São Paulo, domingo, 15 de maio de 2011

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Bastiana e o tempo

Sebastiana de Lourdes Silva, 116 , pode ser reconhecida como a mulher mais velha do mundo pelo Livro dos Recordes

DIANA BRITO
DO RIO

Sebastiana de Lourdes Silva,116, gosta de contar que é "mais velha do que a ponte vermelha" - construída há 106 anos em Resende, a 163 km do Rio, para que os moradores atravessassem o Rio Paraíba do Sul.
"Eu atravessava o rio numa pinguela [espécie de ponte precária, geralmente de madeira] com meus pais."
Bastiana, como é chamada, é de um tempo em que o rádio era a grande novidade tecnológica -foi inventado por Marconi um ano depois de seu nascimento- e que carros eram raros de se ver.
O segredo da longevidade, segundo ela, é "rezar e aproveitar a vida a cada dia enquanto Deus permitir".
No último dia 3, Bastiana comemorou seu aniversário no asilo Nicolino Gulhot, em Resende, onde mora há 24 anos. Para os funcionários da instituição, o segredo da centenária não são só as orações.
"Ela é alegre e espontânea, do tipo que não leva desaforo para casa. Sempre gostou de andar bonita e dançava a noite toda nas festas", diz Terezinha Honório, 66, que trabalha há 16 anos no local.
Bastiana pode ser reconhecida pelo "Guinness World Records" (o "Livro dos Recordes") como a mulher mais velha do mundo.
Sua documentação está sendo verificada para que se comprove que, de fato, tem 116 anos. Seu CPF e carteira de trabalho registram como data de nascimento 3 de maio de 1895. Atualmente, o título pertence à americana Besse Cooper, de 114 anos.
A nutricionista do asilo, Isabel Souza, 25, conta que Bastiana come a cada três horas e toma muita água.
"São sete refeições por dia. Ela não rejeita nada, embora a comida seja batida e amassada. Só não é muito chegada a carne, mas come bem feijão, arroz, legumes e frutas. Sua refeição predileta é pão francês molhado no café com leite", conta.

FORA DOS PADRÕES
Com 1,48 m de altura e 35 quilos, Bastiana está lúcida. Anda em cadeira de rodas e diz que o mais importante da vida são os amigos.
Para ela, não existe nada melhor do que cantar. "Mãezinha do céu, eu não sei rezar. Eu só sei dizer quero te amar. Azul é seu manto, branco é seu véu. Mãezinha eu quero te ver lá no céu..", canta baixinho e pausadamente, no corredor do asilo.
"Ela sempre fugiu dos padrões", diz Terezinha. "Fumou até os cento e poucos anos. Só ficou mais calma depois que sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) aos 111 anos e ficou cega aos 112 por causa da catarata".
Aposentada pelo Funrural (Contribuição Previdenciária sobre a Comercialização Rural), ela não teve sua carteira de trabalho assinada, mas trabalhou parte da vida como empregada doméstica.
Dividia seu tempo entre os afazeres domésticos em uma fazenda, as flores e uma horta familiar no quintal de casa.
Bastiana não teve filhos, nem se casou. Tentou uma vez morar com um namorado. Durou pouco. Ela se separou depois da primeira noite que passou com ele.
"Sua vida foi intensa, com muito amor. Mesmo assim, sempre falou que homem não presta", diz Terezinha.


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