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GUERRA URBANA
Casal de agentes penitenciários foi executado na lanchonete do filho; em outra ação, policial de folga e namorada foram mortos
Temor e indignação marcam enterros
LUÍSA BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Mesmo afastados do trabalho
por licença médica, o casal de
agentes penitenciários Amauri
Bonilha, 49, e Cecília Maria da Silva, 43, não escapou da onda de
ataques lideradas pelo PCC no Estado de São Paulo.
O casal, que foi enterrado ontem no cemitério Araçá (zona
oeste da capital), foi atingido a tiros na lanchonete do filho de Bonilha, na Vila Maria (zona norte),
na sexta-feira. Segundo parentes,
dois homens entraram no local
por volta das 23h atirando. Uma
terceira pessoa ficou ferida.
O irmão de Bonilha, Antonio
Tadeu, 51, disse
ontem no enterro
que não sabia de
ameaças recentes
feitas a Bonilha,
mas acredita que
ele e a esposa eram
o alvo do ataques
por terem sido os
únicos mortos na
lanchonete.
A família diz que
o crime os deixou
amedrontados,
principalmente
porque há outros
três parentes que
são agentes penitenciários. "Quem
não tem medo?
Mas o que posso
tomar de precaução? Não ganhamos tanto para mudarmos de casa", afirmou. Segundo o irmão,
Bonilha gostava do trabalho e
chegou até a ser diretor de pavilhão. Ele atuava havia 26 anos no
sistema e foi de várias penitenciárias, entre elas a Casa de Detenção
do Carandiru, onde chegou a ser
feito refém em algumas rebeliões,
mas não sofreu ferimentos graves.
O casal deixou órfã uma adolescente de 13 anos. Segundo o tio,
ela agora deve ir morar com uma
irmã da parte da mãe. Bonilha tinha outros três filhos (24, 22 e 20
anos) e dois netos.
Policial
No enterro do policial civil Paulo José da Silva, 35, o clima era de
tristeza e indignação. Silva foi metralhado com 15 tiros, segundo
sua irmã. Ele estava fora de serviço e foi atingido no carro, junto
com a namorada, a balconista Daniela de Souza Mendes, 23, que
também morreu, na zona sul de
São Paulo. Os dois namoravam há
cerca de um ano. O casal foi assassinado quando levava parentes de
uma vizinha morta até o hospital.
Muito abalada, a mãe do policial
Maria Bernardo da Silva, 60, chegou a ser tirada de junto do caixão
pelos parentes. "Meu pai [Deus],
levaram meu filho, que dor no
meu coração", falava ela, debruçada sobre o caixão do filho.
Silva foi enterrado no Mausoléu
da Polícia Civil, no cemitério de
Campo Grande (zona sul). Quando o corpo chegou ao local, foi
saudado com uma salva de tiros
disparados por colegas. O rito é
tradicional em enterros de policiais mortos de
forma violenta.
Os dois filhos de
Silva, de cinco e
um ano, estavam
presentes. O mais
velho chorou durante todo o tempo. "Ele era muito
apegado ao pai",
disse a ex-namorada do policial,
Andreia Aparecido, 24, que é mãe
da filha mais nova
de Silva. Segundo
ela, o policial era
um pai atencioso
e costumava visitar a filha nos finais de semana de
folga. Andreia disse que Silva era
muito brincalhão, tinha bastante
amigos e gostava de sair à noite. O
policial gostava do que fazia e
queria ser delegado.
Demonstrando indignação, a irmã do policial, a enfermeira Célia
Maria Parra, 41, criticou as entidades de direitos humanos e o governo do Estado. "Cadê os direitos humanos para consolar a família? Eles só consolam os bandidos", disse. "Você não pode mais
sair na rua. Nossos dirigentes deveriam ter vergonha na cara por
tudo isso. Eu sei que falar não vai
trazer meu irmão de volta, mas
acho importante [falar] porque
não quero que isso aconteça com
outras famílias", acrescentou Célia Parra.
A família de Daniela, namorada
de Silva, evitou falar com os jornalistas. A moça também foi enterrada na manhã de ontem, só que
em um cemitério na zona sul.
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