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Mães alimentam errado bebês, diz pesquisa
Segundo o estudo, 54,6% de 35.173 crianças entre seis meses e um ano tinham alimentação complementar inadequada
77% das mães disseram trocar leite materno por outros tipos de leite; OMS sugere que o leite materno seja dado até os 2 anos
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais da metade das crianças
do Estado de São Paulo com
idade inferior a um ano estão
sendo alimentadas de forma incorreta, o que aumenta o risco
de anemia e obesidade na primeira infância, revela um levantamento da Secretaria Estadual da Saúde.
A pesquisa avaliou 35.173
crianças entre seis meses e um
ano entre os anos de 2003 e
2005, durante as campanhas de
vacinação. Desse total, 19.205
(54,6%) apresentaram alimentação complementar inadequada após os seis meses de vida.
Segundo o estudo, 77% das
mães entrevistadas disseram
ter substituído o leite materno
por outros tipos de leite. Tanto
o Ministério da Saúde como a
OMS (Organização Mundial da
Saúde) recomendam que o leite
materno seja dado até os dois
anos de idade, junto com outros alimentos.
Porém, muitos pediatras costumam "dispensar" a amamentação a partir dos seis meses,
conforme a Folha apurou. A
justificativa é que a orientação
da amamentação até os dois
anos tem como alvo a população menos favorecida, mais sujeita à desnutrição, e não precisa ser seguida à risca por mães
que possam oferecer aos filhos
uma alimentação saudável.
Outro dado surpreendeu os
pesquisadores: 63% das crianças estão sendo alimentadas
com mingaus de leite, cereais
ou farinhas, considerados muito calóricos, o que aumenta as
chances de obesidade infantil.
Muitas vezes, os mingaus substituem as papinhas salgadas
com legumes, carnes e feijão,
que são mais nutritivas.
"As pessoas pensam que
criança gordinha é sinônimo de
criança saudável. A mídia estimula isso. No entanto, o bebê
gordinho pode caminhar para a
obesidade", alerta a pediatra
Graciete Viera, presidente do
departamento de amamentação da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).
Segundo Sônia Regina Saldiva, coordenadora da área de
alimentação e nutrição da Secretaria Estadual da Saúde, a
partir dos seis meses, em vez de
complementar a alimentação
da criança com cereais, arroz,
feijão, legumes, verduras e carnes, muitas mães continuam
dando ao bebê outros tipos de
leite, com a adição da farinha.
"Nesta fase, a criança precisa
continuar com o leite materno,
e também receber alimentos
que dão energia, ferro, através
do feijão e da carne. Mas as
mães ficam perdidas, achando
que a criança não tem maturidade para comidas mais pastosas. Então, ela prioriza uma alimentação baseada em leite ou
líquida demais."
Saldiva explica que, na faixa
etária pesquisada, a prevalência de anemia nas crianças é,
em média, de 50%. O dado foi
encontrado em outras pesquisas feitas no Estado.
Para ela, o problema é mais
de falta de informação do que
recursos financeiros, já que a
papinha salgada pode ser feita
com os mesmos alimentos consumidos em casa.
Segundo o pediatra Cid Pinheiro, coordenador do serviço
de pediatria do hospital São
Luiz e professor da Santa Casa,
as mães são orientadas a amamentar o filho no peito "o
maior tempo possível".
"Além do vínculo emocional,
explicamos que o leite materno
tem substâncias que conferem
imunidade ao organismo do
bebê." Ele diz, porém, que muitas mães argumentam que conciliar amamentação com trabalho fora é impraticável.
É o caso de Ellen Belasco de
Souza, 29. Após os quatro meses de licença-maternidade, ela
precisou voltar ao trabalho no
salão de beleza e deixar a filha
Vitória aos cuidados da mãe.
O fato de só poder amamentar o bebê de manhã e à noite,
contribuiu para que seu leite
"secasse" já no quinto mês de
aleitamento. "Quando fui mãe
a primeira vez, há nove anos,
não trabalhava e amamentei
minha filha por oito meses."
Com MARCIO PINHO , da Reportagem Local
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