São Paulo, domingo, 15 de julho de 2007

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Falta de estrutura prejudica alunos em novas federais

Universidades recém-inauguradas no projeto de expansão do governo não têm equipamentos nem prédio próprio

Estudantes dependem de instrumentos alugados e chegam a comprar até vidros de maionese vazios para fazer experimentos

DO ENVIADO ESPECIAL A SANTOS
DA REDAÇÃO

O estudante de educação física Eric Blasques Dassouki, 18, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) de Santos, teve apenas três aulas práticas no primeiro semestre deste ano. A grade curricular previa uma por semana. No segundo semestre, porém, ele não tem certeza se terá uma aula sequer.
A incerteza de Dassouki ocorre porque o campus santista, criado em fevereiro de 2006, ainda não possui prédio próprio. A universidade funciona em dois prédios alugados. A piscina e a quadra, indispensáveis para o curso, são emprestadas por clubes, mas nem sempre. "Já chegamos a entrar na quadra para ter aula de basquete, mas fomos tirados de lá porque haveria um campeonato de handebol feminino. A piscina ficou um tempão interditada porque havia quebrado uma bomba", disse ele.
A primeira etapa do campus de Santos, em obras, deve ser concluída no início de 2008. Nessa etapa não está prevista, porém, a construção de quadra nem piscina -inclusa na segunda etapa. Quando ficará pronta? "Não tem data. Temos que acabar o outro [prédio] primeiro", afirmou o reitor Ulysses Fagundes Neto.
Os prédios em Santos ficam distantes cerca de cinco quilômetros um do outro. Num deles ficam os computadores, noutro a biblioteca. Nenhum deles têm um laboratório experimental que os alunos de psicologia precisam. "As aulas práticas foram transferidas para o segundo semestre por falta do laboratório", disse a estudante Maria Luiza Gonçalves, 21.
No ano passado, segundo a estudante, as aulas sobre o sistema respiratório não foram ministradas por falta de peças, não havia pulmão para estudo, e uma das poucas aulas de anatomia que sua turma teve foram realizadas no campus de São Paulo, a 85 quilômetros.
Distância é algo que a aluna ciência e tecnologia Fernanda Toscano, 21, da UFABC (Universidade Federal do ABC), diz conhecer bem para assistir aulas. Assim como em Santos, as aulas são ministradas em duas unidades distantes porque os 1.500 alunos não cabem num campus só. "Quando não consigo carona, eu venho a pé. Dá uma hora e 20 minutos."
O prédio da universidade deve ficar pronto em outubro.
O estudante de ciência da computação da Unifesp de São José dos Campos Victor Coelho, 19, também se diz infeliz com seu curso. "A situação está desanimadora. Tem muita gente pensando em desistir do curso. Eu mesmo sou um deles."
Coelho explica seus motivos. Para a turma de 50 alunos, a universidade conseguiu 25 máquinas emprestadas pela prefeitura, mesmo assim inadequadas para o curso. As aulas são assistidas em duplas. Durante as provas, metade da turma faz, a outra espera.
"Também não tem biblioteca, não tem lanchonete, não tem nada. A universidade está jogando o nome dela no lixo."
Os alunos devem receber computadores no segundo semestre, segundo a reitoria, mas o curso pode ser fechado na cidade por falta de terreno para construir seu campus.
O aluno de farmácia João Carlos Menezes, 22, da federal da Bahia em Vitória da Conquista, disse ter levado um susto no início do ano letivo, em outubro do ano passado. "Só tinha cadeira, professor e quadro", afirmou ele.
Menezes diz que o material para os experimentos, como batata e iodo, são adquiridos pelo próprios alunos, até os vidros de maionese vazios. (ROGÉRIO PAGNAN E ALESSANDRA BALLES)

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