São Paulo, Domingo, 15 de Agosto de 1999
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CRIME
Chance de ser assassinado na área metropolitana do ES é 63 vezes maior que a de ganhar na Loteria Federal
Vitória bate SP e Rio em homicídios

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local

Nem Rio de Janeiro nem São Paulo. A Grande Vitória (ES) é a região metropolitana mais violenta do país. É o que mostram os últimos dados de mortalidade divulgados pelo Datasus (Ministério da Saúde) na Internet.
Em 1997, a capital capixaba e os municípios ao seu redor registraram, em média, uma taxa de 84 homicídios por 100 mil habitantes. Esse número é igual ao do Jardim Ângela -distrito da periferia paulistana que ficou famoso por sua violência.
Segundo os dados do Datasus, nenhuma outra causa específica matou mais pessoas na região metropolitana de Vitória do que o assassinato em 1997.
Todas as formas de câncer juntas vitimaram 884 moradores da região, por exemplo, enquanto as vítimas de assassinato chegaram a 1.018 -numa população de 1,2 milhão (84/100 mil habitantes).
Com essa marca, a Grande Vitória tornou-se a aglomeração urbana mais perigosa para qualquer faixa etária, pulando à frente das regiões metropolitanas do Rio e de São Paulo, cujas taxas foram, respectivamente, de 59/100 mil habitantes e 55/100 mil em 1997.
Na verdade, Rio e São Paulo, que recebem a maior atenção da mídia porque têm o maior número absoluto de assassinatos, estão em 3º e 4º lugares no ranking da violência metropolitana nacional.
Os dados processados pelo Datasus mostram que, com um crescimento de 37% em relação ao ano anterior, a taxa de homicídio da Grande Recife saltou para a 2ª colocação em 1997: 62/100 mil.


Taxa de risco
A taxa indica o risco de uma pessoa ser morta em uma determinada área em um ano específico. Assim, a chance de um habitante da Grande Vitória ser assassinado foi de 84 vezes em 100 mil durante o ano de 1997.
Em outras palavras, era 63 vezes mais fácil um morador dessa região metropolitana morrer por homicídio naquele ano do que um apostador ganhar na Loteria Federal comprando apenas um bilhete.
Mas esse risco não é igual para toda a população da área. No caso da campeã do ranking de 1997, a chance de ser assassinado era quase duas vezes maior em Serra (100/100 mil) do que em Viana (57/100 mil), ambos municípios da Grande Vitória.


Faixa etária
Os jovens adultos são as principais vítimas da violência na região metropolitana do Espírito Santo. Para aqueles entre 20 e 29 anos, o risco de ser assassinado foi de 183 vezes em 100 mil em 1997.
Vitória já havia sido considerada a capital mais perigosa para jovens e adolescentes em levantamento feito pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) até 1996.
Desde então a situação piorou, com um aumento de 38% na taxa de homicídios de jovens.
Mesmo sem os municípios vizinhos, a cidade de Vitória aparece em 1º lugar no ranking de homicídio por habitante entre as capitais brasileiras em 1997.
Com uma taxa de 77/100 mil, está pouco à frente de Recife (74/100 mil). Em 3º lugar, com 55/100 mil, vem São Paulo, quase empatado com o Rio (54/100 mil).
Em patamar semelhante surgem Cuiabá (50/100 mil) e Macapá (47/100 mil). Na 7ª colocação, Campo Grande tem uma taxa de 40 homicídios por 100 mil habitantes -equivalente à média de todas as capitais.
Vitória e Recife chegaram ao topo do ranking de homicídios após um crescimento de, respectivamente, 40% e 39% em relação a 1996 -enquanto as taxas paulistana e carioca ficavam praticamente estáveis.
No lado oposto da classificação aparecem as capitais de Tocantins e Santa Catarina: Palmas e Florianópolis, com 7/100 mil e 11/100 mil, respectivamente.
Ou seja, o risco de um morador de Vitória (a mais violenta das capitais) morrer assassinado foi, em 1997, dez vezes maior do que o corrido por um habitante de Palmas (a menos violenta).


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