São Paulo, segunda-feira, 15 de maio de 2006

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GUERRA URBANA

Casal de agentes penitenciários foi executado na lanchonete do filho; em outra ação, policial de folga e namorada foram mortos

Temor e indignação marcam enterros

LUÍSA BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL


Mesmo afastados do trabalho por licença médica, o casal de agentes penitenciários Amauri Bonilha, 49, e Cecília Maria da Silva, 43, não escapou da onda de ataques lideradas pelo PCC no Estado de São Paulo.
O casal, que foi enterrado ontem no cemitério Araçá (zona oeste da capital), foi atingido a tiros na lanchonete do filho de Bonilha, na Vila Maria (zona norte), na sexta-feira. Segundo parentes, dois homens entraram no local por volta das 23h atirando. Uma terceira pessoa ficou ferida.
O irmão de Bonilha, Antonio Tadeu, 51, disse ontem no enterro que não sabia de ameaças recentes feitas a Bonilha, mas acredita que ele e a esposa eram o alvo do ataques por terem sido os únicos mortos na lanchonete.
A família diz que o crime os deixou amedrontados, principalmente porque há outros três parentes que são agentes penitenciários. "Quem não tem medo? Mas o que posso tomar de precaução? Não ganhamos tanto para mudarmos de casa", afirmou. Segundo o irmão, Bonilha gostava do trabalho e chegou até a ser diretor de pavilhão. Ele atuava havia 26 anos no sistema e foi de várias penitenciárias, entre elas a Casa de Detenção do Carandiru, onde chegou a ser feito refém em algumas rebeliões, mas não sofreu ferimentos graves.
O casal deixou órfã uma adolescente de 13 anos. Segundo o tio, ela agora deve ir morar com uma irmã da parte da mãe. Bonilha tinha outros três filhos (24, 22 e 20 anos) e dois netos.

Policial
No enterro do policial civil Paulo José da Silva, 35, o clima era de tristeza e indignação. Silva foi metralhado com 15 tiros, segundo sua irmã. Ele estava fora de serviço e foi atingido no carro, junto com a namorada, a balconista Daniela de Souza Mendes, 23, que também morreu, na zona sul de São Paulo. Os dois namoravam há cerca de um ano. O casal foi assassinado quando levava parentes de uma vizinha morta até o hospital.
Muito abalada, a mãe do policial Maria Bernardo da Silva, 60, chegou a ser tirada de junto do caixão pelos parentes. "Meu pai [Deus], levaram meu filho, que dor no meu coração", falava ela, debruçada sobre o caixão do filho.
Silva foi enterrado no Mausoléu da Polícia Civil, no cemitério de Campo Grande (zona sul). Quando o corpo chegou ao local, foi saudado com uma salva de tiros disparados por colegas. O rito é tradicional em enterros de policiais mortos de forma violenta.
Os dois filhos de Silva, de cinco e um ano, estavam presentes. O mais velho chorou durante todo o tempo. "Ele era muito apegado ao pai", disse a ex-namorada do policial, Andreia Aparecido, 24, que é mãe da filha mais nova de Silva. Segundo ela, o policial era um pai atencioso e costumava visitar a filha nos finais de semana de folga. Andreia disse que Silva era muito brincalhão, tinha bastante amigos e gostava de sair à noite. O policial gostava do que fazia e queria ser delegado.
Demonstrando indignação, a irmã do policial, a enfermeira Célia Maria Parra, 41, criticou as entidades de direitos humanos e o governo do Estado. "Cadê os direitos humanos para consolar a família? Eles só consolam os bandidos", disse. "Você não pode mais sair na rua. Nossos dirigentes deveriam ter vergonha na cara por tudo isso. Eu sei que falar não vai trazer meu irmão de volta, mas acho importante [falar] porque não quero que isso aconteça com outras famílias", acrescentou Célia Parra.
A família de Daniela, namorada de Silva, evitou falar com os jornalistas. A moça também foi enterrada na manhã de ontem, só que em um cemitério na zona sul.


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