São Paulo, segunda-feira, 15 de maio de 2006

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Moradores de SP tentam sair fora da linha de tiro

DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Dona Renata achou por bem não sair de casa. Eduardo saiu de carro, mas foi parado em duas blitze. Silvio foi dar uma volta à pé com os dois filhos e teve de passar o resto do dia tentando fazê-los esquecer dos policiais armados que encontraram pelo caminho. As cenas que boa parte dos moradores da capital viu neste fim de semana pareciam saídas de um filme de guerra.
Foi assim que os pequenos Cléber, 9, e Lucas, 7, se sentiram quando foram fazer a feira com o pai, o professor Silvio Reis, de 36 anos, na Vila Romana, zona oeste de São Paulo. Ao passarem em frente ao 7º Distrito Policial, que estava todo cercado, viram de pertinho policiais armados na calçada. "O Cléber parou e me disse: "Pai, parece filme de polícia. Eles vão começar a atirar?", me perguntou. Tentei tranqüilizá-los, mas não dava para explicar direito o que estava acontecendo", conta Silvio.
Impressionados, os meninos passaram o dia comentando a cena, até que o pai resolveu ir a uma locadora para alugar um desenho infantil. "Eles não paravam mais de falar naquilo e achei melhor ocupar a cabecinha deles com outra coisa", diz. "Espero que esqueçam o assunto."

Encontro cancelado
A aposentada Renata Gama, 68, não conseguiu esquecer o que tinha visto nos jornais e resolveu não colocar sua segurança em risco. Tinha combinado de encontrar algumas amigas na tarde de ontem, mas cancelou o compromisso. "Não vou sair de casa até essa confusão acabar. A gente nunca sabe onde pode acontecer um tiroteio nesta cidade."
Renata mora perto da rua Itapicuru, em Perdizes, onde fica o 23º DP. Lá os policiais também interditaram a rua em frente à delegacia e só entravam os carros dos moradores. Segundo um policial, que não quis se identificar, ninguém havia aparecido para registrar nenhuma ocorrência ontem.
Vários distritos da capital optaram por fechar seus quarteirões para evitar atentados. Equipes da polícia também fizeram blitze por toda a cidade causando congestionamento em várias vias. O estudante Eduardo Reis, 22, foi parado em duas delas no sábado. "Sei que eles precisam garantir a segurança, mas ser parado duas vezes é muito azar."
A administradora Rafaela Gomes, 32, também saiu de carro mas desviou de todas os carros policiais que encontrou pelo caminho com medo de algum ataque. "Se resolvem metralhar uma viatura ao meu lado, pode sobrar alguma bala para mim. É melhor não correr nenhum risco."
Funcionários de um posto de gasolina em frente ao 11.º Batalhão da Polícia Militar, na rua Vergueiro, Ricardo Moraes, 23, e Adriano Alessandro da Silva, 28, também passaram um fim de semana de medo. "Qualquer barulho a gente já se assusta. Nunca sabemos se pode ser alguma emboscada para os policiais", diz Ricardo. "Além de tudo, ainda quase não tivemos trabalho por aqui. O movimento caiu muito neste fim de semana porque ninguém quer abastecer o carro na frente de um batalhão da polícia."
O 11º batalhão é vizinho do 5º DP, na rua Professor Antônio Prudente. Tanto ela quanto a Vergueiro estavam parcialmente interditadas. Funcionária de um bar do lado oposto da delegacia, Teresa da Silva, 28, era exceção e dizia não estar com medo. "Já me acostumei com a violência. Agora só torço para que essa interdição acabe logo, senão vai prejudicar o bar", afirmava. "Esse clima de filme de guerra não é nada bom para os negócios."


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