São Paulo, domingo, 15 de outubro de 2006

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Sacoleiras africanas vêm a São Paulo fazer compras

Cerca de 700 compradoras provenientes da África circulam no centro todos os dias

Elas procuram, principalmente, as roupas das personagens de novelas brasileiras veiculadas naquele continente

DO "AGORA"

Elas são muito discretas e desconfiadas. Parecidas com as brasileiras, não são notadas entre consumidores do Brás e do Bom Retiro (centro de SP). Mas os vendedores conhecem bem as sacoleiras africanas.
Vindas principalmente de Angola (sul do continente), elas deixam um bom dinheiro nos caixas daqui. O motivo que as leva a cruzar o oceano Atlântico está na tela da televisão: as roupas usadas pelas atrizes das novelas brasileiras veiculadas por lá fazem moda.
O dia da chegada das sacoleiras africanas normalmente é um pouco tenso, principalmente para as novatas. O assédio dos brasileiros começa já no aeroporto internacional de São Paulo. Todos os dias, funcionários de hotéis do centro da capital e guias especializados as esperam na saída dos terminais de desembarque.
Cansadas das viagens, que têm de 7h a 13h de duração, as sacoleiras vão se hospedar em locais cujos donos já as cativaram em viagens anteriores.
No dia seguinte, elas vão se juntar às cerca de 700 conterrâneas que compram nas lojas do centro diariamente, segundo estimativa das associações de lojistas do Bom Retiro e do Brás. No fim de ano, o número chega a passar dos 1.200.
O fato de normalmente carregarem de US$ 3 mil a US$ 15 mil (de R$ 6,3 mil a R$ 31,5 mil) as deixa especialmente apreensivas. Elas dizem que, para cada dólar investido em produtos brasileiros, ganham três na revenda em seus países.

Guerra
Cristina Faisca, dona de uma loja na região, afirma que "o segredo para vencer o receio das africanas é fazer com que o sentimento de amizade esteja presente na relação comercial".
O vigor que as angolanas demonstram no trabalho é reflexo de espíritos calejados por quase trinta anos de guerra civil. Há quatro anos os conflitos cessaram no país. Agora, a força usada para sobreviver aos horrores da guerra é direcionada para a luta pela melhora da situação econômica de suas famílias, por meio do comércio.
É o que pensa a comerciante Gracinda Maria, 39. Ela chegou ao Brasil no começo da semana passada, depois de passar alguns dias na China, em busca de produtos com bons preços. "A mulher angolana é muito batalhadora", diz.
O Brasil também recebe sacoleiras de outras países africanos de língua portuguesa: Moçambique (cerca de 20% do total), Guiné-Bissau e Cabo Verde (aproximadamente 5% cada um). (FLÁVIO FERREIRA)


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