São Paulo, sábado, 15 de julho de 2006

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GUERRA URBANA

Após ataque do PCC, governo federal libera R$ 100 mi para SP

Depois de se encontrar com Thomaz Bastos, governador paulista recusou ajuda do Exército e da Força Nacional de Segurança

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
LUÍSA BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Após uma reunião de cerca de 20 minutos com o governador Cláudio Lembo (PFL), o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, anunciou ontem o repasse de R$ 100 milhões para o Estado São Paulo.
Metade da verba deverá ser utilizada na recuperação das prisões destruídas pelo PCC durante a primeira onda de ataques da facção criminosa, em maio -segundo o Estado, as reformas custarão R$ 75 milhões
Outros R$ 50 milhões serão destinados para o serviço de informações nos presídios, de modo a tentar reduzir a capacidade de organização do PCC.
Na última terça-feira, a facção iniciou uma nova onda de ataques, que já matou pelo menos oito pessoas e conseguiu interromper o serviço de transporte por ônibus da capital do Estado após uma série de ataques incendiários a ônibus.
Na reunião, Lembo voltou a recusar a oferta do envio das Forças Armadas e da Força Nacional de Segurança para combater o PCC. ""Nossa oferta está de pé. Fizemos ontem [anteontem] uma reunião de contingência com as três Forças para discutir isso. Agora depende do governador", disse o ministro.
Thomaz Bastos foi ao encontro, no Palácio dos Bandeirantes, acompanhado do general Luiz Edmundo de Carvalho, comandante militar do Sudeste. Lembo reiterou que descarta a oferta, mas deixou aberta a possibilidade de pedir a presença dos soldados no futuro. ""A integração poderá haver, quando necessário, porém não é o momento", declarou.
Sobre a Força Nacional de Segurança (formada por policiais de vários Estados), Lembo disse que serviria apenas para escolta de presos federais.
Na reunião, foram acertadas outras medidas, como o aumento de até 10% do contingente da Polícia Federal, de 1.200 homens, no Estado, maior acesso da polícia paulista a informações sobre o crime organizado do Sistema Brasileiro de Inteligência.
Após a audiência entre o ministro e o governador, houve uma reunião técnica entre os secretários da Segurança e Pública da Administração Penitenciária com representantes da União para tratar dos detalhes. A conversa durou quase duas horas.
Os secretários de Lembo e a equipe de Thomaz Bastos ainda discutiram maior ação dos órgãos de combate à lavagem de dinheiro no Estado. O objetivo é reduzir a capacidade financeira das quadrilhas e, em conseqüência, tentar imobilizar o PCC e suas fontes de dinheiro.
Tanto Lembo como o ministro se recusaram a dizer se as medidas serão suficientes para debelar a onda de violência.

Guerra de números
Apesar de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter assinado ontem a Medida Provisória prevendo a verba, uma hora após a reunião a assessoria de Lembo divulgava que não há previsão da sua chegada.
Procurada, a assessoria do ministro afirmou que o dinheiro estará disponível segunda-feira, ""se houver projetos".
Embora o encontro tenha ocorrido de forma amigável -tanto Lembo quanto Thomaz Bastos evitaram comentar a polêmica entre o governador e Lula em razão da crise de segurança-, a assessoria do pefelista também divulgou à noite que a União mantém outras pendências com o Estado.
Após Lembo dizer que a situação estava controlada no Estado, Lula declarou que a situação no Estado é de ""pânico", fora do ""normal". Indagado ontem, Lembo afirmou: "Essa palavra [controle] eu não uso nunca mais".
Thomaz Bastos ainda entregou a Lembo uma pauta de propostas que inclui a realização de bloqueios nas rodovias federais do Estado, como as vias Dutra, Régis Bittencourt e Fernão Dias. Pelo plano, em 72 horas a Polícia Rodoviária Federal poderia triplicar seu efetivo em São Paulo.
A transferência de presos de alta periculosidade para a penitenciária federal de Catanduvas (PR), outro tema da reunião, continua indefinida, segundo Lembo.
Embora as transferências estivessem sendo discutidas, Lembo, agora, nem garante que elas realmente irão ocorrer.
""Vamos utilizar [as vagas ofertadas pelo governo federal], se necessário. Mas não há decisão de transferência."


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