São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 2005

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SAÚDE

Em 24 dias, seis mulheres morreram no Estado; número é igual ao registrado em João Pessoa durante todo o ano passado

Mortes no parto aumentam na Paraíba

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em um período de 24 dias, seis mulheres entre 15 e 30 anos morreram em João Pessoa (PB) durante o trabalho de parto. Esse número é igual ao total de óbitos maternos registrados no ano passado na capital paraibana -que inclui casos vindos do interior. As secretarias da Saúde do Estado da Paraíba e do município de João Pessoa abriram sindicância para apurar as razões das mortes.
A Folha apurou que todas as mulheres mortas tiveram pré-eclâmpsia, doença hipertensiva da gravidez que pode, em geral, ser detectada e controlada durante o pré-natal. A hipertensão é a principal causa de morte conjunta de mães e bebês durante a gestação no Brasil.
No país, em cada 100 mil nascidos vivos, 75 mulheres morrem devido a complicações na gestação ou no parto. A OMS (Organização Mundial da Saúde) considera aceitável o índice de 20 mortes maternas para cada 100 mil nascidos vivos.
A primeira mulher do presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez parte dessas estatísticas. Maria de Lourdes Ribeiro da Silva morreu aos 22 anos, no parto, 15 minutos depois do bebê, um menino. Era junho de 1971.
"Foi o pior momento de toda a minha vida. Ninguém me tira da cabeça que ela morreu por negligência da rede hospitalar do Brasil, por problema de relaxamento médico. Como ela, morrem milhões sem atendimento neste país", disse Lula à historiadora Denise Paraná, na obra biográfica "Lula, o Filho do Brasil".
Trinta e quatro anos se passaram e a situação da morte materna no país pouco mudou. As seis mulheres mortas em João Pessoa tinham passado pelo pré-natal em suas cidades de origem.
"O que é mais grave. Isso mostra que o nosso pré-natal não está sendo eficaz e que temos que focar nossas atenções na capacitação dos médicos e na estruturação da rede básica", diz Valderez Araújo, coordenadora de promoção da saúde da mulher da Secretaria da Saúde da Paraíba.

Convulsões
A sucessão de mortes na Paraíba começou no dia 26 de maio, feriado de Corpus Christi. A gestante C.M.N., 27, de Curral de Cima, no sertão paraibano, começou a passar mal, foi levada para Mamanguape e, por último, para João Pessoa, onde morreu.
"Ela veio tendo convulsões e passou por lugares onde havia atendimento médico. Mas eles [os médicos] só olhavam dentro da ambulância e mandavam seguir para João Pessoa", relata Araújo. Após uma cesárea, a mulher sofreu parada cardiorrespiratória.
Outras três, que morreram nos dias subseqüentes, viveram situação semelhante: passaram por pelo menos dois serviços médicos no interior antes de chegar, em estado grave, a João Pessoa. "São mortes injustificáveis", resume Valderez Araújo. A mais nova, T.M.C.S., 15, veio de Itambé (PE).
"Tomar conhecimento desses óbitos nos deixa indignadas. Eram mulheres jovens, com média de 21 anos, que morreram devido à ineficácia do sistema público de saúde", afirma Fátima de Oliveira, secretária-executiva da RFS (Rede Feminista de Saúde).
"Os municípios não estão organizados. Em vez de investir recursos na estruturação da rede de saúde, muitos prefeitos preferem comprar ambulância e despachar [os doentes] para a capital", diz Gilberta Santos Soares, coordenadora da ONG Cunhã Coletivo Feminista, de João Pessoa.
Em razão disso, as maternidades da capital, em especial a Cândida Vargas (onde ocorreram duas das mortes), estão superlotadas. Segundo Estelisabel Bezerra, coordenadora de políticas públicas para mulheres no município de João Pessoa, o hospital já ultrapassou em 70% a sua capacidade de atendimento.
Duas das mulheres mortas residiam em João Pessoa e a investigação das circunstâncias do óbito caminha para o fim. Bezerra afirma que uma delas, de 30 anos, teve a chamada síndrome help (uma complicação grave da pré-eclâmpsia). A outra, de 19 anos, além da hipertensão, era portadora de problemas reumatológicos (febre reumática).


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