R$ 230 milhões.
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