São Paulo, domingo, 15 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SP não reaproveita lixo que produz todos os dias

Lixeiras reviradas revelam vantagens da reciclagem

GUSTAVO FIORATTI
DA REVISTA DA FOLHA

É mais ou menos como ganhar um bolo de presente, comer uma fatia e jogar o resto fora. Das 15 mil toneladas de lixo produzidas diariamente em São Paulo, apenas 70 toneladas são reaproveitadas pela prefeitura. Feita a conta, dá menos de 1% do total. Somada ao que catadores recolhem no mercado paralelo, essa quantia pode eventualmente atingir os 5%. É (bem) pouco, se comparado a outras capitais do mundo. A prefeitura de Nova York, por exemplo, consegue reciclar 18%. Tóquio, mais de 50%. E nem é preciso ir tão longe: Curitiba reaproveita 20%.
A questão que não fecha é: por que gente preocupada com o ambiente recicla tão pouco?
Um empecilho prosaico pode ajudar a esclarecer a incoerência: pouca gente sabe o que fazer com o material reciclável depois de separá-lo em casa. A cidade oferece recursos diversos para quem pretende aderir à prática. Só que quase ninguém como encontrá-los.
"Você viu alguma propaganda na televisão? Alguma campanha educativa? Algum panfleto? Eu não vejo há muito tempo", diz Paulo Roberto Moraes, professor do departamento de Ciências Ambientais da faculdade de Biologia da PUC.
Diria nesse momento o governo municipal: 68 dos 96 distritos da cidade São Paulo podem solicitar por telefone um serviço gratuito de coleta seletiva em casas ou condomínios. Mas o telefone não toca. No mês passado, os responsáveis por esse serviço receberam quatro pedidos de coleta. Em maio, a demanda foi maior: 26 ligações em uma cidade de 10 milhões de habitantes.
A coleta seletiva é tão pouco requisitada que a Secretaria Municipal de Serviços afirma ter capacidade para dobrar o recebimento de material. Em dois anos, a meta é chegar a 25% de reaproveitamento domiciliar, diz Paulo Roberto de Souza, diretor de coleta seletiva da Secretaria de Serviços.
Essa pode ser uma visão otimista. Para crescer, o serviço da prefeitura ainda tem de fazer alguns ajustes. Há ruas que não estão na rota das concessionárias de lixo contratadas pelo município, por exemplo. E quem mora em casa precisa se ajustar aos horários dos caminhões da coleta seletiva.
Entraves aparentemente simples de se resolver como esses desestimulam até mesmo os mais insistentes. Evandro Amidani, dono do bar Anhanguera, na Lapa, diz que seus esforços para dar um destino reaproveitável ao lixo de seu estabelecimento não deu resultado. Hoje o bar mistura vidros, plásticos, papelão ao lixo orgânico.
Além da escassez em campanhas de informação, rareia também fiscalização por parte do Estado. Em janeiro, a aprovação da lei 12.528 pela Assembléia Legislativa determinou a implantação de coleta seletiva em shopping centers, empresas de grande porte, condomínios industriais e residenciais com no mínimo 50 unidades e repartições públicas. Mas, nas praças de alimentação dos shoppings, especialmente, a lei é, em geral, ignorada.
É o caso do Frei Caneca. Apesar de já ter começado um projeto de reciclagem entre os lojistas, o shopping ainda deve a instalação de lixeiras apropriadas para a coleta seletiva em sua praça de alimentação. A administração do shopping diz que o investimento é caro.
Há uma série de outras questões que emperram a reciclagem. Essas e outras cenas você verá nos próximos capítulos.

www.uol.com.br/revista


Texto Anterior: Gilberto Dimenstein: Como jogar dinheiro no lixo
Próximo Texto: "Existe algo mais íntimo que o lixo?"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.