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"Centralizar polícia foi crucial na Colômbia", diz general
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
O general Óscar Naranjo, diretor da Polícia Judicial da Colômbia, está há 30 anos na Polícia Nacional de seu país. Nos últimos 20,
ele esteve em todas as operações
que desbarataram alguns dos
maiores cartéis de droga no mundo, como o de Medellín.
Apesar de as guerrilhas das Farc
(Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e dos paramilitares ainda fazerem daquele país
um dos mais violentos do mundo,
Bogotá conseguiu derrotar os
grandes cartéis, que produziam
atentados e desafiavam a polícia
colombiana -ao estilo do que
promove agora a facção criminosa PCC. Naranjo explicou à Folha
como Justiça, forças especiais e
uma presença mais forte nas favelas foram decisivas.
Folha - O combate às drogas é totalmente centralizado?
Óscar Naranjo - Não temos polícias locais. Para combater o narcotráfico, é uma vantagem. Polícias locais são muito frágeis diante do crime organizado porque os
policiais e suas famílias têm muito
a perder se vivem no mesmo lugar
onde moram os traficantes.
A seleção também é importante.
Precisa ser força de elite. Usamos
forças de inteligência, respaldadas
por pequenos comandos para a
captura. Usamos até detector de
mentiras e acompanhamos o rendimento de cada policial.
A queda da criminalidade é reflexo dessas mudanças. Cada comunidade precisa ter polícia ali.
Hoje temos 130 mil efetivos, 32
mil a mais do que há três anos. Em
2002, houve 28 mil homicídios na
Colômbia. No ano passado, foram 18 mil. É muito ainda, mas foi
uma recuperação formidável.
Folha - Quais foram as medidas
mais bem-sucedidas?
Naranjo - Foi criada uma jurisdição especial só para julgar os traficantes, com "juízes sem rosto",
como ocorreu no direito penal
italiano para julgar a Máfia. Não
consta do processo a identidade
do juiz para que não seja objeto de
ameaças, intimidação ou morte.
As equipes de inteligência foram
fortalecidas. Também criamos os
Corpos Especiais Armados, uma
força de elite policial. Fazíamos
"blocos de busca" para perseguir
os cabeças dos cartéis.
Por último, o governo nomeou
uma "secretária presidencial" para cuidar exclusivamente das favelas de Medellín. María Emma
Mejía era responsável por criar
políticas sociais para as favelas,
com novas escolas, centros de
saúde e convivência. Mejía virou
chanceler do país depois. Ela tinha a responsabilidade política de
recuperar a confiança no Estado.
Folha - Como são essas forças?
Naranjo - Um corpo de policiais
muito qualificado, especializados
em inteligência e operações urbanas. Eles só operam em grupo, no
mínimo 30 homens. Nunca patrulhas pequenas. Com alta capacidade de mobilização, só em carros blindados, coletes antibalas
para fazer operações em profundidade nessas favelas. Temos instrutores americanos e britânicos.
Folha - Mas eles não eram recebidos à bala na entrada das favelas?
Naranjo - Sim, mas não pode haver terrenos vedados ao Estado.
Os ataques à polícia visam criar
uma nova frente de atenção pública e institucional. Há interesse
para deslegitimizar toda a ação do
Estado. Temos que resistir a isso.
Sempre que se extraditava um
chefão para os EUA, eles atacavam a polícia. Pablo Escobar decretou guerra para conter os processos de extradição. Houve atentados contra juízes, policiais, prédios públicos. Mais de 500 policiais foram mortos em Medellín
em 14 meses, entre 1990 e 1991.
Folha - Aqui os chefões continuam a dar ordens da prisão. Como
foi feito esse isolamento?
Naranjo - A extradição para os
EUA funcionou. Há sete anos, foram criadas duas cadeias de altíssima segurança, para 1.500 prisioneiros cada uma, só para terroristas e narcotraficantes. Essas prisões não estão em centros urbanos. Foram construídas em zonas
isoladas e têm disciplina especial.
Todos usam uniformes, é proibida a circulação de dinheiro. Visitas, só de parentes e advogados.
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