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DANUZA LEÃO
"Sex and the City": mas de novo?
Fazer o filme foi ultrapassar uma barreira talvez perigosa, que é a da repetição sem fim das mesmas coisas
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CONFESSO QUE VIA todos os episódios e me divertia bastante
com as quatro malucas que só
pensavam em sapatos, vestidos e homens. Mas as coisas passam; tudo
passa, e não penso em ir ver o filme.
Porque deve ser a mesma coisa: sapatos, vestidos e homens.
Não houve um só momento, durante a série, que alguma coisa tenha
sido dita que me fizesse pensar, refletir, raciocinar; era divertido, sim,
mas pelo que soube, esse filme vai
ser um grande comercial de Manolo
Blahnik, e todas as outras marcas
que as meninas usam o tempo todo.
E comercial por comercial, já basta
os que tenho que ver na televisão
nos intervalos dos filmes.
Carrie vai ficar com Big? Não me
interessa mais. Samantha -aquela
que só pensava em ter orgasmos-
vai continuar trocando de homem a
cada dia ou será que vai arranjar um,
um só, e ficar com ele durante as
duas horas do filme? Também não
me interessa. E por mais que Nova
York seja retratada como a cidade
mais charmosa do mundo, a gente
sabe que não é bem assim, que a cidade tem seu charme mas também é
dura. E será que o filme vai mostrar
como é que as quatro moças tinham
tempo para trabalhar e viver uma vida noturna e sexual tão intensa, como ganhavam dinheiro para comprar seus sapatos de US$ 700, mais
as roupas que não repetiam nunca, a
que horas dormiam, descansavam,
se algum dia leram alguma revista
que falasse de outra coisa que não
fosse de moda -um livro, nem pensar-, enfim, o que se passava na cabeça delas além do que a gente já sabe? Tá aí, isso eu gostaria de saber,
mas o filme não vai mostrar.
A série foi um grande sucesso, e é
perigoso julgar que sucessos são
eternos.
É preciso saber a hora de parar, e
"Sex and the City" poderia ter deixado na nossa memória uma grande
saudade dos tempos em que nada
nos fazia sair da frente da televisão,
na hora do seriado. Elas eram divertidas, sim. Mas fazer o filme foi ultrapassar uma barreira talvez perigosa, que é a da repetição sem fim
das mesmas coisas. Porque não
acredito que a vida das meninas tenha mudado, do seriado para cá. E é
aí que vem o problema: se é igual, terá pouca graça; se mudar completamente, não será o que as pessoas estão esperando.
Estou curiosa para saber qual será
a trajetória do filme, até porque
muita coisa aconteceu do final da série para cá. Será que o charme de
Carrie segura o filme? A vontade de
ter um filho de Charlotte? O furor
sexual de Samantha? O medo de
amar de Miranda?
Eu, que não perdia o seriado, mudei, e assim como eu, muita gente.
Coisas boas e ruins aconteceram nas
nossas vidas e no mundo, e a nova
bolsa Fendi me interessa hoje tanto
(ou menos) quanto o jornal da semana passada. E me incomoda esse
oportunismo de sair voando para fazer um filme de uma série que arrasou na TV. Calma, gente. Os produtores estão aí para criar coisas novas,
correr riscos, não só para querer ir
atrás do que acham que é sucesso
-isto é, $$$- garantido. Qual a graça de repetir o que já aconteceu e
que deu tudo o que tinha que dar?
E para falar a verdade, nem sei se
já não estou um pouco cansada do
sorriso e do charme de Carrie. Acho
que sim.
danuza.leao@uol.com.br
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