São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 2002

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NARCOTRÁFICO

Investigação da Polícia Federal revelou poder do ex-garimpeiro Leonardo Dias Mendonça, preso na semana passada

Cem "laranjas" lavaram dinheiro de quadrilha

ALESSANDRO SILVA
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA E GOIÂNIA

O dinheiro do crime organizado transformou o ex-garimpeiro Leonardo Dias Mendonça, 39 -que já teve apenas uma loja de material de garimpo em Roraima-, em um dos principais "barões" do narcotráfico do país, segundo investigações da Polícia Federal. Na semana passada, a PF prendeu 24 pessoas por suposta ligação com a quadrilha de Mendonça, na ação batizada de Operação Diamante, realizada em nove Estados.
O esquema tem proporções tão grandes que a polícia avalia que terá de abrir cem inquéritos paralelos ao que levou à prisão do grupo para investigar a movimentação financeira da ""família" montada por Mendonça ao longo dos últimos cinco anos.
Esse é o número aproximado de ""laranjas" que a quadrilha utilizou para lavar dinheiro e pagar contas das operações. Um desses depósitos chegou a US$ 180 mil dólares, cerca de R$ 670 mil, creditados por um doleiro para o também traficante Emival Borges das Dores, preso na Operação Diamante. Borges das Dores e Mendonça estão na lista dos traficantes mais procurados pelo governo americano.
O poder financeiro de Mendonça teria feito crescer sua influência sobre políticos e magistrados. Gravações telefônicas feitas pela PF devem levar o Supremo Tribunal Federal a investigar dois desembargadores do TRF (Tribunal Regional Federal) da 1ª Região e um ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) por suposto envolvimento com esquema de venda de habeas corpus para narcotraficantes.
O esquema envolveria ainda o deputado federal Pinheiro Landim (PMDB-CE) e assessores de seu gabinete, como o motorista José Antonio de Souza, também preso durante a operação.
Preso três vezes desde 99 por envolvimento com tráfico, Mendonça, ou Leo, como é conhecido, conseguiu três habeas corpus -dois no TRF e um no STJ.
Esse ex-garimpeiro apresentou o traficante Fernandinho Beira-Mar às Farc (Forças Armadas Revolucionárias Colombianas), quando estavam foragidos e escondidos nas áreas de plantio e refino do colombiano Tomas Molina-Caracas, o Negro Acácio, outro traficante procurado pela DEA (agência antidrogas dos EUA), de acordo com a PF.
""Não eram sócios. Quem conhecia a região [na Colômbia" era o Leonardo", diz o delegado Ires João de Souza, 44, da Delegacia de Repressão a Entorpecente da PF em Goiás. Nesse Estado e no Pará estariam as principais áreas de atuação da quadrilha.
O grupo teria ainda ramificações nos Estados de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Amazonas, Rondônia, Roraima, Pará e Rio de Janeiro -por causa de Beira-Mar-, conforme relatório do juiz José Godinho Filho, da 5ª Vara Federal de Goiás, que decretou as prisões da Operação Diamante.
Para o juiz, o grupo de Mendonça se assemelha à máfia italiana em sua estrutura.
O Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Entorpecentes) de São Paulo investiga uma possível ligação entre Mendonça e um dos maiores traficantes do Estado, Claudair Lopes de Faria, atualmente foragido.
Ninguém tem ainda a exata noção do patrimônio arrecadado por Mendonça. A Folha apurou que ele não possui bens em seu nome, mas em nome de terceiros: sua mulher é dona de uma confecção com rede de lojas e seu filho de 13 anos, por exemplo, tem registrada uma caminhonete Pajero avaliada em R$ 109 mil.
O grupo do traficante negocia drogas e armas dentro e fora do Brasil. Neste ano, ele e seu irmão Helder Dias de Mendonça, que também está preso, acertaram a venda de 3.000 kg de cocaína para um traficante da Venezuela, conhecido como Mário, a um preço estimado de US$ 25 mil o quilo da droga refinada.
Durante a investigação, a polícia rastreou o pagamento de Mendonça a Beira-mar de uma dívida de cerca de R$ 1,5 milhão, referente a encomendas de drogas. Na negociação, o advogado Denis Gonçalves, preso por suposta participação no esquema, teria recebido uma casa em Goiânia, avaliada em US$ 200 mil.
De acordo com o Ministério Público Federal, Mendonça se utilizava da compra de terras e gado para lavar o dinheiro. Em cinco depósitos recebidos de Beira-Mar, ele teria repassado cerca de R$ 72 mil para adquirir gado.


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