São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 2002

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Para psicólogo, lei não rege afeto

DA REPORTAGEM LOCAL

Osvaldo terá de reescrever a sua história a partir da descoberta de que ele é o Pedro procurado há 16 anos por seus pais biológicos. O drama poderá ser pior se a Justiça tratá-lo como um objeto que deve ser devolvido ao dono.
Essas são algumas das conclusões de três especialistas ouvidos pela Folha. Para eles, a tendência natural é o adolescente se agarrar aos elementos que constituem a sua identidade -a família e o nome que está habituado a usar.
"Isso é um caldeirão de sentimentos", diz a psicoterapeuta Maria Tereza Maldonado, autora de 25 livros sobre questões familiares, entre os quais "Os Caminhos do Coração" (Editora Saraiva), que trata de adoção.
"A revelação súbita de uma nova origem gera na pessoa uma sensação de irrealidade", afirma Maria Tereza, para quem a mudança de nome é significativa. "A consequência disso é profunda e precisa de um acompanhamento profissional."
O registro com o nome de Pedro é anterior ao de Osvaldo, que foi considerado falso pela Justiça. Isso, no entanto, não tem importância para a psicanalista Anna Verônica Mautner. "Nome não é essência. Tantas pessoas o mudam para se salvar. O problema é, de repente, sentir-se numa situação falsa", afirma.
Osvaldo (ou Pedro) deve começar a rever a sua história pela mãe adotiva. Na opinião de Anna Verônica, é nela que reside o mistério. "Estranha essa situação de engodo por amor. Por que ela o teria sequestrado?"
Seja qual for a situação, para o psicanalista Jorge Forbes a Justiça está diante de uma situação sobre a qual não se pode legislar. "Mesmo nos exames de DNA, o que se consegue é reaver os direitos de herança. É impossível devolver Pedro como produto de um roubo, assim como exigir das leis o domínio sobre o afeto", diz.


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