São Paulo, sábado, 15 de maio de 2010

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Comerciante lutou com ladrão dentro de DP

Nadir Tarosso, 52, agarrou criminoso que lhe tomou a bolsa e só desistiu depois de ver que havia outro bandido armado

Na hora do crime, havia na delegacia uma atendente e dois policiais, que imaginaram se tratar de uma briga de casal

RICARDO GALLO
ENVIADO ESPECIAL A SALTO

Um ladrão puxa a bolsa de uma mulher. Ela resiste. Ele insiste. Ela grita e arremessa a bolsa longe. O criminoso corre para pegá-la. A mulher agarra o braço do ladrão e só desiste ao ver outro bandido, armado.
A comerciante Nadir Aparecida Tarosso, 52, não estava em uma praça nem em uma rua deserta. Foi assaltada enquanto esperava para registrar um boletim de ocorrência. Dentro de uma delegacia de polícia.
O crime ocorreu por volta das 15h30 de anteontem, em Salto, cidade de 110 mil habitantes a 101 km de São Paulo.
Os ladrões roubaram R$ 13,5 mil de Nadir e fugiram. Havia uma atendente e dois policiais na delegacia na hora do crime. Eles imaginaram inicialmente tratar-se de uma briga de casal.
Ontem, um contingente de 60 policiais procurava os criminosos em Salto e região. Prendê-los é "questão de honra", disse o delegado seccional André Moron. Até as 20h30, nada.
Nadir havia decidido ir à delegacia quase por acaso -levava o filho a um posto de saúde vizinho. No DP, queria registrar que seu celular fora clonado. Antes, passou no Itaú e sacou R$ 15 mil, de "herança".
Parou depois na Caixa de Itu para pagar uma dívida de R$ 2.050. Ficou com R$ 13 mil, mais R$ 500 que já carregava.
Havia uma pessoa na frente quando chegou à delegacia. Foi quando foi abordada por um dos ladrões. A polícia disse acreditar que os criminosos a seguiam desde a ida aos bancos.
Atendente do DP, Lilian Santos, 20, acompanhou toda a cena. Viu o criminoso pular o balcão para pegar a bolsa que Nadir arremessara na tentativa de evitar o roubo. Desarmada e assustada, a garota disse: "Não tive reação. Vi um homem do lado de fora apontando uma arma para mim".
Lilian disse ser funcionária da associação local dos despachantes e atua na delegacia como auxiliar administrativa. Ganha R$ 765 mensais. O seccional deu outra versão: disse que ela é funcionária da prefeitura.
Dois policiais que estavam dentro da delegacia correram ao ver Nadir gritar. Mas já era tarde. "Não dava para saber que era assalto", disse Valéria Nascimento, 40, carcereira que faz as vezes de escrivã. Só deu para perceber o crime quando Nadir gritou que havia sido roubada, afirmou. Até então, ela e o escrivão Carlos Fontolan, 48, disseram pensar ser briga de casal.
Fontolan saiu para ver o que era sem a arma.
Nadir se feriu no braço.
Todos, inclusive a vítima, dizem acreditar que os ladrões não sabiam que no local funcionava uma delegacia. Até porque, na hora, o único carro de polícia estava fora.
De fato, apenas uma placa enferrujada na lateral do prédio indica que ali há um DP. A delegacia funciona em uma antiga casa. Outra placa será providenciada, disse a polícia.
Moradores apostam que os criminosos são da vizinha Itu -justamente porque quem é de fora não sabe que ali é delegacia, dizem. Nesta semana, uma moça foi ao local imaginando ser o posto de saúde.
"Salto agora tá famosa", disse Severino Souza, 53, morador da cidade, que parou para ver o corre-corre na delegacia.


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