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São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 2003

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BARBARA GANCIA

Abaixo o fundamentalismo gay!

E a galinha, tadinha, ninguém vai tomar as dores da galinha? Até agora, não vi uma só entidade de defesa dos animais interceder em favor da maior vítima no incidente ocorrido nesta semana na Faculdade de Direito da USP, em que um estudante atirou uma galinha preta sobre a nossa prefeita.
Ponha-se no lugar da ave, nobre leitor. Quando ela não é sacrificada em alguma encruzilhada, acaba virando "megahair" de madame. E, o que é pior, ainda é obrigada a passar pela humilhação de ser confundida com um tucano. Calúnia! Desde quando galinha preta gosta de sentar em cima de muro? Desde quando galinha preta torra as reservas de um país só para manter uma delirante paridade entre dólar e real?
No fim das contas, sobrou para o ministro Thomaz Bastos, que fez inocente comentário sobre galinhas e veados e acabou atraindo a ira da Associação da Parada do Orgulho GLBT, que classificou o comentário do ministro de "preconceituoso, machista e antiquado". Ué? Mas os próprios gays não se referem uns aos outros usando esse tipo de epíteto?
Quer saber? Está passando da hora de a militância gay começar a pensar em atrair uma ala mais moderada. Existe uma multidão de homossexuais que não se sente representada pelas pencas de rapazes seminus, simulando cenas de sexo, que desfilam em cima dos carros nas paradas gays.
Por acaso alguém pára para discutir o que heterossexuais fazem entre quatro paredes? E na hora de se divorciar, será que os heterossexuais fazem questão de queimar em praça pública a certidão de batismo com o escopo de mostrar que estão em desacordo com a igreja?
Em vez de continuar a bater exclusivamente na tecla da sexualidade, que traz a reboque apenas o oco hedonismo, que tal se os militantes da causa gay começassem a falar mais a respeito de afeto e de companheirismo?
Pode escrever: enquanto a militância gay não perceber que não fala em nome de todos os homossexuais quando tenta empurrar um certo estilo de vida goela abaixo da humanidade, nenhum gay que tenha algo a perder vai querer sair do armário. Para quê? Para ser confundido com os go-go boys das paradas gays?
Se o mundo hoje aceita um Arnold Schwarzenegger como republicano linha-dura que fumou e tragou maconha e é pró-aborto, pró-controle de armas e pró-regularização do status dos imigrantes ilegais, os gays também podem começar a flexibilizar o discurso.


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