São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 2008

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Kassab retira pedágio urbano de projeto

Um dia após enviar à Câmara proposta que incluía medida, prefeito, que é candidato à reeleição, diz ter havido "falha operacional"

Trecho que determinava a criação da cobrança estava incluso entre os 50 artigos da Política Municipal de Mudança Climática


JULIANA COISSI
EM SÃO PAULO

Um dia depois de enviar projeto ambiental à Câmara Municipal, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) decidiu retirar o artigo que autorizava o pedágio urbano. Segundo Kassab, que é candidato à reeleição e sempre adotou um discurso contra a medida, houve uma "falha operacional da prefeitura". Logo pela manhã, a prefeitura, em nota, anunciou que iria retirar o trecho do projeto. Em nova nota, à tarde, informou que já havia sido subtraído e, o projeto, reenviado à Câmara. O trecho que determinava a criação do pedágio urbano estava incluso entre os 50 artigos da Política Municipal de Mudança Climática. É uma espécie de plano diretor com metas em áreas como meio ambiente, trânsito e construção civil. "Foi uma falha operacional. Em vez de encaminhar um projeto, [a prefeitura] encaminhou outro. Não houve nenhum estresse, nenhuma crise", disse Kassab, para quem a medida é socialmente injusta. Ontem, o secretário Eduardo Jorge (Meio Ambiente) também afinou sua fala com a do chefe. "O importante é ter o projeto. Esse artigo não é o mais importante. O prefeito já tinha me falado [para suprimir o tema da proposta]." Entretanto, anteontem, quando questionado sobre a posição do prefeito, o secretário disse à Folha que Kassab é contrário ao pedágio até "a médio prazo", mas que essa é uma solução que não pode deixar de ser debatida. O secretário Alexandre de Moraes (Transportes) seguiu linha semelhante. "Não é socialmente justo", disse. Ele considera que a medida só tira das ruas os motoristas que não puderem pagar a tarifa.

"Estratégia horrorosa"
Para o cientista político Carlos Melo, do Ibmec-SP, falar sobre pedágio urbano é uma "estratégia horrorosa" do ponto de vista eleitoral. "Ou ele é diferente dos outros e resolveu encarar uma proposta desgastante, o que não acredito, ou houve mesmo um erro." Não há consenso entre os especialistas sobre a aplicação hoje do pedágio em São Paulo. Apesar de, em tese, favorável à medida, o urbanista José Valente Filho, do Instituto de Engenharia de São Paulo, disse que a cidade hoje não tem condições de implantar diretamente o pedágio urbano, sem que se crie melhorias no transporte público e nas calçadas, por exemplo. Para o urbanista Pedro Taddei Neto, da USP, não há saída a curto prazo senão o pedágio "dada a velocidade em que o problema se agrava e a lentidão de investimento no transporte de massa". Também o arquiteto Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba (PR), defende a idéia, mas não como medida isolada. "São Paulo precisa de projeto de mobilidade urbana."

Colaborou CATIA SEABRA, da Reportagem Local



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