São Paulo, domingo, 15 de setembro de 2002

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Vizinhos vibram com a desativação

DO "AGORA"

"Já vai tarde!" Assim, boa parte dos vizinhos da Casa de Detenção de São Paulo, no Carandiru (zona norte), se referem ao fim da maior prisão da América Latina.
Uma dessas pessoas é a dona-de-casa Elaudirina Ract, 89, há 25 anos vivendo quase em frente à muralha do presídio. "A gente tinha uma tática que era assim: quando via helicóptero no ar e ouvia barulho de sirene, já podia trancar a casa inteira e esperar pela correria. Era rebelião, fuga ou alguma confusão na Detenção", contou a dona-de-casa.
Como faz 90 anos em dezembro, dona Elaudirina disse que a desativação da Detenção foi um presente. "Nossa, você não sabe como isso vai melhorar a vida de quem vive aqui", disse.
Um outro morador da av. Ataliba Leonel, Marco Antônio Cabral, 44, não se conteve ao ser perguntado sobre o que pensava sobre o fim do lugar. Com as mãos estendidas para o alto, agradeceu a Deus pelo fim da prisão.
Houve casos de moradores da região surpreendidos em casa por detentos saindo de túneis. No ano passado, 108 fugiram do complexo por meio de uma escavação que atingiu a rede pluvial subterrânea da Ataliba Leonel.

Interesse
Curiosidade é outro sentimento que desperta entre os vizinhos da Detenção. O vidraceiro Pedro Fernando Costa, 22, pretende visitar os pavilhões do presídios.
A Secretaria da Administração Penitenciária deve liberar a visitação pública a partir da próxima sexta-feira. "Tenho muita curiosidade de conhecer como é esse outro mundo aí dentro", disse.
O mercado imobiliário em torno da Detenção também já começa a sofrer alterações. Segundo o gerente da Bellacasa Empreendimentos Imobiliários, Juvenal de Oliveira, 50, os aluguéis de casas na área já pode apresentar um acréscimo de até 20%.
"Um apartamento de um dormitório que custava R$ 350,00, depois do fim da Detenção, poderá subir para uns R$ 400,00", afirmou o agente imobiliário.
No dia 10 de outubro, o governo do Estado deverá implodir os pavilhões 6, 8 e 9. Vão sobrar quatro (veja quadro nesta página).
Os prédios que sobrarem serão transformados em uma unidade da Fatec (Faculdade de Tecnologia de São Paulo), com 5.000 vagas para cursos profissionalizantes, em um centro cultural, outro para trabalhos de organizações não-governamentais e uma biblioteca, com programa de inclusão à internet -acesso gratuito.
Haverá ainda um parque com dez quadras esportivas, anfiteatro e estacionamento para cerca de 300 veículos. Dentro do Carandiru está a última reserva de mata atlântica da capital.
O projeto de reutilização é uma versão atualizada do que venceu, em 99, concurso promovido pelo governo do Estado. (AC)


Colaborou a Reportagem Local

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