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Moradores de SP tentam sair fora da linha de tiro
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Dona Renata achou por bem
não sair de casa. Eduardo saiu de
carro, mas foi parado em duas
blitze. Silvio foi dar uma volta à pé
com os dois filhos e teve de passar
o resto do dia tentando fazê-los
esquecer dos policiais armados
que encontraram pelo caminho.
As cenas que boa parte dos moradores da capital viu neste fim de
semana pareciam saídas de um
filme de guerra.
Foi assim que os pequenos Cléber, 9, e Lucas, 7, se sentiram
quando foram fazer a feira com o
pai, o professor Silvio Reis, de 36
anos, na Vila Romana, zona oeste
de São Paulo. Ao passarem em
frente ao 7º Distrito Policial, que
estava todo cercado, viram de
pertinho policiais armados na calçada. "O Cléber parou e me disse:
"Pai, parece filme de polícia. Eles
vão começar a atirar?", me perguntou. Tentei tranqüilizá-los,
mas não dava para explicar direito o que estava acontecendo",
conta Silvio.
Impressionados, os meninos
passaram o dia comentando a cena, até que o pai resolveu ir a uma
locadora para alugar um desenho
infantil. "Eles não paravam mais
de falar naquilo e achei melhor
ocupar a cabecinha deles com outra coisa", diz. "Espero que esqueçam o assunto."
Encontro cancelado
A aposentada Renata Gama, 68,
não conseguiu esquecer o que tinha visto nos jornais e resolveu
não colocar sua segurança em risco. Tinha combinado de encontrar algumas amigas na tarde de
ontem, mas cancelou o compromisso. "Não vou sair de casa até
essa confusão acabar. A gente
nunca sabe onde pode acontecer
um tiroteio nesta cidade."
Renata mora perto da rua Itapicuru, em Perdizes, onde fica o 23º
DP. Lá os policiais também interditaram a rua em frente à delegacia e só entravam os carros dos
moradores. Segundo um policial,
que não quis se identificar, ninguém havia aparecido para registrar nenhuma ocorrência ontem.
Vários distritos da capital optaram por fechar seus quarteirões
para evitar atentados. Equipes da
polícia também fizeram blitze por
toda a cidade causando congestionamento em várias vias. O estudante Eduardo Reis, 22, foi parado em duas delas no sábado.
"Sei que eles precisam garantir a
segurança, mas ser parado duas
vezes é muito azar."
A administradora Rafaela Gomes, 32, também saiu de carro
mas desviou de todas os carros
policiais que encontrou pelo caminho com medo de algum ataque. "Se resolvem metralhar uma
viatura ao meu lado, pode sobrar
alguma bala para mim. É melhor
não correr nenhum risco."
Funcionários de um posto de
gasolina em frente ao 11.º Batalhão da Polícia Militar, na rua
Vergueiro, Ricardo Moraes, 23, e
Adriano Alessandro da Silva, 28,
também passaram um fim de semana de medo. "Qualquer barulho a gente já se assusta. Nunca sabemos se pode ser alguma emboscada para os policiais", diz Ricardo. "Além de tudo, ainda quase não tivemos trabalho por aqui.
O movimento caiu muito neste
fim de semana porque ninguém
quer abastecer o carro na frente
de um batalhão da polícia."
O 11º batalhão é vizinho do 5º
DP, na rua Professor Antônio
Prudente. Tanto ela quanto a Vergueiro estavam parcialmente interditadas. Funcionária de um bar
do lado oposto da delegacia, Teresa da Silva, 28, era exceção e dizia
não estar com medo. "Já me acostumei com a violência. Agora só
torço para que essa interdição
acabe logo, senão vai prejudicar o
bar", afirmava. "Esse clima de filme de guerra não é nada bom para os negócios."
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