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Bolsista tem nota igual ou maior que pagante
Comparação foi feita entre beneficiados pelo ProUni e demais alunos do último ano de dez cursos universitários privados
Para diretores de faculdades, bom resultado dos alunos bolsistas não surpreende; para conseguir a bolsa, é preciso ir bem no Enem
ANTÔNIO GOIS
DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO
Bolsistas do ProUni tiveram
desempenho igual ou superior
ao de seus colegas no Enade
(exame do Ministério da Educação que substituiu o Provão),
em dez áreas onde foi possível
fazer a comparação entre alunos que cursavam o último ano.
A pedido da Folha, o Inep
(instituto de pesquisas ligado
ao MEC) comparou a média
desses universitários com a dos
demais colegas de curso.
O Enade de 2007 foi o primeiro a identificar, entre os
formandos, aqueles que são
bolsistas do ProUni -programa do MEC que dá bolsas integrais ou parciais em instituições privadas para alunos com
renda familiar per capita inferior a três salários mínimos.
Nas dez áreas comparadas,
em duas (biomedicina e radiologia) a diferença a favor dos
bolsistas foi significativa.
Nas oito restantes (veterinária, odontologia, medicina,
agronomia, farmácia, enfermagem, fisioterapia e serviço social), a distância (a favor dos
bolsistas em quatro casos e
contra eles em quatro) foi sempre igual ou inferior a dois pontos numa escala de zero a cem
-diferença que não é significativa estatisticamente.
Já na comparação entre ingressantes, o desempenho foi
sempre favorável aos bolsistas.
O sociólogo Simon
Schwartzman, presidente do
Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, sugere duas
hipóteses. A primeira é que isto
indicaria que os bolsistas têm
nível socioeconômico superior
ao de seus colegas, o que mostraria que a focalização do programa não está sendo eficiente.
A segunda é que, como há
uma nota mínima no Enem para pleitear a bolsa, ficam de fora os alunos de nível menor,
que ingressariam, sem ProUni,
em cursos menos disputados.
Para diretores de universidades privadas, o bom desempenho não surpreende.
Célia Forghieri, assessora da
Pró-Reitoria de Cultura e Relações Comunitárias da PUC-SP,
diz que, por ser uma das universidades mais procuradas
pelos inscritos no ProUni, a
PUC recebe os melhores alunos das escolas públicas.
"Muitos professores ficaram
receosos de que os alunos [do
ProUni] iriam diminuir o brilho acadêmico da universidade,
o que se mostrou equivocado."
Na PUC-Rio, o diagnóstico é
o mesmo. "No geral, são [alunos] aplicados que reconhecem
o valor da oportunidade que estão tendo. A evasão também é
menor", diz Elisabeth Jazbik,
assessora da vice-reitoria.
As universidades Estácio de
Sá, do Rio, e Anhembi Morumbi, de São Paulo, fazem o mesmo balanço. "Não temos registro de nenhuma alteração significativa na curva normal de
desempenho dos alunos", afirma Jessé Holanda, diretor executivo de operações da Estácio.
"Eles têm notas muito boas
no Enem e chegam bem preparados", diz Karl Albert, diretor
da Anhembi Morumbi.
Mesmo assim, ainda não há
consenso sobre o peso do
ProUni na inclusão de alunos
pobres nas universidades.
A Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios do IBGE mostra que, em 2004, ano
de criação do programa, 679
mil alunos de particulares tinham renda domiciliar per capita inferior a 1,5 salário mínimo (corte do ProUni para concessão de bolsas integrais).
Eles eram 20% do total.
Em 2007, considerando a variação da inflação e do mínimo
no período, esse número aumentou para 895 mil, mas, como houve crescimento de matrículas nas particulares, o percentual se manteve em 20%.
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