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Comerciante lutou com ladrão dentro de DP
Nadir Tarosso, 52, agarrou criminoso que lhe tomou a bolsa e só desistiu depois de ver que havia outro bandido armado
Na hora do crime, havia na delegacia uma atendente e dois policiais, que imaginaram se tratar de uma briga de casal
RICARDO GALLO
ENVIADO ESPECIAL A SALTO
Um ladrão puxa a bolsa de
uma mulher. Ela resiste. Ele insiste. Ela grita e arremessa a
bolsa longe. O criminoso corre
para pegá-la. A mulher agarra o
braço do ladrão e só desiste ao
ver outro bandido, armado.
A comerciante Nadir Aparecida Tarosso, 52, não estava em
uma praça nem em uma rua deserta. Foi assaltada enquanto
esperava para registrar um boletim de ocorrência. Dentro de
uma delegacia de polícia.
O crime ocorreu por volta
das 15h30 de anteontem, em
Salto, cidade de 110 mil habitantes a 101 km de São Paulo.
Os ladrões roubaram R$ 13,5
mil de Nadir e fugiram. Havia
uma atendente e dois policiais
na delegacia na hora do crime.
Eles imaginaram inicialmente
tratar-se de uma briga de casal.
Ontem, um contingente de
60 policiais procurava os criminosos em Salto e região. Prendê-los é "questão de honra",
disse o delegado seccional André Moron. Até as 20h30, nada.
Nadir havia decidido ir à delegacia quase por acaso -levava o filho a um posto de saúde
vizinho. No DP, queria registrar que seu celular fora clonado. Antes, passou no Itaú e sacou R$ 15 mil, de "herança".
Parou depois na Caixa de Itu
para pagar uma dívida de
R$ 2.050. Ficou com R$ 13 mil,
mais R$ 500 que já carregava.
Havia uma pessoa na frente
quando chegou à delegacia. Foi
quando foi abordada por um
dos ladrões. A polícia disse
acreditar que os criminosos a
seguiam desde a ida aos bancos.
Atendente do DP, Lilian Santos, 20, acompanhou toda a cena. Viu o criminoso pular o balcão para pegar a bolsa que Nadir arremessara na tentativa de
evitar o roubo. Desarmada e assustada, a garota disse: "Não tive reação. Vi um homem do lado de fora apontando uma arma para mim".
Lilian disse ser funcionária
da associação local dos despachantes e atua na delegacia como auxiliar administrativa. Ganha R$ 765 mensais. O seccional deu outra versão: disse que
ela é funcionária da prefeitura.
Dois policiais que estavam
dentro da delegacia correram
ao ver Nadir gritar. Mas já era
tarde. "Não dava para saber que
era assalto", disse Valéria Nascimento, 40, carcereira que faz
as vezes de escrivã. Só deu para
perceber o crime quando Nadir
gritou que havia sido roubada,
afirmou. Até então, ela e o escrivão Carlos Fontolan, 48, disseram pensar ser briga de casal.
Fontolan saiu para ver o que
era sem a arma.
Nadir se feriu no braço.
Todos, inclusive a vítima, dizem acreditar que os ladrões
não sabiam que no local funcionava uma delegacia. Até porque, na hora, o único carro de
polícia estava fora.
De fato, apenas uma placa
enferrujada na lateral do prédio indica que ali há um DP. A
delegacia funciona em uma antiga casa. Outra placa será providenciada, disse a polícia.
Moradores apostam que os
criminosos são da vizinha Itu
-justamente porque quem é de
fora não sabe que ali é delegacia, dizem. Nesta semana, uma
moça foi ao local imaginando
ser o posto de saúde.
"Salto agora tá famosa", disse
Severino Souza, 53, morador da
cidade, que parou para ver o
corre-corre na delegacia.
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