São Paulo, sábado, 15 de dezembro de 2007

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ENTREVISTA - GILBERTO KASSAB

Saúde e educação são os piores problemas de SP

Prefeito criticou a gestão Marta Suplicy (PT), possível adversária na eleição, e disse que fará mais CEUs do que ela

ROGÉRIO GENTILE
EDITOR DE COTIDIANO

EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O PREFEITO GILBERTO KASSAB (DEM) considera a educação e a saúde como os piores problemas de São Paulo. Na resposta ao questionamento da Folha, deu maior ênfase à educação que, segundo ele, atinge metade da população da cidade -incluindo os pais.
Kassab recebeu ontem a Folha pouco antes de se encontrar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na inauguração de uma unidade do INSS, a quem elogiou. Na entrevista, evitou falar sobre candidatura à reeleição, mas disse que começará a discutir o assunto no início de 2008. Questionado, criticou a gestão de Marta Suplicy, possível adversária na eleição, e disse que fará mais CEUs do que ela.

FOLHA - O que falta para o senhor decidir se será candidato ou não?
GILBERTO KASSAB -
Ninguém me cobra essa questão de posicionamento nas eleições. Até porque não está na pauta. O melhor indicativo de que a decisão é correta, de começar a refletir sobre o tema [só] ano que vem, é a população, que não me cobra.

FOLHA - Qual é o prazo?
KASSAB -
No início do ano você começa a fazer umas análises.

FOLHA - O senhor tem mais medo da Marta ou de Alckmin?
KASSAB -
Não me preocupo, porque não está na pauta. Para se preocupar, você precisa de uma análise maior. Eu não tenho feito nenhuma análise.

FOLHA - É possível que PSDB e DEM tenham duas candidaturas?
KASSAB -
Nunca os Democratas e o PSDB tiveram uma aliança tão sólida. Juntos, elegeram Serra e eu à prefeitura; juntos, elegeram Serra e Goldman, e quase elegeram o Afif; juntos, fazem oposição ao governo federal. É muito natural que existam, quando o assunto começar a ser discutido, critérios que procurem direcionar para a manutenção da aliança.

FOLHA - Do lado do PT, quem será candidato? Marta?
KASSAB -
Acho que o PT não tem essa definição. Até porque eles estão vivendo um processo de eleição interna. Eu, pelo menos, não tenho conhecimento de nenhuma discussão.

FOLHA - A Marta não será?
KASSAB -
É eventual candidata.

FOLHA - Marta foi boa prefeita?
KASSAB -
Como qualquer gestão, teve seus altos e baixos. Se achássemos que merecesse a aprovação da cidade, o Serra não teria sido candidato para enfrentá-la. É evidente que temos muitas discordâncias.

FOLHA - Onde ela foi mal?
KASSAB -
No campo social, na saúde, educação.

FOLHA - Ela fez os CEUs.
KASSAB -
Ela fez 21, nós faremos 25. Na área social, foi uma gestão que teve dificuldades para apresentar resultados expressivos.

FOLHA - E onde ela foi bem?
KASSAB -
É difícil identificar avanços. Acho que [o governo Marta] foi positivo para a cidade, mas faltaram muitas ações para aperfeiçoar, talvez no campo... Mesmo no campo dos corredores de ônibus, eu ia falar, mas não... É difícil elogiar uma gestão de que você discorda e, por isso, apresentou uma alternativa: o Serra e eu, como vice. Então você tem dificuldades para elogiar.

FOLHA - Não há continuidade de projetos, como os CEUs?
KASSAB -
Sim. Aliás, não paramos nada.

FOLHA - O Serra tinha parado.
KASSAB -
Imagina. O Serra começou 5 dos 25.

FOLHA - E fez duras críticas, dizendo que era caro, desnecessário.
KASSAB -
Também faço. Nós mudamos o projeto. Hoje eles são mais bem distribuídos, cabem mais alunos, são projetos mais inteligentes, [têm] manutenção mais barata.

FOLHA - Por que São Paulo vai tão mal nas avaliações escolares?
KASSAB -
A complexidade de administrar São Paulo é muito maior do que qualquer outra cidade. Também no campo da educação. Nós temos, na cidade de São Paulo, 2,2 milhões alunos, metade na prefeitura, metade no Estado. Nas administrações anteriores, faltou priorizar o social: saúde, educação e assistência social. É evidente que os resultados, se essa priorização tivesse acontecido, seriam bem melhores.

FOLHA - Quando o senhor acha que os resultados vão aparecer?
KASSAB -
Não é possível que não melhore quando você dá uma atenção, uma prioridade, como nós estamos dando nesta administração. São inúmeras ações muito expressivas. Como as condições serão melhores, os resultados vão ser melhores.

FOLHA - Qual é o maior problema de São Paulo?
KASSAB -
Saúde e educação, quando a gente fala de 2,2 milhões de crianças na rede pública. Uma continha: bota só pais e mães, sobe para 5,3 milhões com nome, endereço, RG. Pai, mãe e aluno. É metade da população da cidade. É evidente que elas não estão tendo o ensino público que a cidade poderia oferecer. E, muito provavelmente, são essas pessoas que precisam de saúde pública.

FOLHA - Por que o projeto da cracolândia está demorando tanto?
KASSAB -
Nova Luz? Não existe, acabou cracolândia.

FOLHA - Se o senhor passar ali depois das 21h, vai ver que existe cracolândia ainda.
KASSAB -
Você tem um imóvel seu, o poder público chega, desapropria e estipula um valor. Você tem o direito de contestar. É a democracia. A primeira fase é lenta. Agora, já avançamos muito nesta primeira fase.

FOLHA - Dá para levar a sério uma Câmara que, no mesmo dia, aprova o rodízio e acaba com ele?
KASSAB -
Estava tão equivocada essa postura da Câmara, que o vereador [Ricardo Teixeira, PSDB] retirou o projeto.

FOLHA - Isso não elimina a sensação de que a Câmara vota de acordo apenas com compromissos políticos. A maioria dos parlamentares nem leu o que votou.
KASSAB -
Prefiro fazer uma análise diferente. O Legislativo paga o preço dos seus equívocos perante a opinião pública. As eleições são feitas para ratificar os mandatos ou não, renovar, mudar. Mas também tem o lado positivo. Os bons projetos foram aprovados. Eu falo no campo da saúde, por exemplo. As parcerias com as organizações sociais. E foi um projeto aprovado pela Câmara. A criação das AMAs [Assistência Médica Ambulatorial, que tem como função o atendimento não agendado de pacientes portadores de patologias de baixa e média complexidade]. Então, errou a Câmara com a aprovação [dos projetos do rodízio], lógico que errou. Tanto errou, que ela voltou atrás. E, se não voltasse, pagaria pelo erro.

FOLHA - O fim da CPMF atrapalha sua gestão em alguma coisa?
KASSAB -
O governo federal vai ter que redimensionar os seus gastos. Essa resposta é muito difícil de dar porque cabe ao governo, depois, avaliar onde, e o presidente Lula tem tido muito bom senso e uma excelente relação conosco. Se tiver que fazer cortes, ele vai fazer cortes em algo que ele acha que vai ser menos nocivo para o desenvolvimento do seu programa.

FOLHA - O senhor acha que o Congresso agiu certo ou foi um erro?
KASSAB -
O Congresso e o Poder Executivo erram na medida em que eles não fazem a reforma tributária. Toda essa polêmica em relação à CPMF não existiria se tivesse sido feita a reforma tributária.

FOLHA - Não haverá redução de repasse para a prefeitura?
KASSAB -
Confio no bom senso do presidente. O que tem sido importante fazer, em São Paulo, ele tem feito.

FOLHA - Por exemplo, as AMAs, o senhor tem quase 50 a fazer para cumprir a meta.
KASSAB -
Já estou inaugurando algumas neste ano. Até março a meta é inaugurar cem.

FOLHA - É a principal medida de seu governo?
KASSAB -
Acho que tem um conjunto de projetos que sinto que têm uma avaliação muito positiva. As AMAs, a construção de dois novos hospitais -M'Boi Mirim e Cidade Tiradentes-, a informatização da rede. Há três anos, faltava remédio todo dia. Há quanto tempo, na Folha, vocês não dão notícias de que falta remédio? A reforma das UBSs, a construção de 25 CEUs no contexto de acabar com o terceiro turno, de quase 200 escolas, a reforma e manutenção. A Cidade Limpa.

FOLHA - O que o sr. está lendo?
KASSAB -
No momento? Prefeitura, prefeitura, prefeitura.

FOLHA - Não dá para ler?
KASSAB -
Até daria, mas no momento, não.

FOLHA - Vida particular fica completamente comprometida?
KASSAB -
A vida particular é muito integrada com a vida do prefeito. Você vai a uma peça de teatro, mas a peça faz parte do calendário da prefeitura, vai ao cinema, é a Mostra Internacional de Cinema. Confunde um pouco, mas é gratificante.

FOLHA - Os vizinhos batem na porta para pedir as coisas?
KASSAB -
Não. Mas também quase não fico em casa.

FOLHA - Reclamaram da obra do shopping Iguatemi. Está resolvido o problema?
KASSAB -
Não me envolvi nisso. Achei que não seria ético.


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