São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 2008

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Abrigo de ilustres, cemitério da Consolação faz 150 anos com ares de ponto turístico

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os pés de Mário de Andrade não foram enterrados na rua Aurora, seu coração paulistano não acabou afundado no Páteo do Colégio nem sua língua no Alto do Ipiranga para cantar a liberdade, como pediu em um de seus poemas.
Mário de Andrade arrumou morada definitiva no cemitério da Consolação, que completa hoje 150 anos.
Primeiro cemitério público de São Paulo, o Consolação abriga personalidades, como os ex-presidentes Campos Salles (1841-1913) e Washington Luís (1869-1957), o escritor Monteiro Lobato (1882-1948) e os companheiros modernistas de Mário: a pintora Tarsila do Amaral (1886-1973) e o também escritor Oswald de Andrade (1890-1954).
Foi justo a rua 17 do cemitério que Oswald escolheu como local de celebração de seu casamento com a escritora Patrícia Galvão, a Pagu, em frente ao túmulo do pai, em 1930. Acabou sepultado lá.
Para o historiador Eduardo Coelho Morgado Rezende, autor de cinco livros sobre cemitérios, o da Consolação tornou-se um espaço de encontro e de turismo, graças a sua arte tumular. Pelos seus corredores, entre os mais de 8.000 jazigos cravados numa área de 77 mil m2, não é difícil encontrar olhares compenetrados de designers, fotógrafos e estudantes de artes plásticas.
Estão lá, por exemplo, obras do escultor Victor Brecheret (1894-1955), como "O Sepultamento", no túmulo da mecenas Olívia Guedes Penteado. "Há também um anjo de Brecheret, que, ao contrário dos que estamos acostumados a ver, traz traços brasileiros, mestiços", diz o historiador.
Segundo Rezende, o cemitério da Consolação isola -como todos os cemitérios em relação a seus entornos- o bairro de Higienópolis (centro).
"A cidade é construída pela lógica do capitalismo, pensada para os carros. Os cemitérios separam e protegem os bairros e ainda valorizam os imóveis ao redor", afirma.
Rezende diz que, na maioria das cidades, o primeiro cemitério a ser construído sempre acaba abrigando os membros ilustres da sociedade. "Ao contrário de cemitérios como o da Vila Formosa [zona leste], que é um lugar de coleta de parafinas para quem solta balões e pipas, o da Consolação é um espaço das celebridades."
Hoje, o metro quadrado no cemitério sai por R$ 3.173.
Se Mário de Andrade não teve o corpo espalhado pela capital, ao menos realizou o desejo de ser enterrado em São Paulo. "Quando eu morrer quero ficar/ Não contem aos meus inimigos/ Sepultado em minha cidade/ Saudade", escreveu.

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