São Paulo, segunda-feira, 15 de maio de 2006

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GUERRA URBANA

Em São Miguel, base da GCM é metralhada em praça lotada

CLÁUDIA COLLUCCI
FERNANDA BASSETTE
CONSTANÇA TATSCH

DA REPORTAGEM LOCAL

14h de ontem. A praça da Vila Mara, em São Miguel Paulista (zona leste), estava lotada. Garotos brincavam na pista de skate, ao lado da minibiblioteca. Várias pessoas circulavam na rua São Gonçalo do Rio das Pedras, onde havia uma feira livre. Na ponta da praça, uma unidade da GCM (Guarda Civil Municipal) com pelo menos oito guardas no interior.
De repente, dois carros, com cinco pessoas em cada um, passaram em alta velocidade e dispararam tiros de metralhadora contra a base da CGM. Dois guardas, um homem e uma mulher, ficam feridos. Os colegas não revidaram em razão do grande número de pessoas que circulavam pelo local.
"Se tivéssemos revidado teria sido uma tragédia", afirma o inspetor-chefe regional da GCM, Rovilson José Laudino. Segundo ele, um dos guardas só não foi morto porque usava colete à prova de balas. "Mesmo assim, ele quebrou as costelas", diz Laudino. A guarda feminina foi baleada na coxa. Ambos estão internados no Hospital Municipal Tide Setubal, mas não correm risco de morte. O caso foi registrado no 22º DP.
Na noite de ontem, o clima na Vila Mara era de silêncio e medo. A pracinha alvo do ataque, que normalmente fica lotada até por volta da meia-noite, estava vazia. Assustadas, as famílias não deixaram os filhos saírem às ruas.
"Passei o dia em Guarulhos e quando cheguei soube do tiroteio. Minha mãe não deixou mais a gente sair de casa", disse uma jovem de 18 anos, atrás das grades do conjunto habitacional Vila Mara, que fica em frente à praça.
A Folha bateu na porta ou apertou a campainha de cinco casas vizinhas, mas apenas um morador atendeu a reportagem. Ele disse que tinha ouvido os tiros, mas preferia não comentar o ataque. "Estamos com muito medo."
O mesmo pavor podia ser visto nos olhos dos quatro guardas municipais, que, armados com submetralhadoras, faziam a segurança da base alvejada à tarde. Eles impediram a aproximação da reportagem da Folha e a aconselharam sair rapidamente do bairro. "Está muito perigoso", disseram.
Perto dali, policiais fortemente armados revistavam os carros que passavam pelas ruas.

Bombeiros
Um suspeito foi morto ontem após troca de tiros com policiais militares em Perus, zona norte de São Paulo. De acordo com a polícia, ele estava com uma granada e pretendia jogá-la contra um posto do Corpo de Bombeiros.
O tiroteio aconteceu às 14h30, depois que a polícia foi avisada por um telefonema anônimo da possibilidade de um ataque na região. Durante patrulhamento, quatro policiais avistaram uma moto suspeita e, segundo a Polícia Militar, foram recebidos com tiros, a 100 metros do Corpo de Bombeiros. O carro da polícia foi acertado duas vezes. Um dos suspeitos fugiu e o outro morreu.
Bombeiros dizem ter visto um homem passar a pé pelo local, olhando detalhadamente o posto. Depois do tiroteio, ele voltou correndo e foi resgatado por uma outra moto. Para a corporação, a dupla estaria vigiando o local, com o objetivo de dar aval para outra dupla realizar o ataque.
Uma granada foi encontrada com o morto, que não portava documentos, mas usava um boné com o símbolo chinês do yin-yang -adotado como escudo da facção PCC.
"Tem um monte de tiros vindo para o seu lado e você não sabe o que vai acontecer. A gente fica pensando nas famílias o dia todo", disse um policial que participou do tiroteio e pediu para não ter o nome divulgado.
Entre os bombeiros, o clima era ainda mais tenso. Atrás dos portões fechados, eles observavam atentamente cada carro que passava diante do posto e temiam o que estaria por vir à noite.
"Os bombeiros não estavam preparados para esse tipo de ataque. A cultura do bombeiro não é de repressão", disse um deles, que também não quis ser identificado. "A gente sente preocupação e revolta", afirmou outro, relembrando a morte de um amigo bombeiro na noite de anteontem, em um ataque no centro de São Paulo.


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