Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENTREVISTA - GILBERTO KASSAB
Saúde e educação são os piores problemas de SP
Prefeito criticou a gestão Marta Suplicy
(PT), possível adversária na eleição, e
disse que fará mais CEUs do que ela
ROGÉRIO GENTILE
EDITOR DE COTIDIANO
EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O PREFEITO GILBERTO KASSAB (DEM)
considera a educação e a saúde como os
piores problemas de São Paulo. Na resposta ao questionamento da Folha, deu
maior ênfase à educação que, segundo ele, atinge
metade da população da cidade -incluindo os pais.
Kassab recebeu ontem a Folha pouco antes de se
encontrar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na inauguração de uma unidade do INSS, a quem
elogiou. Na entrevista, evitou falar sobre candidatura à reeleição, mas disse que começará a discutir o
assunto no início de 2008. Questionado, criticou a
gestão de Marta Suplicy, possível adversária na eleição, e disse que fará mais CEUs do que ela.
FOLHA - O que falta para o senhor decidir se será candidato ou não?
GILBERTO KASSAB - Ninguém me
cobra essa questão de posicionamento nas eleições. Até porque não está na pauta. O melhor
indicativo de que a decisão é
correta, de começar a refletir sobre o tema [só] ano que vem, é a
população, que não me cobra.
FOLHA - Qual é o prazo?
KASSAB - No início do ano você
começa a fazer umas análises.
FOLHA - O senhor tem mais medo
da Marta ou de Alckmin?
KASSAB - Não me preocupo,
porque não está na pauta. Para
se preocupar, você precisa de
uma análise maior. Eu não tenho feito nenhuma análise.
FOLHA - É possível que PSDB e DEM
tenham duas candidaturas?
KASSAB - Nunca os Democratas
e o PSDB tiveram uma aliança
tão sólida. Juntos, elegeram
Serra e eu à prefeitura; juntos,
elegeram Serra e Goldman, e
quase elegeram o Afif; juntos,
fazem oposição ao governo federal. É muito natural que existam, quando o assunto começar
a ser discutido, critérios que
procurem direcionar para a
manutenção da aliança.
FOLHA - Do lado do PT, quem será
candidato? Marta?
KASSAB - Acho que o PT não
tem essa definição. Até porque
eles estão vivendo um processo
de eleição interna. Eu, pelo menos, não tenho conhecimento
de nenhuma discussão.
FOLHA - A Marta não será?
KASSAB - É eventual candidata.
FOLHA - Marta foi boa prefeita?
KASSAB - Como qualquer gestão, teve seus altos e baixos. Se
achássemos que merecesse a
aprovação da cidade, o Serra
não teria sido candidato para
enfrentá-la. É evidente que temos muitas discordâncias.
FOLHA - Onde ela foi mal?
KASSAB - No campo social, na
saúde, educação.
FOLHA - Ela fez os CEUs.
KASSAB - Ela fez 21, nós faremos 25. Na área social, foi uma
gestão que teve dificuldades
para apresentar resultados expressivos.
FOLHA - E onde ela foi bem?
KASSAB - É difícil identificar
avanços. Acho que [o governo
Marta] foi positivo para a cidade, mas faltaram muitas ações
para aperfeiçoar, talvez no
campo... Mesmo no campo dos
corredores de ônibus, eu ia falar, mas não... É difícil elogiar
uma gestão de que você discorda e, por isso, apresentou uma
alternativa: o Serra e eu, como
vice. Então você tem dificuldades para elogiar.
FOLHA - Não há continuidade de
projetos, como os CEUs?
KASSAB - Sim. Aliás, não paramos nada.
FOLHA - O Serra tinha parado.
KASSAB - Imagina. O Serra começou 5 dos 25.
FOLHA - E fez duras críticas, dizendo que era caro, desnecessário.
KASSAB - Também faço. Nós
mudamos o projeto. Hoje eles
são mais bem distribuídos, cabem mais alunos, são projetos
mais inteligentes, [têm] manutenção mais barata.
FOLHA - Por que São Paulo vai tão
mal nas avaliações escolares?
KASSAB - A complexidade de
administrar São Paulo é muito
maior do que qualquer outra cidade. Também no campo da
educação. Nós temos, na cidade
de São Paulo, 2,2 milhões alunos, metade na prefeitura, metade no Estado. Nas administrações anteriores, faltou priorizar o social: saúde, educação e
assistência social. É evidente
que os resultados, se essa priorização tivesse acontecido, seriam bem melhores.
FOLHA - Quando o senhor acha
que os resultados vão aparecer?
KASSAB - Não é possível que
não melhore quando você dá
uma atenção, uma prioridade,
como nós estamos dando nesta
administração. São inúmeras
ações muito expressivas. Como
as condições serão melhores, os
resultados vão ser melhores.
FOLHA - Qual é o maior problema
de São Paulo?
KASSAB - Saúde e educação,
quando a gente fala de 2,2 milhões de crianças na rede pública. Uma continha: bota só pais e
mães, sobe para 5,3 milhões
com nome, endereço, RG. Pai,
mãe e aluno. É metade da população da cidade. É evidente
que elas não estão tendo o ensino público que a cidade poderia
oferecer. E, muito provavelmente, são essas pessoas que
precisam de saúde pública.
FOLHA - Por que o projeto da cracolândia está demorando tanto?
KASSAB - Nova Luz? Não existe,
acabou cracolândia.
FOLHA - Se o senhor passar ali depois das 21h, vai ver que existe cracolândia ainda.
KASSAB - Você tem um imóvel
seu, o poder público chega, desapropria e estipula um valor.
Você tem o direito de contestar.
É a democracia. A primeira fase
é lenta. Agora, já avançamos
muito nesta primeira fase.
FOLHA - Dá para levar a sério uma
Câmara que, no mesmo dia, aprova
o rodízio e acaba com ele?
KASSAB - Estava tão equivocada essa postura da Câmara, que
o vereador [Ricardo Teixeira,
PSDB] retirou o projeto.
FOLHA - Isso não elimina a sensação de que a Câmara vota de acordo
apenas com compromissos políticos. A maioria dos parlamentares
nem leu o que votou.
KASSAB - Prefiro fazer uma
análise diferente. O Legislativo
paga o preço dos seus equívocos perante a opinião pública.
As eleições são feitas para ratificar os mandatos ou não, renovar, mudar. Mas também tem o
lado positivo. Os bons projetos
foram aprovados. Eu falo no
campo da saúde, por exemplo.
As parcerias com as organizações sociais. E foi um projeto
aprovado pela Câmara. A criação das AMAs [Assistência Médica Ambulatorial, que tem como função o atendimento não
agendado de pacientes portadores de patologias de baixa e
média complexidade]. Então,
errou a Câmara com a aprovação [dos projetos do rodízio],
lógico que errou. Tanto errou,
que ela voltou atrás. E, se não
voltasse, pagaria pelo erro.
FOLHA - O fim da CPMF atrapalha
sua gestão em alguma coisa?
KASSAB - O governo federal vai
ter que redimensionar os seus
gastos. Essa resposta é muito
difícil de dar porque cabe ao governo, depois, avaliar onde, e o
presidente Lula tem tido muito
bom senso e uma excelente relação conosco. Se tiver que fazer cortes, ele vai fazer cortes
em algo que ele acha que vai ser
menos nocivo para o desenvolvimento do seu programa.
FOLHA - O senhor acha que o Congresso agiu certo ou foi um erro?
KASSAB - O Congresso e o Poder Executivo erram na medida
em que eles não fazem a reforma tributária. Toda essa polêmica em relação à CPMF não
existiria se tivesse sido feita a
reforma tributária.
FOLHA - Não haverá redução de repasse para a prefeitura?
KASSAB - Confio no bom senso
do presidente. O que tem sido
importante fazer, em São Paulo, ele tem feito.
FOLHA - Por exemplo, as AMAs, o
senhor tem quase 50 a fazer para
cumprir a meta.
KASSAB - Já estou inaugurando
algumas neste ano. Até março a
meta é inaugurar cem.
FOLHA - É a principal medida de
seu governo?
KASSAB - Acho que tem um
conjunto de projetos que sinto
que têm uma avaliação muito
positiva. As AMAs, a construção de dois novos hospitais
-M'Boi Mirim e Cidade Tiradentes-, a informatização da
rede. Há três anos, faltava remédio todo dia. Há quanto
tempo, na Folha, vocês não dão
notícias de que falta remédio?
A reforma das UBSs, a construção de 25 CEUs no contexto de
acabar com o terceiro turno, de
quase 200 escolas, a reforma e
manutenção. A Cidade Limpa.
FOLHA - O que o sr. está lendo?
KASSAB - No momento? Prefeitura, prefeitura, prefeitura.
FOLHA - Não dá para ler?
KASSAB - Até daria, mas no momento, não.
FOLHA - Vida particular fica completamente comprometida?
KASSAB - A vida particular é
muito integrada com a vida do
prefeito. Você vai a uma peça de
teatro, mas a peça faz parte do
calendário da prefeitura, vai ao
cinema, é a Mostra Internacional de Cinema. Confunde um
pouco, mas é gratificante.
FOLHA - Os vizinhos batem na porta para pedir as coisas?
KASSAB - Não. Mas também
quase não fico em casa.
FOLHA - Reclamaram da obra do
shopping Iguatemi. Está resolvido o
problema?
KASSAB - Não me envolvi nisso.
Achei que não seria ético.
Texto Anterior: Engenheiro morre após seu carro capotar e cair no rio Tamanduateí Próximo Texto: Frases Índice
|