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Abrigo de ilustres, cemitério da Consolação faz 150 anos com ares de ponto turístico
ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os pés de Mário de Andrade
não foram enterrados na rua
Aurora, seu coração paulistano não acabou afundado no
Páteo do Colégio nem sua língua no Alto do Ipiranga para
cantar a liberdade, como pediu
em um de seus poemas.
Mário de Andrade arrumou
morada definitiva no cemitério da Consolação, que completa hoje 150 anos.
Primeiro cemitério público
de São Paulo, o Consolação
abriga personalidades, como
os ex-presidentes Campos Salles (1841-1913) e Washington
Luís (1869-1957), o escritor
Monteiro Lobato (1882-1948)
e os companheiros modernistas de Mário: a pintora Tarsila
do Amaral (1886-1973) e o
também escritor Oswald de
Andrade (1890-1954).
Foi justo a rua 17 do cemitério que Oswald escolheu como
local de celebração de seu casamento com a escritora Patrícia Galvão, a Pagu, em frente
ao túmulo do pai, em 1930.
Acabou sepultado lá.
Para o historiador Eduardo
Coelho Morgado Rezende, autor de cinco livros sobre cemitérios, o da Consolação tornou-se um espaço de encontro
e de turismo, graças a sua arte
tumular. Pelos seus corredores, entre os mais de 8.000 jazigos cravados numa área de
77 mil m2, não é difícil encontrar olhares compenetrados
de designers, fotógrafos e estudantes de artes plásticas.
Estão lá, por exemplo, obras
do escultor Victor Brecheret
(1894-1955), como "O Sepultamento", no túmulo da mecenas Olívia Guedes Penteado.
"Há também um anjo de Brecheret, que, ao contrário dos
que estamos acostumados a
ver, traz traços brasileiros,
mestiços", diz o historiador.
Segundo Rezende, o cemitério da Consolação isola -como todos os cemitérios em relação a seus entornos- o bairro de Higienópolis (centro).
"A cidade é construída pela
lógica do capitalismo, pensada
para os carros. Os cemitérios
separam e protegem os bairros
e ainda valorizam os imóveis
ao redor", afirma.
Rezende diz que, na maioria
das cidades, o primeiro cemitério a ser construído sempre
acaba abrigando os membros
ilustres da sociedade. "Ao contrário de cemitérios como o da
Vila Formosa [zona leste], que
é um lugar de coleta de parafinas para quem solta balões e
pipas, o da Consolação é um
espaço das celebridades."
Hoje, o metro quadrado no
cemitério sai por R$ 3.173.
Se Mário de Andrade não
teve o corpo espalhado pela
capital, ao menos realizou o
desejo de ser enterrado em
São Paulo. "Quando eu morrer
quero ficar/ Não contem aos
meus inimigos/ Sepultado em
minha cidade/ Saudade", escreveu.
NA FOLHA ONLINE
www.folha.com.br/082279
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