São Paulo, domingo, 15 de agosto de 2004

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Psicanalista vê um novo tipo de luxo

DA REPORTAGEM LOCAL

"Nada mais ridículo do que, nas classes executivas das companhias aéreas brasileiras, 90% das mulheres usarem a mesma marca de bolsa, comprada na rua Oscar Freire ou na 25 de Março." A frase provocadora é do psicanalista Jorge Forbes, 53, defensor da idéia de que um novo tipo de luxo está surgindo, em oposição à empáfia do luxo arcaico.
Segundo Forbes, as donas das tais bolsas da classe executiva são exibicionistas. Tentam, pela ostentação da marca da grife européia centenária, apropriar-se de uma tradição que não lhes pertence. "Elas imaginam que a bolsa empreste-lhes distinção", diz o psicanalista. "Não empresta."
No espaço do "novo luxo", menos engessado por convenções, uma gravata Dolce&Gabbana convive pacificamente com um blazer comprado num brechó. A camiseta Hering orna perfeitamente com o acessório Fendi. Em vez de normas rígidas, de um "pode/não pode" opressivo, o "novo luxo" cobra apenas informação, referências, citações.
Forbes torna-se, dessa forma, uma espécie de apóstolo brazuca do "novo luxo" que começa a se instalar no país, porque legitima as compras caríssimas de artigos, desde que essas compras respondam ao desejo de quem compra (ou no máximo ao de sua tribo) e não à vontade de mimetizar os hábitos fossilizados de uma nobreza já desacreditada.
O psicanalista lembra que o exibicionismo do luxo é tanto mais forte quanto mais uma sociedade cultue o futuro, em detrimento do passado. "Sem história, os conquistadores tentam se apropriar de símbolos que os legitimem na hieraquia social."
Isso explica os carrões americanos nos anos 50 com capotas rígidas imitando as coberturas conversíveis das carruagens, ou as filas de consumidores orientais nas portas das butiques de Milão ou Paris, ou ainda o exibicionismo das chamadas "peruas emergentes" brasileiras, tão em evidência nos anos 90, as cadelas de estimação com coleiras cravejadas de diamantes.
"Luxo", palavra cuja etimologia remonta a "luz", já foi sinônimo de oferendas a divindades. Tornou-se, depois, símbolo de distinção social. Agora, é expressão do prazer individual, singular, de tudo o que está além da satisfação das necessidades básicas.
Fenômenos cult como o dos jeans Mavi, sucesso de venda nos Estados Unidos são a exaltação desse conceito. Dentro dos bolso das calças, as pessoas colocam cartas de amor verdadeiras, a que o comprador responderá -esse é o pacto. Transformada em envelope de uma carta romântica, cada calça adquire uma singularidade. O cliente deseja receber esse carinho e correspondê-lo. A compra expressa e satisfaz esse desejo. Quer mais modernidade?
(LC)

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