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Kassab retira pedágio urbano de projeto
Um dia após enviar à Câmara proposta que incluía medida, prefeito, que é candidato à reeleição, diz ter havido "falha operacional"
Trecho que determinava a criação da cobrança estava incluso entre os 50 artigos da Política Municipal
de Mudança Climática
JULIANA COISSI
EM SÃO PAULO
Um dia depois de enviar projeto ambiental à Câmara Municipal, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) decidiu retirar o artigo que autorizava o pedágio
urbano. Segundo Kassab, que é
candidato à reeleição e sempre
adotou um discurso contra a
medida, houve uma "falha operacional da prefeitura".
Logo pela manhã, a prefeitura, em nota, anunciou que iria
retirar o trecho do projeto. Em
nova nota, à tarde, informou
que já havia sido subtraído e, o
projeto, reenviado à Câmara.
O trecho que determinava a
criação do pedágio urbano estava incluso entre os 50 artigos
da Política Municipal de Mudança Climática. É uma espécie
de plano diretor com metas em
áreas como meio ambiente,
trânsito e construção civil.
"Foi uma falha operacional.
Em vez de encaminhar um projeto, [a prefeitura] encaminhou
outro. Não houve nenhum estresse, nenhuma crise", disse
Kassab, para quem a medida é
socialmente injusta.
Ontem, o secretário Eduardo
Jorge (Meio Ambiente) também afinou sua fala com a do
chefe. "O importante é ter o
projeto. Esse artigo não é o
mais importante. O prefeito já
tinha me falado [para suprimir
o tema da proposta]."
Entretanto, anteontem,
quando questionado sobre a
posição do prefeito, o secretário disse à Folha que Kassab é
contrário ao pedágio até "a médio prazo", mas que essa é uma
solução que não pode deixar de
ser debatida.
O secretário Alexandre de
Moraes (Transportes) seguiu
linha semelhante. "Não é socialmente justo", disse. Ele
considera que a medida só tira
das ruas os motoristas que não
puderem pagar a tarifa.
"Estratégia horrorosa"
Para o cientista político Carlos Melo, do Ibmec-SP, falar sobre pedágio urbano é uma "estratégia horrorosa" do ponto de
vista eleitoral. "Ou ele é diferente dos outros e resolveu encarar uma proposta desgastante, o que não acredito, ou houve
mesmo um erro."
Não há consenso entre os especialistas sobre a aplicação
hoje do pedágio em São Paulo.
Apesar de, em tese, favorável
à medida, o urbanista José Valente Filho, do Instituto de Engenharia de São Paulo, disse
que a cidade hoje não tem condições de implantar diretamente o pedágio urbano, sem
que se crie melhorias no transporte público e nas calçadas,
por exemplo.
Para o urbanista Pedro Taddei Neto, da USP, não há saída a
curto prazo senão o pedágio
"dada a velocidade em que o
problema se agrava e a lentidão
de investimento no transporte
de massa". Também o arquiteto Jaime Lerner, ex-prefeito de
Curitiba (PR), defende a idéia,
mas não como medida isolada.
"São Paulo precisa de projeto
de mobilidade urbana."
Colaborou CATIA SEABRA, da Reportagem Local
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