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AIDS
Comissão Interamericana de Direitos Humanos analisa casos de países acusados de não prestar assistência a vítimas da doença
Ações internacionais pressionam governos
AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A BARCELONA
Governos que se negam a tratar
seus doentes de Aids poderão ser
levados às cortes internacionais
de direitos humanos.
Casos de El Salvador, Equador e
Chile já foram encaminhados à
Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Cabe a essa comissão analisar os casos e levá-los
à Corte Interamericana de Direitos Humanos, com poder para
aplicar punições.
Há duas semanas, uma medida
cautelar obrigou o governo equatoriano a fornecer remédios a um
grupo de pacientes. El Salvador
vem sendo cobrado a indenizar
familiares de pacientes que morreram porque os medicamentos
demoraram a chegar.
As informações foram dadas
pelo venezuelano Edgar Carrasco,
da direção do Icaso, um conselho
não-governamental que assessora
grupos que trabalham com Aids e
que atua com governos e financiadoras. O conselho foi um dos
organizadores da 14ª Conferência
Internacional de Aids, encerrada
na sexta-feira em Barcelona.
O Icaso também considera a
possibilidade de acionar as cortes
internacionais para responsabilizar os países ricos pelas mortes
por Aids no Terceiro Mundo e cobrar deles deles a devida participação no Fundo Global contra a
Aids. Criado no ano passado com
o comprometimento dos países
ricos, o fundo deveria arrecadar
US$ 10 bilhões, mas conseguiu
menos de um terço.
ONGs
Embora as organizações não-governamentais sempre tenham
estado à frente na luta contra a
Aids, o risco de ampliação da epidemia e sua longa duração estão
ameaçando o discurso ativista de
suas lideranças.
Na abertura da conferência de
Barcelona, as intervenções de Peter Piot, diretor da Unaids (programa das Nações Unidas), e do
presidente da Sociedade Internacional de Aids (AIS), Stefano Vela,
"roubaram" o vocabulário das
ONGs ao falar em "militância" e
"ativismo".
"É a primeira vez que a comunidade científica participa com o
empenho do ativismo", disse o
presidente da AIS, sociedade co-organizadora da conferência, referindo-se ao envolvimento das
instituições de pesquisa.
"Governos, organizações internacionais e sociedades científicas
estão assumindo o discurso das
ONGs", disse Mario Scheffer, do
Grupo Pela Vidda, de São Paulo.
Seria um bom sinal, se as organizações não-governamentais tivessem avançando por caminhos
mais ousados, como sempre foi
sua prática. Mas, diz Scheffer, "o
ativismo das ONGs nunca esteve
tão apático e apagado".
Ao longo da conferência, os
protestos se limitaram a "apitaços" diários da ONG Act Up, que
atacava simbolicamente estandes
de governos e laboratórios, além
de uma passeata latino-americana por direito a tratamento.
Shaun Mellors, da Rede Mundial de Pessoas Vivendo com
HIV/Aids, afirmou que é preciso
voltar a um "ativismo de indignação". Para Scheffer, muitos dos
militantes das ONGs se transformaram "em mão de obra de programas do governo".
Richard Parker, presidente da
Abia (Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids) e professor da
Universidade de Columbia, diz
que as ONGs devem ser consideradas nas diferentes funções, seja
participando de prevenção, seja
fazendo ativismo de rua.
Uma das questões que se levanta é o "comodismo" que assumem as ONGs quando as coisas
vão bem. Na Europa, onde o tratamento é garantido, são poucas
as organizações envolvidas com a
Aids. Alguns temem que o mesmo venha a acontecer no Brasil.
"No nosso programa, as ONGs
continuarão sendo as principais
parceiras", diz Paulo Teixeira,
coordenador do Programa Nacional de DST-Aids.
O repórter AURELIANO BIANCARELLI viajou a convite do laboratório Abbott
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