São Paulo, domingo, 15 de agosto de 2004

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Hoje poluído, lago já serviu para nadar

DA REPORTAGEM LOCAL

Andando pelo parque da Aclimação para mostrar à Folha os problemas do lago, o diretor de manutenção dos parques no Depave, José Roberto Brandão, 54, tem um súbito ataque de nostalgia. "Eu já nadei aqui...", diz.
Diante do espanto de todos -afinal a água é suja, em alguns locais apresenta uma nata verde na superfície e exala um cheiro forte-, ele conta a história.
"Estudava aqui do lado e costumava cabular aula para vir com amigos ao parque. Pegávamos um barquinho a remo e íamos até o centro do lago. Lá mergulhávamos. O segurança fica louco da vida", lembra rindo. Isso foi em 62.
Uma década antes, nos anos 50, quando ainda eram namorados, Francisco e Ana Volpe já freqüentavam o Aclimação. Iam lá para namorar, e o lago era limpo.
"O parque sempre foi uma delícia. É maravilhoso, um dos melhores da cidade", diz Ana, 66. "Mas naquela época não tinha mau cheiro, nem problemas de poluição da água", completa.
Hoje a situação é diferente. "Quando cheguei, já senti um cheiro ruim", diz a nora do casal, Suzana Volpe, 30. "Não é sempre. Acho que piora se está mais quente", emenda Francisco, 75. A pequena Giulia Volpe, 2, neta de Francisco e Ana e filha de Suzana, é a terceira geração de fãs do Aclimação na família e a única que parece não ter do que reclamar.
"Apesar de o lago não ser limpo, ainda prefiro vir aqui do que ir ao Ibirapuera. Lá a poluição é pior. Às vezes forma uma camada verde sobre a água", diz Suzana, que mora nos Jardins (zona sul).
"Em certos dias, o mau cheiro incomoda e há realmente muita sujeira na beira do lago. É ruim até de olhar, então desisto de ficar perto. Mas, quando está melhor, como hoje, gosto de passear pela borda", conta a dona-de-casa Maria Amélia Carvalho Vaz, 75.
Quinta-feira passada, ela "passeava" pela margem do segundo lago do Ibirapuera numa cadeira de rodas, empurrada por um enfermeiro. Não se sentia nenhum odor, mas as bolhas saindo do meio da água denunciavam a atividade quase silenciosa de degradação do esgoto que chega ao lago. "Não são peixes, como muita gente pensa, é metano [gás gerado pela decomposição da matéria orgânica]", explicou o engenheiro Luiz Fernando Orsini Yazaki.
No outro extremo da cidade, na zona norte, alheio ao esgoto que polui o lago do parque Cidade de Toronto, o ex-jogador de futebol Jorge Luís, o Jorginho, 39, que atuou no Santos e no Palmeiras, entre outros, aproveitava o dia com o sobrinho Nicolas, 2.
Ele conta que corre quase todo dia em volta do lago e, apesar de nunca ter sentido mau cheiro, sabe que a água é poluída, tem muitas algas e às vezes lixo. "As pessoas não se preocupam em cuidar de nada. Seria muito melhor se fosse mais limpo." (MV)

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