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SP não reaproveita lixo que produz todos os dias
Lixeiras reviradas revelam vantagens da reciclagem
GUSTAVO FIORATTI
DA REVISTA DA FOLHA
É mais ou menos como ganhar um bolo de presente, comer uma fatia e jogar o resto fora. Das 15 mil toneladas de lixo
produzidas diariamente em
São Paulo, apenas 70 toneladas
são reaproveitadas pela prefeitura. Feita a conta, dá menos de
1% do total. Somada ao que catadores recolhem no mercado
paralelo, essa quantia pode
eventualmente atingir os 5%. É
(bem) pouco, se comparado a
outras capitais do mundo. A
prefeitura de Nova York, por
exemplo, consegue reciclar
18%. Tóquio, mais de 50%. E
nem é preciso ir tão longe: Curitiba reaproveita 20%.
A questão que não fecha é:
por que gente preocupada com
o ambiente recicla tão pouco?
Um empecilho prosaico pode
ajudar a esclarecer a incoerência: pouca gente sabe o que fazer com o material reciclável
depois de separá-lo em casa. A
cidade oferece recursos diversos para quem pretende aderir
à prática. Só que quase ninguém como encontrá-los.
"Você viu alguma propaganda na televisão? Alguma campanha educativa? Algum panfleto? Eu não vejo há muito
tempo", diz Paulo Roberto Moraes, professor do departamento de Ciências Ambientais da
faculdade de Biologia da PUC.
Diria nesse momento o governo municipal: 68 dos 96 distritos da cidade São Paulo podem solicitar por telefone um
serviço gratuito de coleta seletiva em casas ou condomínios.
Mas o telefone não toca. No
mês passado, os responsáveis
por esse serviço receberam
quatro pedidos de coleta. Em
maio, a demanda foi maior: 26
ligações em uma cidade de 10
milhões de habitantes.
A coleta seletiva é tão pouco
requisitada que a Secretaria
Municipal de Serviços afirma
ter capacidade para dobrar o
recebimento de material. Em
dois anos, a meta é chegar a
25% de reaproveitamento domiciliar, diz Paulo Roberto de
Souza, diretor de coleta seletiva
da Secretaria de Serviços.
Essa pode ser uma visão otimista. Para crescer, o serviço da
prefeitura ainda tem de fazer
alguns ajustes. Há ruas que não
estão na rota das concessionárias de lixo contratadas pelo
município, por exemplo. E
quem mora em casa precisa se
ajustar aos horários dos caminhões da coleta seletiva.
Entraves aparentemente
simples de se resolver como esses desestimulam até mesmo
os mais insistentes. Evandro
Amidani, dono do bar Anhanguera, na Lapa, diz que seus esforços para dar um destino reaproveitável ao lixo de seu estabelecimento não deu resultado.
Hoje o bar mistura vidros, plásticos, papelão ao lixo orgânico.
Além da escassez em campanhas de informação, rareia
também fiscalização por parte
do Estado. Em janeiro, a aprovação da lei 12.528 pela Assembléia Legislativa determinou a
implantação de coleta seletiva
em shopping centers, empresas
de grande porte, condomínios
industriais e residenciais com
no mínimo 50 unidades e repartições públicas. Mas, nas
praças de alimentação dos
shoppings, especialmente, a lei
é, em geral, ignorada.
É o caso do Frei Caneca. Apesar de já ter começado um projeto de reciclagem entre os lojistas, o shopping ainda deve a
instalação de lixeiras apropriadas para a coleta seletiva em
sua praça de alimentação. A administração do shopping diz
que o investimento é caro.
Há uma série de outras questões que emperram a reciclagem. Essas e outras cenas você
verá nos próximos capítulos.
www.uol.com.br/revista
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