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Sacoleiras africanas vêm a São Paulo fazer compras
Cerca de 700 compradoras provenientes da África circulam no centro todos os dias
Elas procuram, principalmente, as roupas das personagens de novelas brasileiras veiculadas naquele continente
DO "AGORA"
Elas são muito discretas e
desconfiadas. Parecidas com as
brasileiras, não são notadas entre consumidores do Brás e do
Bom Retiro (centro de SP). Mas
os vendedores conhecem bem
as sacoleiras africanas.
Vindas principalmente de
Angola (sul do continente), elas
deixam um bom dinheiro nos
caixas daqui. O motivo que as
leva a cruzar o oceano Atlântico
está na tela da televisão: as roupas usadas pelas atrizes das novelas brasileiras veiculadas por
lá fazem moda.
O dia da chegada das sacoleiras africanas normalmente é
um pouco tenso, principalmente para as novatas. O assédio
dos brasileiros começa já no aeroporto internacional de São
Paulo. Todos os dias, funcionários de hotéis do centro da capital e guias especializados as esperam na saída dos terminais
de desembarque.
Cansadas das viagens, que
têm de 7h a 13h de duração, as
sacoleiras vão se hospedar em
locais cujos donos já as cativaram em viagens anteriores.
No dia seguinte, elas vão se
juntar às cerca de 700 conterrâneas que compram nas lojas
do centro diariamente, segundo estimativa das associações
de lojistas do Bom Retiro e do
Brás. No fim de ano, o número
chega a passar dos 1.200.
O fato de normalmente carregarem de US$ 3 mil a US$ 15
mil (de R$ 6,3 mil a R$ 31,5 mil)
as deixa especialmente apreensivas. Elas dizem que, para cada
dólar investido em produtos
brasileiros, ganham três na revenda em seus países.
Guerra
Cristina Faisca, dona de uma
loja na região, afirma que "o segredo para vencer o receio das
africanas é fazer com que o sentimento de amizade esteja presente na relação comercial".
O vigor que as angolanas demonstram no trabalho é reflexo de espíritos calejados por
quase trinta anos de guerra civil. Há quatro anos os conflitos
cessaram no país. Agora, a força
usada para sobreviver aos horrores da guerra é direcionada
para a luta pela melhora da situação econômica de suas famílias, por meio do comércio.
É o que pensa a comerciante
Gracinda Maria, 39. Ela chegou
ao Brasil no começo da semana
passada, depois de passar alguns dias na China, em busca
de produtos com bons preços.
"A mulher angolana é muito
batalhadora", diz.
O Brasil também recebe sacoleiras de outras países africanos de língua portuguesa: Moçambique (cerca de 20% do total), Guiné-Bissau e Cabo Verde (aproximadamente 5% cada
um).
(FLÁVIO FERREIRA)
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