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SAÚDE - NEUROLOGIA
Crescem os casos de esclerose múltipla, dizem especialistas
Condições de vida, como menor exposição à luz solar, estão entre causas prováveis
A mudança no padrão imunológico após a universalização de vacinas
e antibióticos também é apontada como hipótese
PAULO DE ARAUJO
DA REPORTAGEM LOCAL
A esclerose múltipla (EM),
doença auto-imune -causada
por um ataque do sistema imunológico contra o próprio organismo-, tende a afetar cada vez
mais pessoas, segundo especialistas consultados pela Folha.
A EM afeta diretamente o sistema nervoso central e pode levar à perda de movimentos.
Uma das hipóteses para esse
aumento na prevalência aponta para as condições próprias
da vida moderna. A melhoria
sanitária nos centros mais desenvolvidos -com a universalização de vacinas, medicamentos e antibióticos- pode
provocar uma mudança no padrão imunológico das pessoas,
argumenta o neurologista da
Faculdade de Ciências Médicas
da Santa Casa de São Paulo
Charles Tilbery.
"Vivemos em um ambiente
mais asséptico, e o organismo
fica menos exposto a doenças
infecciosas. Quando ativado, o
sistema imunológico pode produzir uma hiper-reação", diz.
De outro lado, a falta de vitamina D também pode estar associada ao aumento da prevalência, explica o professor de
neurologia da Unifesp Cícero
Galli Coimbra. Segundo ele, os
países com radiação solar menos intensa têm uma população mais suscetível à esclerose
múltipla. Na Europa e no Canadá, por exemplo, a incidência da doença é mais alta.
"E à medida em que há mais
progresso, as pessoas ficam
mais confinadas, menos expostas à luz solar [matéria-prima
da vitamina D]."
A vitamina D age no sentido
de tornar o sistema imunológico mais tolerante. "Os estudos
mais promissores sobre o tratamento da esclerose múltipla
estão baseados nessa questão."
Além de haver um aumento
na prevalência, a faixa etária
dos pacientes com esclerose
múltipla tem diminuído nos últimos anos, afirma a neurologista Christiane Pedreira.
"Existe um comportamento de
antecipação. A cada geração, a
doença se manifesta mais cedo.
Hoje, é possível observar uma
prevalência mais significativa
em crianças e adolescentes".
Estudos insuficientes
Embora um maior número
de casos seja observado por alguns neurologistas nos consultórios, não há estudos publicados que demonstrem a evolução da doença. Estima-se que
no Brasil a esclerose múltipla
afete de 25 mil a 30 mil pessoas.
No mundo, são 2 milhões de
pessoas afetadas.
Em São Paulo, o último trabalho significativo, realizado
em 1997, mostra que a prevalência da doença era de 15 casos
por 100 mil habitantes, contra
4,3 casos por 100 mil habitantes registrados em 1992.
Para o chefe do ambulatório
de esclerose múltipla do hospital da Universidade de Santo
Amaro, Leandro Calia, a falta
de dados disponíveis não permite confirmar que esteja realmente havendo um aumento
no número de casos. "É uma
impressão de consultório, mas
as estatísticas são insuficientes", afirma ele.
De acordo com Maria Fernanda Mendes, da Academia
Brasileira de Neurologia, o desenvolvimento do diagnóstico
da doença é um fator que deve
ser levado em consideração.
"A maior prevalência é uma
percepção que os neurologistas
começaram a ter. Mas existe
também uma melhora na divulgação e no diagnóstico", afirma.
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