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PERFIL
Suspeito de corrupção, vereador põe em risco um dos sobrenomes mais tradicionais da política paulista
Investigação ameaça marca Faria Lima
OTÁVIO CABRAL
da Reportagem Local
O pai foi deputado federal. Um primo, deputado estadual. Um tio-avô,
presidente da Petrobras e governador do Rio de Janeiro. Outro tio-avô, ex-prefeito de São Paulo, hoje é nome de avenida. Ele, Paulo
Roberto Faria Lima, é vereador
pelo PMDB paulistano. Envolvido em acusações de corrupção,
corre o risco de perder o mandato
e sujar um dos sobrenomes mais
tradicionais da política brasileira.
Paulo Roberto foi o primeiro
vereador envolvido no escândalo
de corrupção que assola a Câmara
Municipal. Mas sua influência sobre os demais vereadores e seu
modo agressivo de agir nos bastidores conseguiram desviar o foco
das investigações para nomes
mais fracos, como Vicente Viscome, José Izar e Maeli Vergniano.
Em dezembro, Marco Antonio
Zeppini, chefe dos fiscais da Regional de Pinheiros, foi preso extorquindo R$ 30 mil de Soraia da
Silva, que tentava abrir uma academia de ginástica. A prisão desencadeou a investigação e a CPI
da máfia da propina. Como Paulo
Roberto Faria Lima controlava
politicamente a regional, seu nome veio à tona, como beneficiário
do esquema. Mas parou por aí.
Oito meses depois, Zeppini disse que estava cansado de "levar a
culpa sozinho" e incriminou o vereador. Disse que era obrigado a
arrecadar R$ 120 mil mensais, que
eram destinados à campanha do
pai do vereador, José Roberto Faria Lima, candidato derrotado a
deputado estadual no ano passado pelo PPB. Paulo Roberto nega,
mas dois funcionários da regional
confirmam o depoimento de Zeppini. O vereador está sendo investigado pela polícia e corre o risco
de ter um processo de cassação
aberto na Câmara.
Esse é o maior escândalo envolvendo o sobrenome Faria Lima,
presente no cenário político brasileiro desde a década de 50. Mas
não é o primeiro. Em abril de
1968, seu tio-avô, o brigadeiro José Vicente de Faria Lima, era prefeito de São Paulo pelo MDB. Foi
acusado pelo vereador oposicionista Eduardo de Souza Queirós
(Arena) de utilizar material de
construção e funcionários da Divisão de Parques e Jardins da prefeitura na obra de sua casa de
campo, em Mairiporã (SP).
A denúncia foi descoberta
quando um caminhão da prefeitura capotou próximo à casa de
campo. O brigadeiro confirmou
que o material e o funcionário foram enviados à sua propriedade.
Mas disse que não havia autorizado e culpou um assessor. A oposição pediu uma sindicância, mas a
maioria governista na Câmara
conseguiu abafar o caso.
Anos depois, o pai do vereador,
José Roberto Faria Lima, entrou
na política. Foi deputado por duas
vezes, entre 1970 e 1978. Desde então, a carreira política entrou em
decadência. Perdeu eleições para
senador, vice-governador, deputado estadual e deputado federal.
Mesmo assim, conseguiu o cargo
de diretor da Prodam (empresa
municipal de processamento de
dados) no governo Maluf (93-96).
Segundo o Ministério Público,
José Roberto utilizou o cargo para
nomear funcionários fantasmas.
Por isso, ele está respondendo a
processo. Se condenado, pode
perder os direitos políticos para
sempre e ter de pagar uma multa
de cerca de R$ 700 mil.
Mas o clã Faria Lima não é só
marcado por irregularidades. O
sobrenome é associado também a
administradores competentes e
modernizadores. Como Floriano
Peixoto Faria Lima, tio-avô do vereador e irmão do brigadeiro. Em
três anos à frente da Petrobras,
aumentou 25% a produção brasileira de petróleo.
O brigadeiro José Vicente é considerado um dos melhores prefeitos da história de São Paulo. Eleito
em 1965 com 30% dos votos, deixou obras que ainda marcam a
paisagem paulistana, como as
marginais, a praça Roosevelt e as
avenidas 23 de Maio, Radial Leste
e Radial Oeste, rebatizada como
Brigadeiro Faria Lima após sua
morte. Foi também o idealizador
das administrações regionais, que
30 anos depois trouxeram problemas a vários vereadores, inclusive
o seu sobrinho-neto.
Com tanta influência familiar,
Paulo Roberto decidiu ainda jovem seguir a carreira política. Já
na Universidade Mackenzie, onde
cursou engenharia de produção,
participou da política estudantil.
Pouco após a formatura, disputou
a eleição para vereador, em 1988.
Perdeu, mas não desistiu.
Quatro anos depois, foi eleito
com 10.731 votos. Ganhou o controle político da Administração
Regional do Jabaquara e viu seu
eleitorado triplicar. Em 1996, foi
reeleito com 39.730 votos. A boa
votação garantiu a ele uma regional de maior prestígio, a de Pinheiros, que controlou entre 1997
e o início deste ano.
Mas não foi só a votação expressiva que garantiu poder a Paulo
Roberto Faria Lima. Vereadores
contam que ele é o parlamentar
mais bem informado da Câmara e
utiliza o que sabe para pressionar
adversários e aliados.
Segundo um colega de partido,
Paulo Roberto grava todas as conversas telefônicas e anda sempre
com um gravador no bolso. Depois, utiliza as fitas para conseguir
apoio. Com esse método, disse o
colega de partido, conseguiu o
controle da Regional de Pinheiros
e influenciou na eleição de dois
presidentes da Casa: Nelo Rodolfo e Armando Mellão.
Um assessor do vereador explica que ele prefere não ocupar a
presidência, mas manipular o
presidente. Explica a opção com
uma frase: "É melhor ter poder
que ter cargo".
O corpo é outra forma de pressão utilizada por Paulo Roberto
para intimidar adversários. Forte,
com mais de 1,90 m, é faixa preta
de caratê e de taekwondo e se
exercita diariamente. Um inimigo
político afirma que o aperto de
mão do vereador é tão forte que já
é uma espécie de ameaça.
Sempre agindo nos bastidores,
sem aparecer na imprensa, o caçula do clã Faria Lima passou
mais tempo que o habitual na Câmara na semana passada. Trabalhando nos vários computadores
de seu gabinete e navegando na
Internet, armou um plano para
desviar o foco de investigação.
Convenceu a colega de bancada
Miriam Athiê a apresentar um pedido de CPI, apenas com a intenção de atrapalhar a oposição, que
também quer uma comissão de
inquérito. E, mesmo sabendo que
o pedido é ilegal, pediu a própria
cassação. Apenas para ver o processo arquivado.
Com isso, tem dois objetivos:
salvar o próprio mandato e não
sujar o sobrenome Faria Lima,
sua maior bandeira eleitoral.
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