São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 2005

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PODER PARALELO

Dez agentes eram mantidos reféns em Presidente Venceslau até a noite de ontem; negociação deve recomeçar hoje

5 presos são degolados durante rebelião

Jorge Santos/"Oeste Notícias''
Detentos rebelados exibem cabeças de presos decapitados durante a rebelião de ontem em penitenciária de Presidente Venceslau


CRISTIANO MACHADO
COLABORAÇÃO PARA AGÊNCIA FOLHA, EM PRESIDENTE PRUDENTE

ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma rebelião ontem na Penitenciária 1 de Presidente Venceslau (620 km a oeste de São Paulo) provocou a morte de cinco presos, que tiveram suas cabeças cortadas e exibidas como troféus.
O motim começou por volta das 8h30. Até as 18h, quando as negociações foram suspensas -serão retomadas às 9h de hoje-, 12 reféns estavam em poder dos amotinados. Entre 19h30 e 20h, outros dois foram libertados. Luz e água foram cortados no final da tarde.
No início, eram 20 reféns, todos agentes penitenciários. Seis fugiram, e outros dois foram liberados durante a tarde.
A Folha apurou que há pelo menos três hipóteses para justificar o motim: numa delas, presos do PCC (Primeiro Comando da Capital) atacaram ex-integrantes do grupo que não pagaram mensalidades à facção criminosa.
Na outra versão, presos ficaram revoltados porque o principal líder da facção, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, continua no RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) do Presídio de Segurança Máxima de Presidente Bernardes (589 km a oeste de São Paulo), o mais rígido do país. A rebelião seria uma forma de pressionar as autoridades a transferir Marcola para outra unidade prisional. A Secretaria da Administração Penitenciária descartou as duas versões.
Por último, a rebelião teria sido motivada por disputa dentro do PCC pelo comando do tráfico na Baixada Santista. Nos últimos meses, segundo investigações da polícia, 15 pessoas foram mortas nessa guerra interna do PCC.
A penitenciária de Presidente Venceslau é ocupada majoritariamente por integrantes do PCC.

A rebelião
O motim começou logo após a contagem dos presos. Detentos da ala 1 renderam os agentes penitenciários e invadiram a ala 2, onde ficam os presos jurados de morte. Enquanto alguns dominavam os rivais, outros levaram os reféns até o telhado da unidade.
Com pedaços de paus, os rebelados agrediam os reféns, entre eles agentes penitenciários e presos. PMs da muralha da unidade atiraram para dispersar os presos.
Vários focos de incêndio foram vistos ao longo da manhã, ao mesmo tempo em que presos começaram a exibir cabeças. Duas delas foram colocadas em hastes de bambu e barras de ferro -outras três foram deixadas na mureta do telhado. Parentes de presos e funcionários da unidade se desesperavam a cada momento em que as cabeças eram exibidas.
Por volta das 12h30, a Tropa de Choque da PM, com o apoio de policiais de outras cidades, posicionou-se em frente à penitenciária, mas não entrou na unidade.
O juiz da Vara de Execuções Criminais de Presidente Prudente (565 km a oeste de São Paulo), Fábio D'Urso, chegou ao local por volta das 13h e começou a negociar com os amotinados.
De acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária, a rebelião foi motivada por um "acerto de contas entre facções".
Um preso, em entrevista a uma rádio da cidade, por meio de telefone celular, disse que a situação no presídio era precária.
"O governo está nos oprimindo. Está todo mundo sendo esculachado. Querem dar tapa na cara de ladrão, e nós não agüentamos mais", dizia a voz.
Ontem, 160 detentos foram transferidos para outras penitenciárias do interior paulista.
Em Guarulhos, um suposto arrecadador de dinheiro para o PCC foi preso ontem pela PF.


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