São Paulo, domingo, 15 de junho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DANUZA LEÃO

"Sex and the City": mas de novo?


Fazer o filme foi ultrapassar uma barreira talvez perigosa, que é a da repetição sem fim das mesmas coisas

CONFESSO QUE VIA todos os episódios e me divertia bastante com as quatro malucas que só pensavam em sapatos, vestidos e homens. Mas as coisas passam; tudo passa, e não penso em ir ver o filme. Porque deve ser a mesma coisa: sapatos, vestidos e homens.
Não houve um só momento, durante a série, que alguma coisa tenha sido dita que me fizesse pensar, refletir, raciocinar; era divertido, sim, mas pelo que soube, esse filme vai ser um grande comercial de Manolo Blahnik, e todas as outras marcas que as meninas usam o tempo todo.
E comercial por comercial, já basta os que tenho que ver na televisão nos intervalos dos filmes.
Carrie vai ficar com Big? Não me interessa mais. Samantha -aquela que só pensava em ter orgasmos- vai continuar trocando de homem a cada dia ou será que vai arranjar um, um só, e ficar com ele durante as duas horas do filme? Também não me interessa. E por mais que Nova York seja retratada como a cidade mais charmosa do mundo, a gente sabe que não é bem assim, que a cidade tem seu charme mas também é dura. E será que o filme vai mostrar como é que as quatro moças tinham tempo para trabalhar e viver uma vida noturna e sexual tão intensa, como ganhavam dinheiro para comprar seus sapatos de US$ 700, mais as roupas que não repetiam nunca, a que horas dormiam, descansavam, se algum dia leram alguma revista que falasse de outra coisa que não fosse de moda -um livro, nem pensar-, enfim, o que se passava na cabeça delas além do que a gente já sabe? Tá aí, isso eu gostaria de saber, mas o filme não vai mostrar.
A série foi um grande sucesso, e é perigoso julgar que sucessos são eternos.
É preciso saber a hora de parar, e "Sex and the City" poderia ter deixado na nossa memória uma grande saudade dos tempos em que nada nos fazia sair da frente da televisão, na hora do seriado. Elas eram divertidas, sim. Mas fazer o filme foi ultrapassar uma barreira talvez perigosa, que é a da repetição sem fim das mesmas coisas. Porque não acredito que a vida das meninas tenha mudado, do seriado para cá. E é aí que vem o problema: se é igual, terá pouca graça; se mudar completamente, não será o que as pessoas estão esperando.
Estou curiosa para saber qual será a trajetória do filme, até porque muita coisa aconteceu do final da série para cá. Será que o charme de Carrie segura o filme? A vontade de ter um filho de Charlotte? O furor sexual de Samantha? O medo de amar de Miranda?
Eu, que não perdia o seriado, mudei, e assim como eu, muita gente. Coisas boas e ruins aconteceram nas nossas vidas e no mundo, e a nova bolsa Fendi me interessa hoje tanto (ou menos) quanto o jornal da semana passada. E me incomoda esse oportunismo de sair voando para fazer um filme de uma série que arrasou na TV. Calma, gente. Os produtores estão aí para criar coisas novas, correr riscos, não só para querer ir atrás do que acham que é sucesso -isto é, $$$- garantido. Qual a graça de repetir o que já aconteceu e que deu tudo o que tinha que dar?
E para falar a verdade, nem sei se já não estou um pouco cansada do sorriso e do charme de Carrie. Acho que sim.

danuza.leao@uol.com.br


Texto Anterior: Major reclama de aumento do tráfego no país
Próximo Texto: Há 50 anos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.