São Paulo, Quarta-feira, 15 de Setembro de 1999
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VIOLÊNCIA
Carlos Cerqueira foi baleado no saguão do prédio onde trabalha o ex-vice-governador Nilo Batista
Ex-chefe da PM do Rio é assassinado

SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio

Secretário de Polícia Militar nas duas vezes em que Leonel Brizola governou o Estado do Rio, o coronel Carlos Magno Nazareth Cerqueira foi morto ontem à tarde com um tiro no olho direito.
Cerqueira foi assassinado no saguão do prédio onde trabalha o advogado Nilo Batista, ex-vice-governador.
Duas horas depois, a polícia dava o crime como praticamente elucidado. O assassino seria o sargento Sidney Rodrigues, da PM, atingido, em seguida ao crime, por um tiro na nuca, supostamente disparado por um segurança da terma Aeroporto, que funciona no térreo do edifício.
Cerqueira chegou ao prédio (avenida Beira Mar, 216, centro) pouco depois das 16h. Ele trabalhava com Nilo Batista no Instituto Carioca de Criminologia, uma ONG (organização não-governamental).
Testemunhas contaram aos policiais responsáveis pela investigação que o sargento atirou com um revólver assim que o coronel parou no saguão à espera do elevador.
Segundo as testemunhas, o tiro atraiu pelo menos dois seguranças da terma. O suspeito teria enfrentado os seguranças, mas foi baleado. Às 19h, ele estava sendo operado no hospital Souza Aguiar (centro).
Cerqueira morreu na hora. Há controvérsias sobre se ele esboçou reação. Debaixo do cadáver, o perito Oswaldo de Paiva Netto, do Instituto de Criminalística Carlos Éboli, achou um coldre vazio. A arma não apareceu.
O perito encontrou um cápsula de bala calibre 38 no corredor dos fundos do prédio. Encontrou ainda uma marca de tiro na parede do saguão, mas a cápsula não foi localizada.
Foi apreendido no local o revólver 38 que teria sido usado pelo assassino, A arma tinha quatro cápsulas deflagradas.
Pessoas que trabalhavam no prédio contaram ter ouvido cinco ou seis disparos. A polícia recebeu de um flanelinha (pessoa que toma conta de carros na rua) a informação de que um homem negro e alto teria fugido em correria logo após os tiros.
Retrato falado do suposto assassino coincide com o semblante do sargento, disse à noite o delegado Gilberto Ribeiro, da 5ª DP, delegacia responsável pela área onde o crime ocorreu.
Pai de sete filhos, Cerqueira estava aposentado na Polícia Militar, desde o fim do segundo governo de Brizola, em 94.
Estudioso da questão da violência, ele trabalhava como vice-presidente da ONG, que funciona no escritório de Nilo Batista.

Interdição
Depois do crime, o prédio foi interditado. Todas as pessoas que estavam nos escritórios de seus 13 andares foram cadastradas. Ninguém entrava ou saía do prédio sem autorização.
O coronel Valmir Brum, da Central de Inquéritos da Procuradoria Geral de Justiça, disse que vingança é a hipótese mais provável.
"Quem fez isso, fez para matar", afirmou ele.

Basquete
Subsecretário da Casa Militar no segundo governo Brizola, o coronel Heleno Barbosa disse que Cerqueira se encontraria no prédio com Nilo Batista.
Os dois seguiriam para uma partida de basquete, esporte preferido do coronel.
"O coronel Cerqueira era um homem íntegro, defensor dos direitos humanos e que instituiu o policiamento comunitário. Foi um crime bárbaro", afirmou Brum.


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