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Sistema de ciclos não piora ensino, diz estudo
Pesquisa aponta que alunos que estudam nesse método apresentam notas bastante semelhantes às dos alunos do sistema seriado
Nos ciclos, estudantes não podem ser reprovados em todas as séries; sistema tem taxas menores de evasão e de repetência de alunos
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Poucos debates educacionais
mobilizaram tanto recentemente a sociedade quanto a
adoção do sistema de ciclos.
Objeto de discussões acaloradas em debates eleitorais, muitos políticos acusaram o modelo de ter piorado a qualidade de
ensino com a "aprovação automática" de alunos sem base.
Um estudo a partir do desempenho de estudantes na
Prova Brasil (avaliação do MEC
que monitora a performance de
alunos em português e matemática) traz um pouco de luz à
discussão, mostrando que praticamente não há diferença nas
notas em sistemas de ciclos
-em que a reprovação não
ocorre todo ano- e seriados.
O trabalho foi elaborado pelos pesquisadores Naércio Menezes Filho (USP e Ibmec), Lígia Vasconcellos, Sérgio Werlang e Roberta Biondi (os três
últimos do Banco Itaú).
Pela primeira vez, eles utilizaram dados da Prova Brasil
para comparar os sistemas.
A primeira comparação feita
pelos autores do estudo é favorável aos alunos no sistema de
ciclos, pois mostra que o desempenho deles nas provas de
português e matemática é melhor, variando de uma diferença de 0,9% (na prova de matemática na 8ª série) para 4,4%
(em português na 4ª série).
Nível socioeconômico
Isso, no entanto, não é suficiente para comprovar que o
sistema de ciclos seja melhor, já
que a diferença poderia ser devida ao fato de esses estudantes
terem nível socioeconômico
mais elevado e estarem em escolas mais bem equipadas.
Para captar melhor o efeito
dos ciclos, os autores refizeram
o cálculo, mas, desta vez, levando em consideração características das escolas e das famílias
-que, já se sabe, têm peso significativo no rendimento.
Em outras palavras, eles
comparam estudantes nas
mesmas condições e com mesmas características.
O resultado mostra que a diferença passa a ser favorável a
alunos no sistema seriado, mas
é mínima. Na 4ª série, as notas
dos estudantes em escolas que
adotam o sistema seriado foi
apenas 1% superior, diferença
que fica dentro da margem de
erro do levantamento.
Já na 8ª série, a diferença é
um pouco maior: 1,8% em matemática e 1,4% em português.
Os autores do estudo fazem
uma leitura favorável desses
dados ao sistema de ciclos. Eles
mostram que as taxas de reprovação e abandono são menores
nesse regime, o que faz com que
mais alunos consigam completar o ensino fundamental.
Argumentam ainda que,
mesmo com a queda na qualidade, os efeitos futuros no rendimento de um estudante formado no sistema de ciclos compensam a pequena perda de
rendimento, já que, quanto
mais escolarizado, maior é a
renda do trabalhador.
Eles levantam duas hipóteses para o desempenho ligeiramente menor na 8ª série. A primeira é que, no sistema de ciclos, há menos empenho do estudante ao saber que ele não será reprovado todo ano.
A segunda é que, nesse regime, mais alunos de menor nível
socioeconômico conseguem
chegar à 8ª série, o que acaba
tendo impacto nas médias da
turma. No sistema seriado, argumentam, esses jovens provavelmente já teriam abandonado a escola ou estariam retidos
em séries mais atrasadas.
Lígia Vasconcellos diz que
não deve se esperar que a simples adoção de ciclos aumente o
desempenho. "É preciso ter
mais qualidade, mas não é a
progressão continuada que vai
explicar a melhora ou a piora."
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